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Cinema

- Publicada em 18 de Abril de 2016 às 18:18

Era uma vez em Hollywood

Hélio Nascimento
O tema do sequestro, desde Arizona nunca mais, passando por Fargo, e agora presente em Ave, César!, não é uma novidade na filmografia dos irmãos Joel e Ethan Coen. E nem o do fazer cinematográfico, abordado e desenvolvido do ponto de vista de um roteirista, em Barton Fink. O novo filme, portanto, reafirma que os irmãos são autores verdadeiros, e também, devido às qualidades evidentes de seu novo trabalho, que estão entre aqueles que têm mantido vivo o cinema de qualidade, uma dupla de resistentes diante da avalanche de mediocridade que tem procurado expulsar das telas a inconformidade e a criatividade. A máquina de sonhos e fantasias não é, por outro lado, somente a engrenagem maléfica pintada por interessados em demonizar a indústria do cinema. Ela tem aberto - e não apenas em Hollywood - espaços para a rebeldia, até porque, em caso contrário, não teria sobrevivido nem alcançado novos patamares, tanto na técnica como na própria forma de expressão. O novo filme dos irmãos tem, de forma bem evidente, um olhar crítico e desmistificador sobre o cinema em escala industrial, mas, ao mesmo tempo, deixa claro o fascínio que ele desperta, até mesmo nos realizadores do filme. O ato de criticar exige, antes de mais nada, conhecimento da ação criticada. E os realizadores esbanjam tal conhecimento, sendo mesmo possível dizer que a crítica colocada na tela está, igualmente, carregada de amor pelo cinema.
O tema do sequestro, desde Arizona nunca mais, passando por Fargo, e agora presente em Ave, César!, não é uma novidade na filmografia dos irmãos Joel e Ethan Coen. E nem o do fazer cinematográfico, abordado e desenvolvido do ponto de vista de um roteirista, em Barton Fink. O novo filme, portanto, reafirma que os irmãos são autores verdadeiros, e também, devido às qualidades evidentes de seu novo trabalho, que estão entre aqueles que têm mantido vivo o cinema de qualidade, uma dupla de resistentes diante da avalanche de mediocridade que tem procurado expulsar das telas a inconformidade e a criatividade. A máquina de sonhos e fantasias não é, por outro lado, somente a engrenagem maléfica pintada por interessados em demonizar a indústria do cinema. Ela tem aberto - e não apenas em Hollywood - espaços para a rebeldia, até porque, em caso contrário, não teria sobrevivido nem alcançado novos patamares, tanto na técnica como na própria forma de expressão. O novo filme dos irmãos tem, de forma bem evidente, um olhar crítico e desmistificador sobre o cinema em escala industrial, mas, ao mesmo tempo, deixa claro o fascínio que ele desperta, até mesmo nos realizadores do filme. O ato de criticar exige, antes de mais nada, conhecimento da ação criticada. E os realizadores esbanjam tal conhecimento, sendo mesmo possível dizer que a crítica colocada na tela está, igualmente, carregada de amor pelo cinema.
O sarcasmo e a insolência sempre marcaram o cinema dos Coen. Seus personagens são focalizados como se estivessem algumas notas acima do comportamento normal. Uma das exceções é o xerife de Onde os fracos não têm vez, mas naquele filme admirável a figura do assassino era algo incomum em maldade e sadismo. Ave, César! tem sido visto como uma sátira aos gêneros abordados pelo cinema norte-americano nos tempos de ouro dos grandes estúdios, que viviam da fama de seus astros e estrelas e se beneficiavam das colunas de trivialidades. Mas é interessante notar que aquela ingenuidade de leitores de revistas dedicadas à vida particular de atores e atrizes continua viva através de outras formas. Adultos fantasiados de heróis terminam provando que uma certa infantilização está em desenvolvimento, o que faz do novo filme dos Coen não somente uma crítica ao passado. Certamente não por acaso que o ator que vive um romano arrogante nunca apareça em cena sem as vestimentas que o transformam num centurião do império. O filme, portanto, não é apenas uma sátira à maneira como certos gêneros eram abordados nos anos 1940 e 1950.
Na primeira sequência, o protagonista, um chefe de estúdio, é apresentado como se fosse o herói de um filme policial da época. Tal gênero não está incluído na lista dos filmes que estão sendo produzidos, mas aparece na própria atividade do personagem vivido por Josh Brolin. É a fantasia mesclada à realidade. Esta também se intromete na fantasia, numa operação inversa. Quase ao final, quando o protagonista do épico que está sendo produzido expressa sua emoção diante do maior sacrifício, o personagem de George Clooney esquece a última palavra e a solenidade é desfeita. Os diretores satirizam os mais diversos gêneros, mas um deles, o musical, recebe uma verdadeira homenagem através da dança dos marinheiros, uma clara referência a Gene Kelly, que, em vários filmes, usou aquela farda. E não poderia ser esquecido o tema da presença de comunistas em Hollywood, algo que marcou o período. Um grupo de roteiristas de esquerda, que tem como mascote um cachorro chamado Engels, sequestra o grande astro e, além de tentar obter dólares, aproveita a oportunidade para doutrinar o ator e transformá-lo num seguidor da causa. Há pouco, um filme dedicado a Dalton Trumbo, o grande roteirista de A princesa e o plebeu, filme que foi dirigido por William Wyler, mostrou os malefícios do macartismo. Os Coen satirizam os filmes dominados por aquela estreita visão de mundo, numa sequência, a do submarino, que não é um filme dentro do filme. Uma crítica colocada de forma irônica dentro da narrativa do filme principal. O novo filme dos irmãos Coen merece ser incluído entre os que melhor souberam falar do cinema utilizando os seus próprios meios de expressão.
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