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Teatro

- Publicada em 15 de Abril de 2016 às 01:42

Tereza Rachel - menos uma

No final da semana passada, o Brasil perdeu outra grande atriz, Tereza Rachel. Judia de nascimento, fez do teatro seu espaço de militância. Trabalhou num período difícil da vida brasileira, a partir do final dos anos 1960, mas jamais abriu mão de suas convicções. Lembro bem de uma foto dela, de braços dados com outros atores e atrizes brasileiros, desfilando na avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro, denunciando a censura que a ditadura militar deitava, implacável, sobre o teatro.
No final da semana passada, o Brasil perdeu outra grande atriz, Tereza Rachel. Judia de nascimento, fez do teatro seu espaço de militância. Trabalhou num período difícil da vida brasileira, a partir do final dos anos 1960, mas jamais abriu mão de suas convicções. Lembro bem de uma foto dela, de braços dados com outros atores e atrizes brasileiros, desfilando na avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro, denunciando a censura que a ditadura militar deitava, implacável, sobre o teatro.
Tereza Rachel nasceu em 1935 e, talvez inspirada pelos acontecimentos daquele ano, que redundariam no golpe de Getúlio Vargas, em 1937, constituindo o Estado Novo, sempre se colocou com muita clareza contra qualquer cerceamento da liberdade individual e artística. No teatro, um de seus primeiros papéis já demarcava, de certo modo, sua carreira: ela participou do elenco de O telescópio, de Jorge Andrade, em 1957, pelo Teatro Nacional de Comédia, com direção de Paulo Francis. A partir dali, sucedem-se títulos nacionais de impacto, como Boca de ouro, de Nelson Rodrigues, em 1961; Bonitinha, mas ordinária, do mesmo dramaturgo, em 1962; Liberdade, liberdade, o célebre show de Millôr Fernandes, dirigido por Fernando Torres, que levou multidões aos palcos, pois foi uma das primeiras tentativas de, indiretamente, contrapor-se aos ditames da recém-inaugurada ditadura brasileira (a peça estreou em 1965): constituía-se na seleção de textos de dramaturgos, poetas e prosadores do mundo inteiro, a respeito da liberdade, o que o governo da ditadura considerou como um desafio ao poder estabelecido.
De Dias Gomes, Tereza ainda interpretou, naquele mesmo ano, O berço do herói. Depois, ela se voltou para textos internacionais consagrados, como O preço, de Arthur Miller (1968), O balcão, de Jean Genet (1969), A gaivota, de Anton Tchekov (1974), Gato em teto de zinco quente, de Tenessee Williams (1976), Um bonde chamado desejo, do mesmo Williams (1985).
No cinema, Tereza Rachel participou do elenco de filmes como Ganga Zumba, de 1956; Procura-se uma rosa, de 1964; e Pedro Mico, de 1985, baseado em peça homônima de Antonio Callado. Apesar de toda a sua dedicação ao teatro, ela tornar-se-ia popular apenas através da televisão, estreando telenovelas como O rebu (1974), Baila comigo (1981), Que rei sou eu? (1989) ou Babilônia (2015).
Os comentários sobre Tereza são sempre pontuais e muito diferenciadores em relação à sua presença, como revela a memória de Stenio Garcia, que trabalhou com ela na novela Que Rei Sou Eu?. Disse que eles eram amigos e tinham uma relação bem íntima: "Fizemos uma dupla fantástica e estabelecemos uma relação de intimidade nesta novela. Ela criou uma série de palavras em relação ao bobo da corte. A Tereza tinha uma presença sempre muito forte. Vou ficar com muita saudade. A gente estreou junto, em 1956, na peça O anjo. O que vou fazer é plantar uma árvore com o nome dela e vou abraçá-la, a última que plantei foi a da Marília Pêra".
Em 1974, Tereza Rachel recebeu o Troféu APCA e o Kikito no Festival de Cinema de Gramado, de melhor atriz, pelo filme Amante muito louca, dirigido por Denoy de Oliveira.
Em 1972, Tereza inaugurou um teatro que, duas décadas depois, por dificuldades financeiras, caiu nas mãos da Igreja Universal do Reino de Deus. Felizmente, Miguel Falabella, trabalhando no governo do Rio de Janeiro, conseguiu o tombamento do prédio. O teatro foi reinaugurado, em 2012, e hoje segue sua carreira, em homenagem à memória da grande atriz.
Eis Tereza Rachel: mais uma figura extraordinária de nossas artes, em especial de nossas artes cênicas. Stenio plantou a árvore, eu redijo, humildemente, esta nota.
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