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Montadoras

- Publicada em 13 de Maio de 2016 às 18:04

Em um ano, 11,2 mil demissões nas montadoras

Fábricas de automóveis brasileiras estão operando com metade da capacidade, e recuperação está prevista para um prazo de pelo menos 10 anos

Fábricas de automóveis brasileiras estão operando com metade da capacidade, e recuperação está prevista para um prazo de pelo menos 10 anos


CHERY/DIVULGAÇÃO/JC
Nos últimos 12 meses, as montadoras demitiram 11,2 mil trabalhadores, 1,4 mil deles neste ano. Atualmente, há 36,5 mil funcionários no Programa de Proteção ao Emprego (PPE), com jornada e salários reduzidos, e outros 6,3 mil em lay-off (contratos suspensos), o equivalente a 32% da mão de obra do setor, de 128,4 mil pessoas. "Vai chegar um momento em que parte desse pessoal afastado será demitido", admite João Morais, economista da Tendências Consultoria, especializado no setor automotivo.
Nos últimos 12 meses, as montadoras demitiram 11,2 mil trabalhadores, 1,4 mil deles neste ano. Atualmente, há 36,5 mil funcionários no Programa de Proteção ao Emprego (PPE), com jornada e salários reduzidos, e outros 6,3 mil em lay-off (contratos suspensos), o equivalente a 32% da mão de obra do setor, de 128,4 mil pessoas. "Vai chegar um momento em que parte desse pessoal afastado será demitido", admite João Morais, economista da Tendências Consultoria, especializado no setor automotivo.
Segundo ele, mesmo que comece a ocorrer uma recuperação do mercado no próximo ano, vai levar ao menos uma década para que o setor volte a operar com níveis mais elevados de sua capacidade produtiva. As montadoras, de acordo com cálculos da Tendências, têm capacidade para produzir cerca de 4,5 milhões de veículos e, neste ano, deve fabricar metade disso.
"A indústria automobilística brasileira atingiu vendas de 3,8 milhões de veículos muito cedo, em 2012, mas foi um crescimento sem bases consistentes, ancorada no crédito fácil e no aumento da renda sem crescimento da produtividade", avalia Morais. Em sua opinião, o mercado vai demorar a recuperar esses níveis, e as fabricantes devem continuar operando com ociosidade por algum tempo.
Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, uma alternativa é o mercado externo. "As empresas devem ser mais agressivas nas exportações - buscando mercados novos - e na nacionalização de componentes." De janeiro a abril, as exportações cresceram 24,3% ante igual período de 2015, para 136,3 mil veículos, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Com a drástica queda nas vendas de veículos, que, em quatro anos, despencaram de 3,8 milhões de unidades para esperadas 2 milhões neste ano, as montadoras aproveitam para rever benefícios há tempos concedidos aos funcionários, sempre tidos como os mais bem pagos na indústria brasileira. Também tentam ajustar o quadro de trabalhadores em fábricas que operam com metade da capacidade produtiva.
Só em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, onde estão cinco das maiores fabricantes do País, há 4.170 funcionários declarados ociosos por Ford, Mercedes-Benz e Volkswagen. A Volvo, de Curitiba (PR), fala em 400 excedentes em seu quadro. Desde 2015, grande parte das montadoras não pagou o reajuste pela inflação aos salários. A Participação nos Lucros e Resultados (PLR) vem caindo, acompanhando o desempenho das empresas.
A Volvo, que em 2013 pagou R$ 30 mil em PLR aos funcionários, em 2015 entregou R$ 12 mil e, neste ano, quer que os trabalhadores abram mão de R$ 5 mil, mesmo antes de ter negociado o valor a ser pago. "Podemos até negociar esse e outros itens, mas desde que não ocorram demissões", diz o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Curitiba, Nelson Silva de Souza. "Ocorre que a empresa quer reduzir benefícios e ainda cortar 409 vagas."
Na semana passada, a fábrica de caminhões e ônibus parou pelo segundo dia seguido, em razão de protesto dos trabalhadores. Outro item que já aparece nas demandas de ao menos duas montadoras - Ford e General Motors, e também já citado pela Toyota - é o fim da estabilidade para trabalhadores com doenças profissionais. "Seria um grande retrocesso", diz o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques.
A Volkswagen pediu férias coletivas a quase 90% dos seus empregados em Taubaté, no interior de São Paulo, informou, na sexta-feira, o Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté. A fábrica da montadora na cidade conta com 4,5 mil funcionários, dos quais 4 mil entrarão em férias coletivas entre os dias 30 de maio e 18 de junho, se o pedido for aceito. Até os mecanismos adotados em períodos de crise, como o lay-off e o PPE - defendido no governo por empresas e sindicatos -, devem ser deixados de lado.
Ford e Mercedes-Benz já declararam intenção de não renová-los. "Não vamos aceitar que as empresas façam uma sangria, até porque há sinais de que o mercado vai se recuperar a partir de 2017", afirma Marques. Ele diz entender que a situação atual é grave, mas acha possível administrá-la com mecanismos como PPE, lay-off e PDVs (programas de demissão voluntária). "Mas, se as empresas insistirem (em cortes), o conflito será grande."
A Mercedes, que afirma ter 2 mil excedentes na fábrica do ABC, vai anunciar, nos próximos dias, novo plano de PDV e colocará mais um grupo de trabalhadores em licença remunerada por tempo indeterminado. A empresa já tem mais de mil operários em dispensa desde fevereiro. O PPE, que estabelece redução de jornada e salários em 20% para 8 mil trabalhadores, se encerra no fim do mês e, como não será renovado, eles voltarão a trabalhar cinco dias por semana. Hoje, trabalham quatro.
A Toyota propôs ao Sindicato os Metalúrgicos de Campinas a contratação de trabalhadores temporários para a fábrica de Indaiatuba (SP) com piso salarial de R$ 1.870,00, embora para os contratados seja de R$ 2.194,00. Hoje, a unidade opera com horas extras. A Toyota também quer aumentar o valor pago pelos trabalhadores para o vale-transporte e o vale-refeição e adotar a coparticipação no convênio médico. "Só esses três itens representam R$ 350,00 a menos no salário do trabalhador", afirma o presidente do sindicato, Sidalino Orsi Júnior.
Ford, Mercedes-Benz e Volvo também negociam com os sindicatos a flexibilização das relações trabalhistas e formas de compensação para manter empregos, mas não dão detalhes das propostas.

GM de Gravataí desliga mais 300 metalúrgicos

Fábricas de automóveis brasileiras estão operando com metade da capacidade, e recuperação está prevista para um prazo de pelo menos 10 anos

Fábricas de automóveis brasileiras estão operando com metade da capacidade, e recuperação está prevista para um prazo de pelo menos 10 anos


CHERY/DIVULGAÇÃO/JC
A montadora General Motors de Gravataí demitiu, no início do mês, 300 trabalhadores que retornariam à fábrica após um período de cinco meses de lay-off. O Sindicato dos Metalúrgicos de Gravataí (Sinmgra) abriu negociações com a direção da indústria, mas não conseguiu reverter as demissões.
Levada a questão ao Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, também não houve uma solução para o impasse. Para Valcir Ascari, presidente do Sinmgra, "ao contrário do que dizem, no primeiro trimestre deste ano, a unidade de Gravataí teve uma importante reação nas suas vendas, com 32.337 unidades de Onix e Prisma".Segundo o sindicalista, as vendas superaram os 27.480 veículos vendidos no mesmo período do ano passado.
Para o economista Ricardo Franzoi, do Dieese, nos últimos 12 meses, a montadora já havia desligado cerca de 800 funcionários, 102 deles no primeiro trimestre de 2016. "Além disso, o Onix é, hoje, o carro mais vendido no Brasil, e o Prisma também está sendo bem vendido. Parecia que o pior momento da crise da montadora já havia passado, o que deixava os trabalhadores um pouco mais esperançosos na manutenção de seus empregos."

Contra a tendência, Toyota abre fábrica

Fábricas de automóveis brasileiras estão operando com metade da capacidade, e recuperação está prevista para um prazo de pelo menos 10 anos

Fábricas de automóveis brasileiras estão operando com metade da capacidade, e recuperação está prevista para um prazo de pelo menos 10 anos


CHERY/DIVULGAÇÃO/JC
A Toyota inaugurou, na semana passada, sua fábrica de motores em Porto Feliz (SP) e, pela primeira vez desde que veio para o Brasil, em 1958, vai produzir o equipamento integralmente no País. Até agora, os propulsores para os carros da marca vinham do Japão ou eram montados parcialmente com peças importadas.
O projeto recebeu investimento de R$ 580 milhões e gerou, por enquanto, 320 empregos. Inicialmente, serão produzidos motores 1.3 e 1.5 para o Etios, fabricado em Sorocaba (SP). No futuro, poderão ser feitos motores para o sedã Corolla e para exportação.
O próximo passo da montadora será definir um novo investimento para modernizar e ampliar a fábrica de Indaiatuba (SP), onde é feito o Corolla, quinto automóvel mais vendido no País no primeiro quadrimestre. Em quatro anos, o grupo iniciará a produção de uma versão global do modelo, totalmente diferente da atual, lançada há dois anos.
"A unidade de Indaiatuba é antiga, e será exigido um investimento grande para transformá-la na fábrica que precisamos. Estamos estudando se faz sentido econômico (fazer o investimento)", disse o presidente da Toyota para a América Latina e Caribe, Steve St. Angelo.
Recentemente, o grupo investiu R$ 100 milhões na fábrica de Sorocaba, inaugurada em 2012. A capacidade produtiva do Etios passou de 84 mil para 108 mil unidades ao ano, mas a ampliação não está sendo utilizada em razão da queda do mercado automotivo. "Só estamos esperando a recuperação do mercado para apertar o botão. A fábrica e os trabalhadores estão preparados", afirmou St. Angelo.
Segundo o executivo a Toyota, que também fabrica componentes em São Bernardo do Campo (SP), não demitiu funcionários. Ao contrário do que ocorre com a maioria das montadoras, a Toyota tem estoques baixos. Segundo Miguel Fonseca, vice-presidente da empresa, o acumulado é de 3 a 17 dias e há filas de espera para algumas versões do Corolla e para o utilitário SW4, feito na Argentina.

Funcionários da Volvo paralisam, e outras empresas querem reduzir gastos

Funcionários da Volvo, que fabrica caminhões e ônibus em Curitiba (PR), suspenderam a produção na terça-feira da semana passada, em protesto contra a intenção da empresa de demitir 400 trabalhadores, de um total de 3,2 mil. Na segunda-feira, operários da Ford de São Bernardo do Campo (SP) também haviam feito uma greve de 24 horas após a empresa informar que não pretende renovar a adesão ao Programa de Proteção ao Emprego (PPE) e o lay-off (suspensão de contratos de trabalho) - ambos vencem em junho.
A montadora informou ainda ter um excedente de 1.110 trabalhadores, de um total de 4 mil. "Além das demissões, a Volvo quer que os trabalhadores abram mão até mesmo da reposição da inflação nos salários deste ano e de R$ 5 mil da Participação nos Lucros e Resultados (PLR), que ainda não tem valor definido", disse o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Curitiba, Nelson Silva de Souza. No ano passado, o pagamento do PLR foi de R$ 12 mil.
O sindicalista disse que os trabalhadores rejeitaram a proposta em assembleia na terça-feira pela manhã e também querem que, se não tiver alternativa às demissões, ao menos a empresa pague incentivos extras a quem for desligado. Os metalúrgicos marcaram outras assembleias, e a paralisação pode ser mantida, disse Souza.
Em nota, a Volvo lamentou a paralisação "feita em um período de grandes dificuldades da indústria automotiva brasileira e justamente quando a empresa vem buscando alternativas para minimizar os impactos da crise no setor".
Já o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC informou que a Ford pretende revisar cláusulas econômicas do acordo coletivo, como alterações na tabela salarial e na PLR e congelamento de salários.
"Não dá pra aceitar uma negociação sem contrapartida, que rebaixa direitos, conquistas e condições de trabalho que tanto lutamos para conseguir", disse o presidente da entidade, Rafael Marques. Ele defende a renovação do PPE e do lay-off, mecanismos adotados em períodos de crise.
A Ford apenas informou, em nota, que "está em negociação com o sindicato para tratar da significativa queda no volume de produção da indústria automotiva e os consequentes impactos na força de trabalho da empresa".
A Mercedes-Benz e a Volkswagen, ambas de São Bernardo, também afirmam ter, respectivamente, 2 mil e 1.060 trabalhadores excedentes.