As marcas mais lembradas e preferidas de
gestores e formadores de opinião do RS.

O desafio de formar novas lideran�as empreendedoras



S�rgio Maia S�rgio Maia
Presidente da ADVB/RS, [email protected]
Sugiro um exercício simples, porém revelador, sobre o estado atual do Rio Grande do Sul no que concerne a nossa matriz econômica e a geração de novos empreendedores. Tomemos por base o ranking das mil maiores empresas brasileiras publicado pelo Valor Econômico. Deste estudo se retira que o Rio Grande do Sul possui 76 empresas dentre as mil maiores, razoavelmente em linha com a participação do estado no PIB Brasileiro. Até aqui, sem surpresas.
Agora, o que suscita preocupação é um pequeno detalhe: apenas uma pequeníssima minoria delas foi fundada nas últimas duas décadas. Não é ruim assentarmos nossa matriz econômica em setores e empresas tradicionais. Elas são grandes geradoras de riqueza e emprego, mas vivemos em uma sociedade em que novas demandas e novas ofertas de produtos e serviços criam a cada dia novas avenidas de desenvolvimento. Estaremos perdendo o bonde desta nova economia? Que novos setores poderão emergir nos quais o Rio Grande do Sul possa vir a ter vantagens competitivas sustentáveis? O que precisamos fazer para iniciar essa caminhada estratégica?
Enxergo no Rio Grande do Sul um grande potencial empreendedor. Os fundadores de nossas empresas de referência talvez não tenham tido a oportunidade de fazer um MBA em uma escola de referência e talvez não tivessem, no início, todos os fundamentos gerenciais necessários. Porém, tinham seguramente dentro de si um forte DNA empreendedor e uma motivação para o crescimento que os permitiu superar todas as adversidades.
O Rio Grande do Sul muito deve a todos esses grandes empreendedores que, na linha do tempo, se tornaram grandes gestores e exímios governantes corporativos. Contudo, está na hora de o Estado alavancar-se neste legado formidável de empresas e protagonistas para renovar a sua matriz econômica de forma a sustentar o crescimento nas próximas décadas.
O termo matriz econômica tem vindo a ser erroneamente confundido com dirigismo econômico, tudo o que não se pretende. Novos setores apenas poderão emergir da motivação e competência dos empreendedores conjugadas com um ambiente competitivo eficiente, desburocratizado e acolhedor. Exemplos de economias dinâmicas nos mostram a prevalência de três ingredientes básicos no desenvolvimento de novos clusterscompetitivos.
Em primeiro lugar, educação com uma base larga e democrática, pragmatismo no desenvolvimento das competências requeridas pelo mundo moderno e formação de altíssima qualidade na ponta. Em segundo lugar, a criação de condições objetivas para alavancagem dos novos negócios em ativos sociais pré-existentes. Os exemplos que encontramos no Vale do Silício nos mostram o que pode fazer uma multidão de jovens empreendedores e escolas abertas à inovação, na geração de um formidável capital de inovação. Em terceiro lugar, identificamos o processo sinérgico entre os vários stakeholders de uma economia exponenciando a capacidade de resiliência e crescimento dos novos empreendedores. Nossos modelos de incubação de empresas e capital de risco para startups está ainda a uma distância quilométrica das economias mais dinâmicas.
Face esta realidade, como construir, então, as bases necessárias para o desenvolvimento do empreendedorismo gaúcho? A análise de alguns exemplos bem-sucedidos nos aponta que a resposta pode estar no desenvolvimento de terreno fértil à atividade empreendedora desde sua formação técnica e acadêmica até a criação de atividades inovadoras e relevantes à economia.
Sob o ponto de vista da formação técnica e acadêmica, os números atuais revelam o desafio da quantidade versus a substância. Se por um lado o número de formandos em curso superior subiu mais de 80% entre 2003 e 2013, por outro, levantamentos recentes apontam que aproximadamente 40% destes estudantes são "analfabetos funcionais" - dificilmente o substrato para liderança ou empreendedorismo de qualidade.
Mesmo assim, considerando que a formação de base é um problema a ser resolvido no longo prazo, como fazer com que a parcela qualificada dos estudantes de nível superior receba uma formação que de fato os prepare para tomar as rédeas das empresas? Exemplos como o da BabsonCollege, nos Estados Unidos, mostram que a integração entre prática e academia podem render bons frutos. No curso de graduação em empreendedorismo da escola de Massachusetts 100% dos professores já criaram, compraram ou lideraram empresas e seus alunos já fundaram mais de 400 outras nos últimos dez anos.
Finalmente, fica a questão de como, uma vez formados empreendedores de qualidade, fazer com que estes talentos sejam aproveitados de forma a inovar na definição dos rumos de nosso Estado e não direcionados para concursos públicos ou "exportados" para terrenos mais férteis que atendam suas ansiedades criadoras. Iniciativas como as empresas júnior que se multiplicam nas universidades brasileiras possuem impacto positivo na criação de oportunidades iniciais e desenvolvimento da cultura empreendedora.
O desafio de formar novas lideranças empreendedoras está lançado e não pode ser terceirizado, competindo a todos nós a responsabilidade de nutrir um ambiente multiplicador da criatividade e inovação empresarial. Talvez assim possamos em alguns anos refazer o exercício proposto no início deste texto e chegar a resultados que apontem para um Rio Grande inovador.

Publicado em 28/03/2016.