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Cinema

- Publicada em 28 de Abril de 2016 às 22:33

A fronteira

Desde que realizou, em 1981, seu primeiro longa-metragem, O sonho não acabou, Sérgio Rezende é um realizador comprometido com um cinema voltado para um público amplo, mais interessado numa narrativa marcada pela competência do que em inovações e críticas que exigem do espectador conhecimentos nada superficiais dos temas abordados. É uma opção que aparentemente conduz o cineasta por um caminho mais fácil. Só aparentemente. Na verdade, a produção de um cinema sério e responsável que procura ao mesmo tempo sintonia com plateias numericamente expressivas coloca para o cineasta obstáculos difíceis de serem ultrapassados, façanha reservada àqueles que sabem colocar em cena, antes de mais nada, personagens e não figuras artificias, manipuladas de forma a transformar a tela em espaço reservado ao exagero e à distorção. E há também os que escolhem o caminho da vulgaridade, cientes de que terão o beneplácito dos que costumam fechar os olhos para a grosseria, colaborando assim para a expansão de uma mediocridade, cujo único papel é desviar a atenção de temas e problemas. As leis do espetáculo popular não são incompatíveis com o melhor cinema. Em todas as cinematografias há inúmeros exemplos de êxitos de bilheteria que se transformaram em clássicos. Mesmo que insucessos comerciais depois tenham adquirido a estrutura de marcos, tal fato não invalida a constatação de que o cinema é bastante amplo para acolher propostas diversas. Mas é fundamental o posicionamento contrário à vulgaridade deliberadamente procurada. Rezende e outros como ele têm procurado concretizar na tela propostas marcadas pela distância das alegorias impostas ao real e das concessões à vulgaridade.
Desde que realizou, em 1981, seu primeiro longa-metragem, O sonho não acabou, Sérgio Rezende é um realizador comprometido com um cinema voltado para um público amplo, mais interessado numa narrativa marcada pela competência do que em inovações e críticas que exigem do espectador conhecimentos nada superficiais dos temas abordados. É uma opção que aparentemente conduz o cineasta por um caminho mais fácil. Só aparentemente. Na verdade, a produção de um cinema sério e responsável que procura ao mesmo tempo sintonia com plateias numericamente expressivas coloca para o cineasta obstáculos difíceis de serem ultrapassados, façanha reservada àqueles que sabem colocar em cena, antes de mais nada, personagens e não figuras artificias, manipuladas de forma a transformar a tela em espaço reservado ao exagero e à distorção. E há também os que escolhem o caminho da vulgaridade, cientes de que terão o beneplácito dos que costumam fechar os olhos para a grosseria, colaborando assim para a expansão de uma mediocridade, cujo único papel é desviar a atenção de temas e problemas. As leis do espetáculo popular não são incompatíveis com o melhor cinema. Em todas as cinematografias há inúmeros exemplos de êxitos de bilheteria que se transformaram em clássicos. Mesmo que insucessos comerciais depois tenham adquirido a estrutura de marcos, tal fato não invalida a constatação de que o cinema é bastante amplo para acolher propostas diversas. Mas é fundamental o posicionamento contrário à vulgaridade deliberadamente procurada. Rezende e outros como ele têm procurado concretizar na tela propostas marcadas pela distância das alegorias impostas ao real e das concessões à vulgaridade.
Na filmografia do cineasta há exemplos significativos de tal posicionamento, como Mauá, o imperador e o rei e Zuzu Angel, nos quais fatos reais serviam de base para a narrativa. É o que volta a acontecer neste Em nome da lei, no qual as ações de um juiz na fronteira com o Paraguai formam o conteúdo manifesto do filme. Um cenário, como já dizia um cineasta americano, pode representar na tela o passado de um personagem, sua história e sua personalidade. Mas também é possível, sem discordar de tal afirmativa, que o cenário também pode representar um mundo que precisa ser enfrentado e modificado. Este segundo caminho é, obviamente, o escolhido por Rezende. Estamos, no filme, diante de um mundo corrompido e no qual a justiça e as leis ocupam papel secundário. Todos estão dominados pelo sentimento de que não há o que fazer, além de conviver com a corrupção e a violência por ela gerada. O diretor não está interessado em nenhum tipo de panfletagem, e sim em colocar na tela um personagem que, representando a justiça, entra em conflito com interesses poderosos. É o tema de inúmeros títulos do western, mas também de obras como Z, de Costa-Gavras, e do recente Labirinto de mentiras, de Giulio Ricciarelli, filme que foi indicado pela Alemanha para concorrer ao Oscar. Ambos são baseados em fatos verídicos: o golpe dos coronéis gregos para impedir o prosseguimento de uma operação da justiça contra a corrupção e a coragem de um jovem magistrado alemão para retirar das sombras criminosos de guerra acobertados pelo governo.
O filme de Rezende tem seus problemas, pois algumas vezes desvia a atenção para um relacionamento amoroso que nada tem a ver com o tema principal. Mas tem o mérito de falar com um assunto bastante atual. Certamente nenhum espectador deixará de perceber as analogias com a realidade atual feitas pelo cineasta. O mérito maior, no entanto, é tratar do tema de forma a colocar o personagem principal diante de um desafio perante o qual a coragem é um elemento necessário. Ver na tela um personagem disposto a impor valores indispensáveis a um mundo organizado de forma justa é algo que nos faz retornar a muitos clássicos do cinema, todos eles também voltados para um público amplo. Rezende já fez filmes melhores, mas este, por vários motivos, entre eles o de abordar um assunto raramente focalizado pelo cinema brasileiro, merece ser visto.
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