Ajudar alimenta a alma

No centro da quadra de esportes da Casa de Acolhimento, uma cama elástica e uma mesa de pebolim estavam à espera das crianças que voltavam da escola para comemorar os aniversários do mês de março. A cena, que pode ser corriqueira na vida de muitos meninos e meninas, é um momento especial para os menores da instituição, um dos abrigos de responsabilidade da Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), administrados pela prefeitura de Porto Alegre.

A ação é uma das iniciativas desenvolvidas pela ONG Alimente sua Alma, que também leva alegria aos pequenos em datas como a Páscoa, Dia das Crianças e Natal. Para estimular os estudos, no início do ano letivo, eles recebem um kit com caderno, lápis, borracha, caneta, apontador, canetas hidrográficas e lápis de cor, itens aos quais a maioria deles não teria acesso sem essa contribuição. A Casa de Acolhimento, que conta com 60 abrigados de zero a 18 anos, é um dos quatro abrigos atendidos pela Alimente sua Alma. "Não imaginava a proporção que isso iria tomar. Confesso que não sabia e espero que só cresça", destaca Gustavo Sana, fundador da ONG Alimente sua Alma, ao lembrar que tudo começou para ser apenas uma ação de Natal, quando uma das crianças o provocou: "Pena que é só hoje. É normal. As pessoas vêm aqui no Natal e não voltam mais".

Diante do desabafo do pequeno, o administrador de empresas começou a fazer visitas mensais à casa, que acabou estendendo a abrigos próximos, que funcionam como casa de passagem para menores em situação de vulnerabilidade - retirados das ruas, órfãos ou que estão sob tutela do Estado em função de maus tratos e abandono. Em 2011, surgiu a necessidade de organizar os processos e criar a ONG. Ao longo do tempo, divulgando a organização pelas redes sociais, Sana conseguiu apoio de amigos, tanto financeiramente quanto por meio de doações. Além disso, outras pessoas se juntaram a ele em algumas visitas, mas acabaram desistindo.

Hoje, ele é o responsável por todas as ações e frequenta os abrigos sozinho. Agora, está em busca de voluntários que tenham interesse em ingressar e permanecer nas atividades. O principal apoio, para ele, está na doação de carinho, atenção e educação. "Prefiro parceiros que queiram ensiná-los a tocar um instrumento, a dançar, porque há muitos potenciais a serem explorados entre esses jovens."

Para colocar outros projetos em prática, Sana conta com a ajuda de parceiros, como a rede de lojas de surf Trópico, que permitiu a realização do Batismo Salgado e da Garagem do Bem. A marca, em parceria com a ONG, levou, no ano passado, 10 crianças do Instituto do Câncer Infantil ao píer da praia de Tramandaí para conhecer o mar, o chamado Batismo Salgado. A Trópico disponibilizou pranchas, lanches e instrutores de surf. "Foi uma experiência sensacional", conta ele. Já o projeto Garagem do Bem teve início em fevereiro deste ano, durante o Festival Surfest, em Atlântida. A Trópico estimulou a doação de pranchas e equipamentos usados, itens que foram revertidos pela ONG em R$ 600,00 destinados à festa de Páscoa dos jovens. A partir do resultado positivo da parceria com a Trópico, Sana está em busca de outros aliados que contribuam para a manutenção dos trabalhos.