Ricardo Gruner
"Na Europa, as pessoas nos veem como 'a banda brasileira que faz aquele som diferente'. Aqui no Brasil, essa imagem é outra: somos 'os brasileiros que saíram do País para ganhar a Europa'." A frase de Ramiro Levy (voz, guitarra e ukelele), da Selton, resume bem a faceta cosmopolita do grupo, que há oito anos faz a conexão Porto Alegre-Milão. Com uma carreira que começou com covers de Beatles em Barcelona e hoje envolve residência fixada na cidade italiana, o grupo volta a Porto Alegre para mais um show. A partir das 21h de hoje, o Theatro São Pedro (Mal. Deodoro, s/nº) recebe o espetáculo baseado em
Loreto Paradiso, novo trabalho dos viajantes. A apresentação tem ingressos por valores entre R$ 25,00 e R$ 35,00 - disponíveis na bilheteria do local ou pelo site
www.compreingressos.com.
Composta também por Ricardo Fischmann (voz, guitarra e teclado), Eduardo Stein Dechtiar (voz e baixo) e Daniel Plentz (voz e bateria), a equipe de músicos chega a seu terceiro álbum - contagem que inclui só os trabalhos autorais, porque o início da trajetória da trupe contempla até tributo ao compositor italiano Enzo Jannacci. E se Saudade (2013) rendeu ao quarteto um prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes, o compacto que eles divulgam agora é uma continuação daquele processo. "No disco anterior, encontramos os elementos principais que definem a nossa identidade (harmonias vocais, mistura de línguas, contraste entre orgânico e eletrônico)", compara Levy, descrevendo: "O novo trabalho desenvolve toda essa estética, radicaliza ainda mais esses elementos".
O Loreto no título do disco vem do nome do bairro onde os integrantes residem, em Milão. Já a referência ao paraíso soa mais como um ideal do que como uma característica daquela região. Além da faixa-título, canções como Cemitério de elefante, Be my life e Junto separado compõem um panorama temático. As letras falam da consciência sobre o aqui (físico ou metafórico) e agora - para que então se possa agir a fim de manter ou modificar situações. Conforme o guitarrista, a questão da condição de eternos estrangeiros, abordado em Saudade, é substituída por outra reflexão: "Em Loreto Paradiso, aceitamos e transformamos o lugar onde estamos em um [paraíso], enfrentamos os problemas reais", cita.
Disponível por streaming e em versão física, o disco é trilíngue (português, inglês e italiano) e apresenta uma sonoridade que flerta com o indie rock, a MPB e com elementos da música eletrônica. Segundo Levy, de certa maneira, o repertório é tanto para dançar quanto para refletir. E, curiosamente, ele acredita que isso tem a ver com o fato de o grupo estar há tanto tempo fora de sua terra-natal - fator que vem aflorando características do cancioneiro produzido por aqui. "Acho que abordar temas sérios e sofridos em músicas 'para cima' é algo muito brasileiro", afirma ele. "No samba, podemos encontrar mil exemplos de refrãos 'superalegres' musicalmente, mas que, se paramos para escutar a letra, nos damos conta de que a temática na verdade é triste, introspectiva."
Com participação especial da Dingo Bells - banda que se apresenta na quinta-feira, a partir das 21h, no Ocidente -, o show desta quarta-feira é o quarto da parte nacional da turnê. A agenda do grupo já incluiu Rio de Janeiro e São Paulo (em duas datas) e ainda tem compromisso em Araraquara (na sexta). Na próxima semana, os artistas voltam a mostrar seu trabalho pela Europa - com apresentações na Itália. Para o decorrer do ano, a Selton também planeja shows em outros países. "São duas maneiras bem diferentes de ver a banda [aqui e no continente onde vivem]", sintetiza Levy, comemorando: "O ponto em comum é que, em ambos os lugares, somos reconhecidos por fazer um som único, por representar essa mistura e por transmitir constantemente essa nossa eterna viagem".