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Teatro

- Publicada em 27 de Março de 2016 às 16:42

Shakespeare, nosso contemporâneo

Neste abril, comemoramos tanto o nascimento quanto a morte do dramaturgo inglês William Shakespeare. Por casualidade ou por conveniência, nascimento e morte ocorrem no mesmo 23 de abril: a data de morte se conhece com segurança, a de nascimento é apenas alvitrada. Mas o que interessa é que, neste ano, comemoramos os 400 anos de morte do chamado "bardo" de Stratford on Avon.
Neste abril, comemoramos tanto o nascimento quanto a morte do dramaturgo inglês William Shakespeare. Por casualidade ou por conveniência, nascimento e morte ocorrem no mesmo 23 de abril: a data de morte se conhece com segurança, a de nascimento é apenas alvitrada. Mas o que interessa é que, neste ano, comemoramos os 400 anos de morte do chamado "bardo" de Stratford on Avon.
Certamente, Shakespeare é das figuras intelectuais mais conhecidas e referidas, tanto no Ocidente quanto no Oriente. Para além da qualidade de sua obra, certamente muito contribui os mistérios que envolvem sua vida e as discussões em torno da veracidade da autoria das obras que são a ele atribuídas. Ainda há pouco, Roland Emmerih dirigiu Anônimo, obra que pretende afirmar que Shakespeare apenas assinou as obras dramáticas que seriam, de fato, escritas por Francis Bacon que, no entanto, enquanto nobre, não gostaria de ser assim identificado.
De qualquer modo, nenhuma obra, como a de Shakespeare, alcançou tantas transcrições cinematográficas (todas as peças do dramaturgo já foram transformadas em roteiros cinematográficos) e a própria figura de Shakespeare se tornou personagem, por exemplo, em Shakespeare apaixonado, de John Madden. Mais recentemente, o grande realizador, em especial das comédias shakespereanas, foi o diretor Kenneth Branagh. Mas seus grandes dramas, como Macbeth ou Hamlet, receberam diferentes versões, para gáudio de cinéfilos e de apaixonados pelo dramaturgo do Kings Men, no The Globe.
É importante que, ao se completarem 400 anos da morte do dramaturgo, a gente se dê conta que ele foi, acima de tudo, um homem de sua época, com seus acertos e seus equívocos. É isso que aparece em suas obras e por isso elas são eternas. Por que elas são, sobretudo, humanas. Cada um de nós poderá ter preferências, tipo Sonho de uma noite de verão, ou A tempestade, mas a verdade é que, em cada obra, como em Romeu e Julieta, ele soube devassar o coração humano, no seu maior e no seu menor, de Macbeth a Hamlet, registrando, para todo o sempre, as contradições e as grandezas do coração humano.
É por isso que também sobre William Shakespeare tem se produzido o maior conjunto de estudos que se conhece. Dos títulos mais recentes, lembro O código Shakespeare, de Virginia M. Fellows, que também discute a autoria da obra assinada pelo autor; Victor Kiernan, por seu lado, discute a relação entre a vida do artista e do cidadão, em Shakespeare, poeta e cidadão; Frank Kermode, por seu lado, discute A linguagem em Shakespeare, mostrando o quanto o autor estava envolvido com questões mais imediatas e práticas de seu tempo, como a economia e as finanças (em especial, em peças como Medida por medida e O mercador de Veneza, com personagens inclusive judeus, a quem se acusava de usura, mas que, contraditoriamente, eram procurados para empréstimos, quando preciso); o livro de que mais gosto, contudo, é Shakespeare nosso contemporâneo, de Juan Kott. Nesta obra, o crítico polonês mostra como funcionava, na perspectiva de Shakespeare, a roda da (des)fortuna política: como Macbeth, o homem luta para subir e tornar-se rei; mas no momento mesmo em que coloca a coroa e assume o cetro, inicia sua decadência: se ele matou e roubou para chegar ao cume do poder, agora ele será a próxima vítima deste mesmo jogo etc.
Shakespeare soube desvendar a grandeza da alma humana, como em A tempestade mas, ao mesmo tempo, revelar as minudências da traição, como em Ricardo III. Mais que isso: além das dezenas de peças teatrais, Shakespeare assinou poemas (sonetos) e prosa variada: ora colocado como admirável, ora retratado como bêbado e interesseiro, tendo se casado com mulher rica para poder usufruir de suas benesses, a verdade é que não vivemos sem sua criação. Para tudo, e em tudo, personagens e enredos desenvolvidos por William Shakespeare sempre se misturam com nosso cotidiano.
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