Uma das atrações mais tradicionais de Porto Alegre, o Brique da Redenção completou 38 anos de existência no final de março. Localizada na avenida José Bonifácio, bairro Bom Fim, e ocorrendo sempre aos domingos, a feira foi iniciada com o nome de Mercado de Pulgas e foi ganhando força e diversidade ao longo dos anos. O número de expositores, que já foi de 22 e, em época de crise, chegou a sete, hoje é de 300. De 1978 para cá, os comerciantes já enfrentaram diversas dificuldades. Atualmente, o grande problema é a falta de segurança.
José Jorge Lima Farias, de 84 anos, expõe antiguidades no Brique da Redenção desde o início da feira. "Mesmo com a falta de cuidados da prefeitura, não nos oferecendo infraestrutura adequada nem segurança, a cultura de valorizar antiguidades persiste. Porém, é inegável que estamos com um problema sério de falta de segurança. Não temos assaltos a mão armada, mas registramos muitos furtos, o que não ocorria há 15 anos", lamenta.
A impressão do expositor Vandré La Cruz Duval, de 30 anos, é a mesma. "Eu faço parte da comissão organizadora do Brique e posso afirmar que este é o ano mais catastrófico na relação da feira com o poder público. Estamos sem fiscalização e sem policiamento. Então, o Brique tem funcionado praticamente por inércia. Infelizmente, hoje, é um lugar perigoso para se ir aos domingos", observa.
O aniversário do Brique deste ano ainda não foi comemorado devido ao medo. "Não sabemos se vamos fazer algo, pois não há o que celebrar. Sempre convidamos artistas para se apresentarem aqui, fazemos desfile de carros antigos, os expositores vêm a caráter. Porém, o pessoal tem medo de organizar algo desse porte sem o apoio da polícia, da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) e da Secretaria Municipal de Indústria e Comércio (Smic)", explica Duval.
O fechamento do posto da Brigada Militar, na quinta-feira passada, aumentou o temor. "A prova disso é que o Brique costumava ir até as 18h. Agora, umas 16h, todo mundo já está indo embora. Temos medo, colegas foram assaltados a uma quadra daqui, tem gente até desistindo por causa disso, está bem complicado", resume o expositor.
Nova no Brique da Redenção, a artista plástica Maísa Stolz, de 32 anos, começou a expor seu trabalho em papel machê em dezembro. Por enquanto, não sentiu a insegurança relatada pelos colegas. "Não noto muito a falta de segurança, mas também raramente vejo alguma viatura da polícia passar por aqui", avalia.
Conforme o comandante do 9º Batalhão da Polícia Militar (BPM), tenente-coronel Marcus Vinicius Gonçalves, o fechamento do posto localizado na José Bonifácio, em frente à avenida Osvaldo Aranha, servirá para que o policiamento seja mais efetivo. "O posto não dava segurança nenhuma. Os policiais precisavam ficar ali dentro e, por isso, não andavam pelas ruas. A ideia é que a medida gere proatividade no nosso efetivo", aponta.
Até o momento, a mudança tem tido um saldo positivo, de acordo com o tenente-coronel. "Tínhamos muitos assaltos em paradas de ônibus, por exemplo. Desde quinta-feira, não tivemos mais reclamações, simplesmente por ter destacado um policial para ficar próximo às paradas. Das 18h30min às 23h30min, aproximamos o policial da rua Sarmento Leite com a Osvaldo Aranha, a fim de acompanhar a saída das aulas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), e recebemos até elogios da reitoria da universidade", ressalta.
Mesmo assim, o comandante deixa claro que o Brique será priorizado no policiamento. "Todos sabemos que o efetivo está escasso, mas estamos buscando focar nas áreas de mais risco. Antes, não tínhamos policiais ali aos fins de semana. Agora, temos. Não temos registros significativos de assaltos durante a feira e, desde outubro do ano passado, quando assumi como comandante, os feirantes não me procuraram. Isso não quer dizer que não haja esse problema, mas a ideia é melhorarmos o policiamento remanejando os policiais", defende.