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Cinema

- Publicada em 12 de Maio de 2016 às 23:01

Volta às origens

O cinema argentino, que nos últimos anos tem obtido prestígio internacional e, aqui no Brasil, seduzido críticos e espectadores, volta a revelar algumas de suas melhores características com este O décimo homem, no qual Daniel Burman volta a desenvolver o seu tema predileto, o da família que se recompõe e o de um mundo que volta à sua forma original depois de algumas ameaças. O cinema argentino, é claro, como salientou o ator Ricardo Darín em entrevista concedida a um jornal brasileiro, não é feito apenas de filmes como os que têm chegado ao nosso mercado exibidor. Mas não há dúvida alguma que aqueles que o espectador brasileiro tem tido oportunidade de ver exibem qualidades indiscutíveis e se estruturam a partir da mais importante das bases, aquela que elege o personagem real como ponto de partida. A história do cinema demonstra que mesmo aqueles filmes que criaram uma nova linguagem colocaram como centro de tudo seres humanos e não títeres comandados por realizadores que costumam esconder a falta de talento e a dificuldade de dialogar com o público com a utilização da poluição sonora e da artificialidade. Cidadão Kane e Hiroshima, meu amor foram revolucionários na forma, mas não se afastaram do personagem. Criaram alegorias reveladoras com a utilização de figuras humanas.
O cinema argentino, que nos últimos anos tem obtido prestígio internacional e, aqui no Brasil, seduzido críticos e espectadores, volta a revelar algumas de suas melhores características com este O décimo homem, no qual Daniel Burman volta a desenvolver o seu tema predileto, o da família que se recompõe e o de um mundo que volta à sua forma original depois de algumas ameaças. O cinema argentino, é claro, como salientou o ator Ricardo Darín em entrevista concedida a um jornal brasileiro, não é feito apenas de filmes como os que têm chegado ao nosso mercado exibidor. Mas não há dúvida alguma que aqueles que o espectador brasileiro tem tido oportunidade de ver exibem qualidades indiscutíveis e se estruturam a partir da mais importante das bases, aquela que elege o personagem real como ponto de partida. A história do cinema demonstra que mesmo aqueles filmes que criaram uma nova linguagem colocaram como centro de tudo seres humanos e não títeres comandados por realizadores que costumam esconder a falta de talento e a dificuldade de dialogar com o público com a utilização da poluição sonora e da artificialidade. Cidadão Kane e Hiroshima, meu amor foram revolucionários na forma, mas não se afastaram do personagem. Criaram alegorias reveladoras com a utilização de figuras humanas.
O novo filme de Burman começa nos Estados Unidos, onde vive o protagonista, um economista argentino que se afastou do país em busca de espaço e futuro. Ele está prestes a voltar por alguns dias à Argentina, a fim de rever o pai e a ele apresentar a companheira, uma bailarina que está aguardando um teste com um coreógrafo europeu, algo que também deverá modificar sua carreira. Ariel, este personagem, termina viajando sozinho. Burman, que também escreve o roteiro de seus filmes, desde a primeira cena, revela o tema central da obra, quando o personagem fala ao telefone com o pai e recebe uma ordem para comprar um sapato com determinadas características. O tom autoritário da mensagem não deixa dúvida sobre os motivos da fuga de Ariel. Ele procurou escapar de um cenário não apenas desfavorável: também impulsionou o desejo de se afastar de uma presença dominadora, mesmo que, para isso, a solidão tenha sido o resultado. Tudo é realçado pelo fato de o pai praticamente não aparecer em cena durante o restante do filme, passado num bairro judeu de Buenos Aires, onde ele é conhecido como El rei del Once, título original do filme. A figura paterna realmente é soberana no cenário, mantendo uma fundação que atende à comunidade em vários aspectos.
A solidão do personagem principal é também acentuada pelo fato de igualmente não aparecer em cena a mulher que ele deixa no exterior. Todo o contato é feito através do celular, este instrumento hoje indispensável e que tanto incomoda espectadores de cinema quando pessoas sem a noção de onde estão perturbam o ambiente lendo mensagens na tela luminosa de seus aparelhos, como se estivessem mais interessados nelas do que no filme que está sendo projetado. E há também a mulher silenciosa, que parece representar um mundo com o qual Ariel não consegue um diálogo. Quando pai aparece, fica ainda mais acentuada a agressividade da figura paterna. Mas, aos poucos, o protagonista vai se reintegrando ao mundo, e o filme claramente se concluiu com a recuperação de uma harmonia perdida. Mas não é com a figura do pai que tal acontece. É Ariel que se transforma num príncipe que passa a ocupar o trono, como se outra geração e outros valores passassem a comandar as ações. Ele aparece, então, como o homem do título brasileiro, aquele que faz com que esteja completo o grupo dos que sepultarão o passado. Uma nova era começa. Porém, ela só tem início com a volta às origens, o retorno ao autêntico. O mundo focalizado por Burman é dominado pelo caos, algo que é evidente nas cenas diante da fundação comandada pelo pai e também nas cenas exteriores, nas quais Ariel chega a ser assaltado. Mas, aos poucos, na medida em que o silêncio da mulher começa a se desfazer, a ordem também se instala, e um mundo é recomposto.
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