As marcas mais lembradas e preferidas de
gestores e formadores de opinião do RS.

O come�o do recome�o



Cristiano Fragoso Cristiano Fragoso
Diretor de Planejamento Criativo da DeBrito Propaganda, cristiano.poa@ debrito.com.br
Vamos fazer uma aposta? De cada dez artigos publicados neste caderno, dez devem falar sobre "crise".
Acertei? Quase? Imaginei.
Não há como fugir do assunto. A crise afeta a todos. E nós, da tão idolatrada "indústria criativa", não temos escolha, vamos ter que falar sobre ela. Desculpe o clichê.
Momentos de crise, também são de mudança. Muito além da economia, a tal "crise" está no significado das coisas. Quase nada do que existe está como já foi até pouco tempo atrás. Se a gente mal consegue perceber tudo isso, imagine então agir. É esta sensação de paralisia que apavora e aumenta a ansiedade de todos. Não dá mais para repetir os modelos utilizados até agora. Inovar é preciso. E urgente.
As marcas líderes deste caderno certamente estão inovando. Inovação é cultura, e não processo. É daí que vem o "diferencial" que todo mundo busca, mas só alguns conseguem atingir.
A inovação é uma ideia boa, mas tão boa, que ninguém tinha tido ela antes (ou, pelo menos, não conseguiu implementar). As marcas que estão na preferência e lembrança dos consumidores provavelmente não tiveram boas ideias sozinhas. Para "chegar lá", é preciso criatividade. E o ato de criar é, essencialmente, coletivo.
Então, pense comigo: se estamos em crise, e a crise exige inovação, se inovação está diretamente ligada à criatividade, e para isso é fundamental contar com colaboração, este não deveria ser o cenário ideal para a indústria criativa ganhar um protagonismo ainda maior (e faturar bastante com isso)?
Isso já está acontecendo. Cada vez surgem mais empresas com novos formatos, gerando boas ideias e aplicando-as por aí. Desde sempre, as agências de propaganda encabeçaram o rol de empresas que fazem parte desta indústria geradora de ideias. Mas, de uns tempos pra cá, foram ultrapassadas por outras abordagens de conhecimento. O que faz com que o negócio onde trabalhamos seja percebido como algo que não funciona mais. Ficamos para trás. Logo agora, em que a ideia tem ainda mais valor.
E sabem por que isso aconteceu? Simples. Porque chegou a Era do Conteúdo. E a gente veio até aqui entregando "forma". Agências de propaganda vendem (ou agenciam) mídia, produção, layout. Tudo, menos ideias. Não há na lista de Serviços Publicitários do Sindicato das Agências o valor-tabela de uma ideia. A ideia faz parte do nosso negócio, mas não cobramos por ela.
Mudar a foto, aumentar o logo, fazer e refazer. O cliente não aguenta mais esse processo. Está sedento por sacadas poderosas que deem um novo sentido para o consumo de seus produtos/serviços e, por consequência, salvem o seu faturamento. Ele espera que a gente "dê uma ideia brilhante", como sempre foi. Mas como agora já não paga mais tanto por outros serviços que geravam gordos comissionamentos, vamos ter que aprender a cobrar por ela. É uma questão de sobrevivência colocar a ideia no centro do nosso negócio. E vejam bem: falei em "negócio", não em "entrega".
Eu sei que este papo é apenas o início (e olhe lá) de uma longa conversa sobre nosso formato de empresa. Mas sei também que a mudança começa por cada um de nós. E se dá próxima vez que alguém chegar pedindo "me dá uma ideia?", você lembrar do quanto ela é valiosa, já é um bom (re) começo.

Publicado em 28/03/2016.