Um estudo de economistas do Fundo Monetário Internacional (FMI) alerta que o consistente aumento da alavancagem das empresas brasileiras, por conta do maior endividamento de companhias como Petrobras, Vale e Eletrobras, é uma preocupação crescente, porque ocorre em um momento de queda da lucratividade e do caixa das corporações. Como resultado, esse movimento pode afetar o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.
A elevação da alavancagem de empresas não financeiras pode propagar choques financeiros para a economia real do Brasil, afetando o PIB, conclui o estudo do FMI, com base em análises econométricas. Com companhias mais endividadas, a propagação pode se dar por meio do efeito nos custos dos empréstimos e aumentos de calotes.
"No Brasil, o aumento da alavancagem é um problema, porque vem em conjunto com um declínio da rentabilidade e das proteções de caixa", afirma o documento. O relatório salienta que choques financeiros contribuíram com 5 pontos percentuais para a queda do investimento privado no Brasil e com 0,5 ponto para o recuo do PIB brasileirono primeiro trimestre de 2015.
A conclusão do estudo é que choques financeiros se tornaram uma variável mais relevante para explicar as flutuações no PIB brasileiro na recente desaceleração da atividade. "A preocupação é ainda mais real, porque os choques na alavancagem das empresas não financeiras podem afetar negativamente o crescimento potencial (do Brasil)." Os economistas do FMI ressaltam que as companhias do Brasil, assim como em outros países emergentes, se aproveitaram dos juros baixos e dos recursos abundantes no primeiro mundo após a crise mundial de 2008 para se financiarem no mercado externo.
Grandes companhias brasileiras, sobretudo a Petrobras, passaram crescentemente a financiar suas operações por meio de emissões de bônus no mercado internacional. Com isso, houve um nítido aumento da alavancagem no Brasil, com crescimento dos passivos em moeda estrangeira. A diferença de outros emergentes é que, no Brasil, o aumento das dívidas vem sendo acompanhando de piora de outros indicadores das empresas, como a rentabilidade.
Após uma década de crescimento relativamente forte do PIB, o Brasil teve severa contração em 2015, além de aumento da inflação e de piora de indicadores fiscais, com o segundo ano consecutivo de déficit primário, ressalta o estudo. Tudo isso cria um ambiente mais desafiador para as corporações e o setor financeiro, este último tendo que lidar com pressões para aumento de calotes, por conta do aumento do desemprego.
Para complicar, as investigações de corrupção na Petrobras atingiram outras empresas e paralisaram as atividades da cadeia produtiva do petróleo e gás, destaca o relatório. O setor externo é um complicador adicional, com queda forte dos preços das commodities e alta volatilidade no mercado financeiro.