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Mercado de Capitais

- Publicada em 29 de Maio de 2016 às 23:31

Mercado deve ter semana tensa

A tensão deve dar a tônica do mercado econômico nesta semana, efeito tanto do cenário interno quanto de decisões internacionais que interferem nos investimentos alocados no Brasil. Diálogos entre integrantes do PMDB e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, divulgados ao longo da última semana, ainda estão sendo assimilados por analistas e investidores, que já começam a observar o desenrolar dos fatos com pessimismo.
A tensão deve dar a tônica do mercado econômico nesta semana, efeito tanto do cenário interno quanto de decisões internacionais que interferem nos investimentos alocados no Brasil. Diálogos entre integrantes do PMDB e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, divulgados ao longo da última semana, ainda estão sendo assimilados por analistas e investidores, que já começam a observar o desenrolar dos fatos com pessimismo.
Para o início desta semana, a perspectiva é de alta do dólar e queda do Ibovespa, gerando uma reversão do que era esperado antes do impeachment pelos investidores. "Esta segunda-feira deve ser um dia bastante tenso", projeta o sócio-fundador do Grupo L&S, Alexandre Wolwacz. "Infelizmente, o mercado está começando a considerar seriamente a possibilidade de que o impeachment não seja concluído", avalia.
O pessimismo vem de conversas divulgadas na imprensa que estão levando à fragilidade a gestão de Michel Temer (PMDB). As gravações que começaram a ser repercutidas na segunda-feira já provocaram o afastamento o ministro do Planejamento, Romero Jucá (PMDB), investigado na Operação Lava Jato. Jucá, na conversa com Machado, revela o interesse em "estancar essa sangria" - fala que foi interpretada como articulação para enfraquecer a Lava Jato.
Nos dias seguintes, a divulgação de conversas gravadas por Machado atingiram também o presidente do Senado, Renan Calheiros, e o ex-presidente José Sarney, ambos quadros importantes do PMDB. Esses fatos acabaram se sobrepondo, inclusive, ao anúncio das medidas econômicas propostas pelo governo interino.
Na terça-feira, quando Temer e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, detalharam o programa, os indicadores econômicos, imediatamente, refletiram o otimismo dos investidores, que, no primeiro momento, denotaram certa euforia - contida, porém, no decorrer do mesmo dia com a percepção de que as medidas ainda dependem de avaliação e aprovação no Legislativo. O problema é que nos dias posteriores, a questão política começou a ganhar maior destaque, puxando para baixo essa expectativa.
Como efeito, a semana terminou com a bolsa brasileira encerrando a sexta-feira em queda de 0,87%, aos 49.051 pontos, a menor cotação desde 7 de abril, quando atingiu os 48.513 pontos. A perspectiva de alta da taxa de juros nos Estados Unidos também interferiu no resultado. "Agora, entramos numa tendência de baixa, com pressão de venda entre as ações e compradora para o dólar", pontua Wolwacz. A semana deve começar "bastante tensa", projeta, com tendência a acentuar os resultados de sexta-feira, minimizados pelo feriado prolongado.
Na análise do economista Sidnei Moura Nehme, diretor executivo da NGO Corretora de Câmbio, "os fatos internos do Brasil no momento predominam sobre os eventualmente externos". O risco do que ele chama de "tiroteio entre parceiros" é o de que o próprio Temer possa ser atingido. "Patina no campo político o novo governo e isto pode e deve afetar apoios necessários para as medidas imprescindíveis no campo econômico", cita.
A saída desse labirinto passa por decisões fortes do presidente interino, destacam os analistas. Nehme defende "que o governo aja com precisão, embora sabendo que não tem capacidade de interferir na Lava Jato, que no fundo é o que a grande maioria dos políticos em torno do atual governo teme e não pode evitar".
Wolwacz vê "pouquíssimas saídas". "Como estamos falando de credibilidade e confiança, as medidas teriam que ser muito duras com toda e qualquer pessoa", sustenta. "Como é algo disseminado é pouco provável que haja o rigor necessário contra todos." Depois de passar 2015 em meio às turbulências da instabilidade brasileira, os investidores, que em certa medida enxergaram alguma estabilidade com o afastamento de Dilma Rousseff, começam a questionar essa crença.

No câmbio, especialistas apontam tendência de alta do dólar durante o mês de junho

A moeda americana começou o ano cotada acima dos R$ 4,00, patamar que já havia sido atingido no segundo semestre do ano passado. Porém, na medida em que o processo de impedimento de Dilma avançava no Congresso, a reação positiva do mercado puxava o dólar para baixo. Entre altas e baixas, o dólar ficou abaixo de R$ 3,60 a partir de abril, período mais crítico para o governo do PT.
Com as votações favoráveis ao impedimento de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, a moeda permaneceu cotada abaixo de R$ 3,60 desde meados de abril, mantendo-se, mesmo diante das oscilações, nesse mesmo nível após o início do governo interino de Michel Temer. Isso durou até sexta-feira, quando o dólar bateu novamente em
R$ 3,60, mostrando uma reversão na tendência de baixa, esperada pelos analistas de mercado com ascensão do novo governo.
"Vai subir, isso é fato", sustenta Aldrey Zago Menezes, sócia-diretora da AZM Assessoria em Câmbio. "Temos que entrar no sistema de alerta, uma vez que nossos investidores são estrangeiros", frisa. O apetite dos investidores em manter recursos aportados no País tende a reduzir frente a fragilidade do governo Temer, após indícios de vínculo entre integrantes do PMDB em articulações para enfraquecer o combate à corrupção.
Influencia também na decisão de escolha dos investidores a perspectiva de aumento da taxa de juros americana, sinalizada na sexta-feira pela presidente do Federal Reserve (FED), Janet Yellen. A alta pode vir ainda em junho, elevando ainda mais a pressão sobre o real. O Comitê de Política Monetária do FED se reúne nos dias 14 e 15 de junho e depois, novamente, em 26 e 27 de julho - analistas não descartam a possibilidade de que em uma dessas reuniões a elevação já seja anunciada.
"A economia continua melhorando", disse Janet Yellen, na tarde de sexta-feira, na Universidade Harvard, em Massachusetts. Ela afirmou, ainda, que se a economia e o mercado de trabalho seguirem em melhora, a alta dos juros será apropriada "nos próximos meses". Com a declaração, o dólar encerrou o dia cotado a R$ 3,608 na compra e a R$ 3,610 na venda - valorização de 0,30% ante o real nesta sexta-feira e de 2,61% na semana.
"A semana vai iniciar tensa", aponta Aldrey. Sobre o contexto político, ela reforça que os áudios divulgados na última semana tendem a reforçar a propensão dos investidores buscarem outros mercados para investir. "O que vem sendo demonstrado é que há mais fatos a serem divulgados e que podem comprometer ainda mais esse contexto", avalia.
Por isso, a semana começa em meio a incertezas, e a segunda-feira deve registrar mais acentuadamente o mau humor do mercado com o contexto político. "Para completar, ainda não sabemos como o novo presidente do Banco Central vai agir", argumenta. Durante o comando de Dilma Rousseff, o Banco Central vinha intervindo para controlar as oscilações com operações de swap cambial.
Para quem tem viagem internacional agendada ou precisa adquirir a moeda americana, Aldrey aconselha que a compra seja feita aos poucos para configurar uma média razoável ao longo do tempo. Ou seja, é importante aproveitar cada baixa da cotação para fazer a aquisição. Isso só não vale para quem tem um prazo muito curto, que será mais beneficiado se comprar dólar na primeira oportunidade de queda. A sinalização de alta de juros nos Estados Unidos também acende outro alerta: no momento em que a elevação for anunciada, a perspectiva é que haja um pico de alta no dólar. Por isso, é importante ficar atento às datas das próximas reuniões do comitê do FED.