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Varejo

- Publicada em 03 de Abril de 2016 às 19:20

Shoppings sofrem com fechamento de lojas

Pontos ociosos somam área de 1,7 milhão de m², o equivalente a 58 vezes o tamanho do Pátio Higienópolis

Pontos ociosos somam área de 1,7 milhão de m², o equivalente a 58 vezes o tamanho do Pátio Higienópolis


SHOPPING HIGIENÓPOLIS/DIVULGAÇÃO/JC
Uma nova categoria de shopping centers se espalhou pelo País nos últimos anos, com praças de alimentação vazias e tapumes no lugar de vitrines. São os "shoppings-fantasmas". Hoje, quase metade das lojas dos empreendimentos novos, inaugurados a partir de 2012, está fechada. Se considerados todos os 498 shopping centers em operação, o número de unidades vagas chega a 12,2 mil. Esses pontos comerciais ociosos somam uma área de 1,7 milhão de metros quadrados, o que equivale a 58 empreendimentos do tamanho do Pátio Higienópolis, em São Paulo, ou do Shopping da Gávea, no Rio.
Uma nova categoria de shopping centers se espalhou pelo País nos últimos anos, com praças de alimentação vazias e tapumes no lugar de vitrines. São os "shoppings-fantasmas". Hoje, quase metade das lojas dos empreendimentos novos, inaugurados a partir de 2012, está fechada. Se considerados todos os 498 shopping centers em operação, o número de unidades vagas chega a 12,2 mil. Esses pontos comerciais ociosos somam uma área de 1,7 milhão de metros quadrados, o que equivale a 58 empreendimentos do tamanho do Pátio Higienópolis, em São Paulo, ou do Shopping da Gávea, no Rio.
A parcela de lojas vagas nos shoppings brasileiros, revelada por um estudo feito pelo Ibope Inteligência em parceria com a Associação dos Lojistas de Shoppings (Alshop), atingiu, neste ano, níveis recordes e já faz empreendedores reduzirem o aluguel e até deixarem de cobrar a locação para segurar o lojista. Nos shoppings consolidados e abertos até 2012, a vacância é de 9,1%, o dobro da média histórica. Nos shoppings novos, a ociosidade chega a 45%.
A combinação de dois fatores gerou essa situação: o fim da década de ouro do varejo e a construção desenfreada de novos empreendimentos. "Mesmo se a economia não tivesse entrado em parafuso, nós teríamos shoppings com problema de vacância", afirma Fábio Caldas, do Ibope, um dos responsáveis pelo estudo. Só entre 2000 e 2015, segundo ele, foram inaugurados 259 shoppings. Muitos foram desenvolvidos por empreendedores que não eram do setor, atraídos pelo desempenho espetacular do varejo. Entre 2004 e 2013, o volume de vendas do comércio varejista, sem contar veículos e materiais de construção, cresceu 7,5% ao ano, segundo o IBGE. Em 2014 e 2015, o avanço foi bem menor: 2,2% e 3%, respectivamente.
No contexto de euforia do consumo, o negócio de shoppings parecia muito bom. "Mas, quando as obras foram concluídas, a oferta se revelou maior do que a demanda, e os lojistas começaram a escolher para onde ir. Optaram pelos melhores projetos, e alguns ficaram vazios", explica Caldas. Para o presidente da Alshop, Nabil Sahyoun, esta é a pior crise dos shoppings. "A situação é preocupante, com o fechamento de lojas e demissões", diz. Neste fim de semana, ele esteve à frente do primeiro simpósio do setor, realizado em Punta Del Este, no Uruguai. O evento reuniu empresários para tratar dessas e de outras questões.
Com a oferta maior que a demanda, Sahyoun conta que os empreendedores passaram a dar desconto no valor do aluguel. O abatimento pode variar entre 25% a 30% no caso de marcas tradicionais. Nos shoppings novos, há casos em que o aluguel deixou de ser cobrado, e o lojista paga apenas o condomínio. "Eles preferem abrir mão do aluguel para não ter de arcar com outras despesas."
Segundo Adriana Colloca, superintendente da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), que reúne os donos de shoppings, os descontos estão ocorrendo pontualmente e variam caso a caso. Nas contas da entidade, a vacância dos shoppings fechou dezembro em 4%, um dos níveis mais altos desde o início da série da pesquisa. "Os novos sofrem mais do que os maduros", afirma.

Lojas de móveis e eletroeletrônicos sofreram mais

Setores sustentados pelo crediário fecharam mais lojas em shoppings do que abriram nos últimos meses. O estudo do Ibope revela que o saldo foi negativo, em shoppings inaugurados depois de 2012, para as revendas de eletroeletrônicos, móveis, utensílios domésticos, presentes, decoração e brinquedos. Foram exatamente essas categorias de produtos que registraram o pior desempenho de vendas em 2015, segundo o IBGE.
Por causa da alta da taxa de juros e do avanço da inadimplência, os preços desses itens ficaram mais salgados, e as vendas caíram. Isso afetou a rentabilidade e a continuidade da operação dessas lojas. Já os segmentos ligados à renda, como alimentação, serviços, roupas e calçados, que têm gasto médio menor, registraram número maior de lojas abertas do que fechadas.

Sorocaba, interior paulista, é a cidade dos empreendimentos-fantasmas

Três dos seis shoppings lançados desde 2012 em Sorocaba, interior de São Paulo, não decolaram. Um deles, o Villagio, desfez os contratos com as 98 lojas e fechou o prédio, que se transformou numa espécie de elefante branco, no bairro Santa Rosália, região Leste da cidade. No Plaza Itavuvu, das 120 unidades previstas inicialmente, sobraram duas abertas - uma delas, o hipermercado Sonda -, e o shopping está virando um centro médico. O shopping Tangará, anunciado com estardalhaço e que teria 200 lojas, teve as obras paralisadas, ainda sem previsão de retomada.
Os shoppings foram lançados num período em que a economia estava em alta. Além desses, a cidade ganhou o Iguatemi, o Pátio Cianê e o Cidade, totalizando 1.120 novas lojas. Para o diretor comercial do Plaza Itavuvu, Paulo Renato de Souza, "a grande concorrência pelo varejo de Sorocaba coincidiu com a entrada do País em recessão". Ele lembra que o Cidade foi inaugurado na mesma avenida e a menos de um quilômetro do Plaza.
"Tivemos de mudar a vocação de varejo para serviços. Hoje, apenas uma empresa de serviços médicos ocupa 15% da nossa área", diz Souza. Uma clínica de ultrassom e dois laboratórios instalam-se em 60 dias. "Estamos atraindo empresas da capital e negociamos o espaço de acordo com a realidade do mercado, o que se mostra como uma boa oportunidade para quem chega", afirma.
O Villagio, embora pequeno, chegou a ser o shopping mais requintado da cidade, mas também foi afetado pela concorrência e o agravamento da crise. O esvaziamento foi rápido, e não houve objeção à saída das lojas. A última a sair, a Applebee's, deixou também a cidade, em dezembro do ano passado.