Bancada gaúcha registra voto de apelo regionalista

Votos pela família e amigos, motivação frequente entre os parlamentares que votaram no domingo pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) e criticada por eleitores e analistas políticos, foram minoria nas citações feitas pelos deputados gaúchos presentes à sessão.

Apenas seis dos votos gaúchos proferidos a favor do impedimento de Dilma citaram familiares, mulher, filhos e amigos, e até um "feliz aniversário, Ana, minha neta", comemorado pelo petebista Sérgio Moraes, que votou pelo afastamento. Em vez disso, houve, entre os 22 votos gaúchos pelo "sim", 13 citações ao Rio Grande do Sul ou ao povo gaúcho. O Rio Grande do Sul foi a motivação exclusiva do deputado Covatti Filho (PP), que disse que "o meu sangue farroupilha é motivo de orgulho", assim como de Danrlei de Deus (PSD), a quem "foi dada a honra, pelo povo do Rio Grande do Sul, de estar nessa Casa". Em segundo lugar vieram 9 citações ao povo brasileiro.

Outras menções numerosas entre os partidários do impeachment dirigiram-se contra a corrupção. Cinco deputados falaram no tema. Outras citações envolveram os agricultores gaúchos, menionados pelos deputados Luís Carlos Heinze (PP) e Sérgio Moraes (PTB), que exaltou os fumicultores de Santa Cruz do Sul, sua região.

Apenas os deputados do PT votaram contra o impeachment, além de Affonso Motta (PDT), que, cumprindo determinação partidária, votou pelo "não", totalinzando 8 contrários ao processo. Nos contrastantes votos pedetistas - Pompeo de Mattos se absteve, e Giovani Cherini votou "sim", arriscando ser expulso da legenda - predominaram citações à democracia, ao Estado de Direito e ao fim da corrupção.

Os sete deputados petistas, contrários ao impedimento, votaram "não a este golpe". Entre outras citações, contando o pedetista Affonso Motta, estão 5 pela democracia e legalidade, 4 contra a corrupção, 3 em respeito ao voto dos cidadãos, 2 a favor dos pobres e trabalhadores e um para as vítimas da ditadura, lembradas pela deputada Maria do Rosário, que votou "pela democracia, pela soberania do voto popular, pela dignidade humana, por todos os que lutaram pela ditadura militar, pelo deputado cassado e morto pela ditadura militar Rubens Paiva, pelas novas gerações".

Outro recorte presente entre os votos gaúchos é dos deputados citados em delações na Operação Lava Jato e na lista divulgada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Foram cinco deputados filiados ao PP que, em sua totalidade, dedicaram seus votos ao povo gaúcho e também citaram o povo brasileiro (2), a própria família (2), os agricultores (1) e um voto contra a corrupção, dado pelo deputado Heinze, "para combater o projeto de poder e corrupção do Lula e do PT", sem citar a presidente Dilma.

Dentre os 31 deputados da bancada gaúcha, apenas José Fogaça (PMDB) não elencou os motivos pelo qual votou, em vez disso fazendo uma recomendação ao povo brasileiro. "Que o Brasil tenha responsabilidade e sabedoria coletiva para enfrentar os momentos que virão. O voto é sim."

Nenhum dos parlamentares citou a prática das pedaladas fiscais entre os motivos que os levaram a votar a favor do impeachment da presidente da República.