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Geral

- Publicada em 27 de Março de 2016 às 22:23

'Mais de 70% dos criadouros estão em casas'

Para Alberto Beltrame, conhecimento sobre o zika vírus tem aumentado rápido no Brasil

Para Alberto Beltrame, conhecimento sobre o zika vírus tem aumentado rápido no Brasil


MARCO QUINTANA/JC
Isabella Sander
Em evento organizado pelo Grupo Hospitalar Conceição (GHC), o secretário nacional de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Alberto Beltrame, concedeu entrevista exclusiva ao Jornal do Comércio sobre as ações do governo federal no combate ao mosquito Aedes aegypti. Conforme Beltrame, há uma previsão de investimento de R$ 500 milhões somente neste ano em ações contra o inseto, transmissor da dengue, da febre chikungunya e do zika vírus, e contra as doenças em si. Somados aos recursos destinados anteriormente, de R$ 900 milhões, o investimento final deve ficar em R$ 1,4 bilhão em três eixos - combate ao mosquito, atenção às pessoas contaminadas e realização de pesquisas e estudos sobre desenvolvimento de novas tecnologias.
Em evento organizado pelo Grupo Hospitalar Conceição (GHC), o secretário nacional de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Alberto Beltrame, concedeu entrevista exclusiva ao Jornal do Comércio sobre as ações do governo federal no combate ao mosquito Aedes aegypti. Conforme Beltrame, há uma previsão de investimento de R$ 500 milhões somente neste ano em ações contra o inseto, transmissor da dengue, da febre chikungunya e do zika vírus, e contra as doenças em si. Somados aos recursos destinados anteriormente, de R$ 900 milhões, o investimento final deve ficar em R$ 1,4 bilhão em três eixos - combate ao mosquito, atenção às pessoas contaminadas e realização de pesquisas e estudos sobre desenvolvimento de novas tecnologias.
Jornal do Comércio - Quanto o Brasil já investiu no combate ao Aedes?
Alberto Beltrame - Em 2016, há previsão orçamentária de R$ 500 milhões. Somada aos recursos anteriormente destinados, em torno de R$ 900 milhões, são cerca de R$ 1,4 bilhão para ações de vigilância em saúde, combate e diminuição de criadouros do mosquito Aedes aegypti. Temos ainda toda a parte da assistência, que envolve os pacientes com dengue, chikungunya e zika vírus.
JC - Como o governo federal está lidando, particularmente, com a questão do zika vírus?
Beltrame - O zika vírus é uma coisa nova, temos muito a aprender, mas o Brasil está à frente, e já temos conhecimentos significativos adquiridos em quatro, cinco meses. Isso nos permite projetar ações concretas na identificação das crianças, principalmente as acometidas pela microcefalia, cuidar de esclarecer rapidamente o diagnóstico e encaminhar para a estimulação precoce essas crianças. É um esforço nacional coordenado pela própria presidente Dilma Rousseff, articulando 19 ministérios. O Brasil se diferencia de outros países por ter o Sistema Único de Saúde (SUS), universal e gratuito para toda a população. Seria diferente se precisássemos enfrentar esse problema de saúde pública com um sistema excludente, baseado na saúde privada. Combater o mosquito é uma tarefa de toda a sociedade brasileira, não é só dos governos, porque mais de 70% dos criadouros estão nos quintais das casas das pessoas.
JC - O Aedes aegypti é muito adaptável e pode crescer até mesmo em ralos. É possível acabar com o mosquito?
Beltrame - O mundo convive com o Aedes aegypti há séculos. Ele foi descrito pela primeira vez em 1780 e já está há milhares de anos convivendo com a humanidade. Acabar com o mosquito é uma tarefa muito difícil. Nossa preocupação é reduzir a circulação dele ao máximo, diminuindo a possibilidade de contaminação das pessoas. O fato de o inseto ser capaz de se reproduzir em pequenas quantidades de água e mesmo em água suja é um alerta para toda a comunidade, de que cuide de ralos, quintal, pneus abandonados, latas, tampinhas de garrafa, bandejas que recolhem água no refrigerador, bandejas embaixo de ar-condicionado. Tudo isso pode se transformar em um criadouro. É possível, sim, pois há vários casos de municípios no País onde comunidades inteiras se organizaram e conseguiram praticamente zerar a circulação do mosquito. É difícil? É. Mas é superável, se houver realmente a mobilização da comunidade.
JC - Como o Ministério da Saúde (MS) está chegando aos municípios de interior?
Beltrame - O MS não atua sozinho nessa tarefa. Está trabalhando juntamente com os governos estaduais e municipais. Cada um tem seu papel. O MS tem a tarefa de coordenar os esforços. Existe uma sala de coordenação nacional que está em Brasília e tem salas estaduais e municipais nos principais municípios, principalmente capitais e cidades maiores. Há um acordo da atividade, mas nada substitui a organização local. Nesses lugares mais distantes e menores, cabe à prefeitura e à própria sociedade que se mobilize e enfrente a situação. O governo federal tem feito sua parte, coordenando o trabalho, colocando à disposição as Forças Armadas para auxiliar e todos os seus agentes comunitários de saúde, que são 266 mil no Brasil inteiro e 46 mil agentes de endemias. Então, é uma grande força-tarefa nacional, coordenada pelo MS, mas sempre levando em conta que não é suficiente apenas a atuação do poder público.
JC - Em termos de pesquisa, todas estão sendo financiadas pelo MS?
Beltrame - O MS tem uma importante instituição, a Fiocruz. Ela está presente em 12 estados brasileiros, uma boa parte da pesquisa clínica e de desenvolvimento de novas tecnologias é feita pela Fiocruz, dentro do próprio orçamento do MS. Da mesma forma, temos o Instituto Evandro Chagas, em Belém do Pará, também do MS, e o Instituto Butantã. Além disso, temos feito parcerias com instituições estrangeiras, como a Universidade do Texas e a GlaxoSmithKline, da Inglaterra. A declaração de emergência em saúde pública de interesse internacional da Organização Mundial de Saúde (OMS) facilitou o trabalho do Brasil, nos permitiu ampliar nossa rede de contatos e intercâmbio de informações com cientistas do mundo inteiro, para conseguir chegar o mais rápido possível no desenvolvimento de tecnologias, como vacinas, medicamentos, tratamentos e gestão do cuidado a ser dispensado a pessoas acometidas pela doença, no desenvolvimento de protocolos de tratamento e estudos de uma doença nova, causada pelo zika vírus, que até recentemente não era descrita com a gravidade que é hoje. O zika vírus era visto como uma forma mais branda da dengue. Agora, sabemos que causa uma doença muito mais grave.
JC - Como tem sido a cooperação de outros países?
Beltrame - A cooperação internacional permitiu estudos retrospectivos de onde o zika atuou antes, como na Polinésia Francesa, por exemplo, onde tinha casos de microcefalia em crianças no passado, mas o sistema de saúde não detectou e relacionou com o zika vírus. Esse é um avanço que o Brasil está proporcionando para o mundo inteiro. Em um curto espaço de tempo, demonstramos que o zika vírus tem relação com a microcefalia, está presente na placenta, na urina, na formativa e na saliva, o que não significa dizer que ele é capaz de ser transmitido por saliva ou urina, mas principalmente na sua relação direta com a incidência de microcefalia e outros danos de má-formação do feto, da criança e de doença neurológica em adultos, como a síndrome de Guillain-Barré, por exemplo, e outras doenças neurológicas, como meningoencefalite pelo zika. Temos vários casos relatados em que há presença do zika vírus vivo, ativo, no líquido cefalorraquidiano espinhal. Ficou demonstrado que a encefalite é causada pelo zika vírus.
JC - O Ministério da Saúde já prevê programas para cuidar de toda essa geração afetada pela microcefalia?
Beltrame - O Brasil tem uma imensa rede de serviços de acolhimento social e de saúde para essas crianças. Contamos com mais de 1,5 mil centros de estimulação precoce e reabilitação no Brasil, públicos e filantrópicos, como centros especializados de reabilitação, assim como os hospitais universitários e uma enorme rede de serviços e entidades parceiras, como as Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apaes), por exemplo, espalhadas pelo Brasil inteiro. A Associação Pestalozzi, que também tem um trabalho semelhante ao da Apae, é uma rede de serviços cofinanciados pelo SUS, para fazer frente a essa necessidade.
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