Pessoas que vão além de limitações físicas para criar oportunidades de negócios

Empreendedores vão além das limitações físicas e criam oportunidades de negócios


Pessoas que vão além de limitações físicas para criar oportunidades de negócios

Da paixão de Gustavo Wapler, 31 anos, por automóveis, nasceu a Adapta Drive. A ideia de ter uma empresa de locação de carros adaptados veio quando o seu veículo estragou e o seguro, que garantia um reserva, não tinha modelos disponíveis. Wapler, que tem tetraparesia espástica (evolução de uma lesão medular sofrida ao pular em uma piscina, em 2010), se viu, então, desafiado a empreender.
Da paixão de Gustavo Wapler, 31 anos, por automóveis, nasceu a Adapta Drive. A ideia de ter uma empresa de locação de carros adaptados veio quando o seu veículo estragou e o seguro, que garantia um reserva, não tinha modelos disponíveis. Wapler, que tem tetraparesia espástica (evolução de uma lesão medular sofrida ao pular em uma piscina, em 2010), se viu, então, desafiado a empreender.
O acidente comprometeu seus movimentos, e, por isso, o carro de Wapler é todo adaptado às novas necessidades. O volante tem design diferenciado e os comandos de freio e acelerador são nas mãos.
A unidade que vai estrear a frota da Adapta encontra-se em fase de finalização. Wapler e a irmã e sócia, Luiza, querem usá-la em parceria com as locadoras. Segundo eles, em Porto Alegre, atualmente, só existe um carro adaptado disponível para locação. E, ainda assim, afirmam, a opção não tem uma amplitude de recursos.
Esse mercado se abriu depois de entrar em vigência, em 2015, o Estatuto da Pessoa com Deficiência, que submete às locadoras a obrigatoriedade de ter um carro adaptado a cada 20 veículos. "Queremos trabalhar em parceria para ajudá-las a cumprir a lei", reforça Luiza. A norma prevê que o veículo tenha, no mínimo, câmbio automático, direção hidráulica, vidros elétricos e comandos manuais de freio e de embreagem. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 6,2% da população porta algum tipo de deficiência.
Filho e neto de corredores de rallye, Wapler sempre habitou o universo automobilístico. Neste ano, ele participou como piloto na categoria Passeio do 42º Rallye das Praias, com um carro de corrida adaptado. Em 2009, antes da lesão, foi campeão gaúcho de rallye Regularidade. Assim, o conhecimento por carros e direção virou trabalho. Na Adapta, ele também presta consultoria para pessoas com necessidades especiais interessadas em voltar a dirigir e a quem tenha se lesionado antes de tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH).
O serviço surgiu porque, na primeira vez em que Wapler foi ao Departamento Estadual de Trânsito (Detran) sob a nova condição física, o deram como inapto. Depois de ouvir isso, começou a praticar exercícios físicos intensamente e, agora, não usa mais cadeira de rodas e é capaz de fazer tudo sozinho, com a ajuda de muletas.
"Com lesão medular, tem que ter uma vida de atleta", explica ele, que faz três horas de fisioterapia diárias - no passado, eram cinco. Disponibilizar acompanhamento de musculação, aliás, é um desdobramento de serviços para a empresa. "É outra coisa poder se tornar independente", diz Wapler. O maior diferencial que a Adapta traz está totalmente atrelado à trajetória do empreendedor, que é o know-how das dificuldades enfrentadas por quem é deficiente físico. “As pessoas gostam de dizer que eu tenho sorte. Eu não acho que seja isso. Eu sim me empenho muito”, sustenta. “Estou sempre buscando coisas melhores para mim. A Adapta, basicamente, sou eu”, resume.
>> Startup Garagem
Para Gustavo e Luiza Wapler, a participação no Startup Garagem em 2015 foi importante porque ajudou a preencher as lacunas do negócio. “Tentam destruir a tua ideia de todos os modos. É muito bom por isso”, reflexiona Gustavo. À espera do primeiro carro adaptado, se diz ansioso para botar a empresa em prática.

Uma vending machine de camisetas

Arthur Giordano, 20 anos, é o cabeça da Tuta Shirts - Camisetas com Atitude, marca de Porto Alegre. Após comprar uma camiseta do Iron Maiden na praia de Garopaba, em Santa Catarina, Giordano viu que era um negócio que gostaria de se envolver. O gosto por vendas vem desde cedo - na 8ª série, ele vendia bombons feitos pela mãe na escola.
A Tuta Shirts surgiu em 2013, quando Giordano começou a pesquisar fornecedores em São Paulo. A primeira encomenda foi de 32 peças. Evoluindo, chegou a 100. Com estampas de bandas de rock, séries, filmes, animes e games, as peças são vendidas principalmente pela página do Facebook.
Giordano é portador de uma síndrome neurológica rara, a Ataxia Telangiectasia. Degenerativa, afeta os sistemas nervoso e imunológico. Ele faz acompanhamento no setor de Imunologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e integra o projeto A-T/Brasil, que reúne pais, portadores e médicos para divulgar a doença.
A empreitada atual do jovem é a implantação de uma plataforma de e-commerce, que está em construção. Boa parte da verba para o desenvolvimento foi recebido do empresário Marco Nahas, da revendedora automotiva Iesa Veículos. Os dois se conheceram por causa de um trabalho na faculdade de Administração e Marketing, que Giordano cursa na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs).
Na ocasião, Nahas chegou a oferecer emprego a Giordano - que gentilmente agradeceu, justificando que queria mesmo ser empreendedor.
Em 2015, Giordano e a mãe-sócia, Gisele, participaram do Startup Garagem, programa de modelagem de negócios da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs). Lá, eles aprimoraram a ideia da Tuta Shirts para a comercialização de camisetas em vending machines, a partir da necessidade de Giordano de vender sem precisar estar presente.
"Queríamos ter uma máquina para pôr na rua e testar um protótipo", salienta Gisele. O custo com o equipamento, adesivagem, sistema, ponto de venda, transporte e embalagens sai por R$ 50 mil.
Compenetrado com os negócios, Giordano conquistou espaço para a venda das camisetas em três lojas da Capital (veja abaixo). "Eu encomendo as camisetas de acordo com o público dos meus pontos de venda", expõe. A startup está em fase de elaboração do plano de negócios, e Giordano já tem o registro de Miniempreendedor Individual (MEI). No e-commerce, ele está estudando ampliar o leque de produtos para acessórios, colares, canecas e almofadas, todas do universo roqueiro, geek e nerd.
"O Arthur é uma pessoa que quebra paradigmas. Ele muda os ambientes, faz diferença", declara Gisele, emocionada com a trajetória do filho.
Em março, a Tuta Shirts participou da Feira do Vinil, evento na Casa de Cultura Mario Quintana. "Vendendo camisetas, eu estou feliz", define Giordano.
>> Onde encontrar as Tuta Shirts?
  • Eletrônica MK Vídeo Games: R. Mal. Floriano Peixoto, 13 – Centro
  • Loja Nerdz (ex-Jambô): R. Sarmento Leite, 627 - Centro Histórico
  • Loja Artesanal Retrô: Rua General Lima e Silva, 293 - Cidade Baixa

O portal de empreendedorismo para mulheres

A vida parecia ir de vento em popa para a cientista da computação, Tatiana de Oliveira. Em dezembro de 2013, estava prestes a concluir o mestrado e finalizar a reestruturação de uma empresa com o marido. Sua história virou de cabeça para baixo ao ser surpreendida com o diagnóstico de câncer na tireóide.
"Como eu não tinha plano de saúde, precisei trancar o mestrado, fechar a empresa e usar o dinheiro do investimento para me tratar. Foi um momento difícil", lembra. A volta por cima aconteceu no ano seguinte, quando Tatiana criou, em Alegrete, na Fronteira-Oeste do Estado, a Emdime, consultoria e portal de empreendedorismo digital voltado às mulheres.
Promovendo cursos, consultorias e eventos sobre o tema, Tatiana diz ter colaborado até agora com pelo menos 200 mulheres na cidade. "Aqui na região não existem movimentos de empreendedorismo como em Porto Alegre", diz. O objetivo dela, com o negócio, é preencher o gap, inserindo o público feminino nos negócios e desenvolvê-lo profissionalmente através da internet.
A história começou quando Tatiana e o marido, Rafael Araújo, passaram em um concurso para professores de um instituto federal. Abordando temas do comércio eletrônico numa das disciplinas, Tatiana começou a se interessar de forma pessoal pelo assunto.
Logo, participou de grupos de empreendedorismo nas redes sociais, inclusive da Rede Mulher Empreendedora. Foi, então, que a empresa nasceu.
Hoje, a página da Emdime no Facebook é seguida por quase 5 mil pessoas interessadas no ambiente digital. Para assessorias personalizadas, com direito a formulação de uma identidade visual, desenvolvimento de plataformas on-line e divulgação digital, os pacotes variam de R$ 900,00 a R$ 1.600,00. Os cursos custam em média R$ 240,00. Para o futuro, Tatiana quer continuar crescendo. Ela já terminou o mestrado e está às portas de finalizar o tratamento contra o câncer. "Vai dar tudo certo", confia. "Ainda tem muitas mulheres precisando de ajuda para empreender."
* Colaboração de Leonardo Pujol