Os resíduos da indústria têxtil não vão mais parar no lixo. Agora, eles se transformam em bermudas, camisetas, calças e tantas outras peças de vestuário. A metamorfose acontece nos pavilhões da sede da Fundação Gaúcha de Bancos Sociais (FGBS), em Porto Alegre. Nas aulas gratuitas do curso do Banco de Vestuário, a criatividade dos alunos dá uma nova vida aos retralhos. Os cursos, voltados a instituições filantrópicas, escolas públicas e de pessoas de baixa renda, são ministrados pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai-RS) e vão da iniciação à qualificação profissional, como a formação para costureiro industrial.
Em um total de 456 horas de aula, os alunos realizam 72 horas de trabalho empresarial na indústria para colocar em prática o que aprenderam com a professora Elisângela dos Santos Lima. "Tem a vivência em sala de aula e também dentro das empresas para mostrar os conhecimentos adquiridos", ressalta a professora.
Os alunos - as mulheres são maioria - recebem instruções de como utilizar máquinas de costura e a criar peças de roupa. "Alguns chegam aqui sem noção de costura, outros vêm para aprimorar os conhecimentos", conta Elisângela, que está na fundação há quatro anos.
O curso estabelece o cumprimento de metas em cinco meses. Começando por peças pequenas, ao final, cada um deve fazer duas roupas em tamanho infantil. Bermudas, camisas sociais, camisetas e vestidos estão entre os itens produzidos ao longo das aulas.
Renata de Bairros Dutra, 33 anos, decidiu procurar o curso para se aprimorar. Acostumada apenas a costurar em casa para necessidades pessoais, após o curso deseja seguir trabalhando com costura e conseguir uma colocação na indústria. "Aqui aprendi coisas que nem imaginava. Começamos a olhar as roupas com outros olhos", diz, empolgada.
Além do costureiro indutrial, o Banco de Vestuários oferece os cursos de iniciação profissional com uma carga horária entre 40 e 60 horas: transformação de retalhos têxteis em peças de decoração, costura e acabamento em peças confeccionadas com retalhos têxteis e reaproveitamento de peças de roupas.
Também são oferecidas formações nos bancos de materiais, computadores e mobiliários, com aulas nas áreas de pintura em obras, construção e alvenarias, básico em informática, restauração de móveis de madeira e montagem. O tempo de duração varia de 40 a 80 horas.
A inserção dos alunos no mercado de trabalho e a confecção de produtos com a utilização de resíduos estão entre os principais focos dos bancos. "Nosso objetivo é transformar os desperdícios das indústrias em benefício social", explica a gerente administrativa da FGBS, Lucelene Oliveira.
O projeto da Fundação Gaúcha existe há 10 anos e forma, em média, 600 alunos. As aulas são ministradas de segunda a sexta-feira no turno da tarde. Os participantes recebem passagem e alimentação, além de um certificado de conclusão.
Após a formatura, caso desejem empreender na área para dar continuidade aos trabalhos, os participantes recebem doações de matéria-prima dos bancos de Vestuário e Mobiliário.
Para realizar a inscrição nos cursos de iniciação profissional, é necessário ter no mínimo 16 anos e levar a sede da Fundação carteira de identidade, CPF e comprovante de residência. Já os interessados nos cursos de qualificação profissional, além desses documentos, é preciso apresentar carteira de trabalho, título de eleitor e comprovante de escolaridade e ter idade mínima de 18 anos.