O placar para instalação da comissão que analisará o impeachment nada quer dizer: 433 votos a favor e um contra. Até mesmo os governistas votaram a favor, pois querem acelerar o processo de "derrubada do impeachment". O que conta agora é o número de deputados federais que votarão a favor na votação final. E aí, os números divergem. O então ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner (PT), afirmou, em janeiro, que o governo teria de "250 a 255" votos para "enterrar o impeachment". Contudo, isso foi antes das manifestações contra o governo baterem recordes nas ruas e do PMDB ameaçar desembarcar do governo. Caso o PMDB saia do governo na reunião do diretório nacional que fará no próximo dia 29, o impeachment já é dado como certo por muitos analistas políticos. O PMDB de São Paulo, por exemplo, que é a base política do vice-presidente Michel Temer, decidiu, neste sábado, que vai votar pela ruptura com a presidente Dilma.
Temer sobe, Lula sai?
E por falar em Temer, na quarta-feira, o Supremo Tribunal Federal (STF) informou que, caso o processo de impeachment seja aceito no Senado, a presidente Dilma terá de se afastar por 180 dias. Quem assumiria no lugar dela seria Temer. Muitos se perguntam se Temer deixaria Lula como ministro-chefe da Casa Civil. Isso, é claro, se ele sobreviver à série de liminares que tenta anular sua posse. O ministro do STF Gilmar Mendes suspendeu a nomeação do ex-presidente para a Casa Civil, mas o governo ainda pode recorrer da decisão. A saída de Lula como ministro-chefe da Casa Civil é estratégica para a oposição, pois desmontaria - ainda mais - a articulação política do governo Dilma. Sem o armador das jogadas, o time não faz mais gol.
Fontana contra Gilmar Mendes
Ao saber da decisão do STF que suspendia a posse de Lula, o deputado federal gaúcho Henrique Fontana (PT) saiu em defesa do ex-presidente, ou melhor, ao ataque contra o ministro Gilmar Mendes. "É um ministro partidarizado, sem isenção para julgar o ex-presidente Lula. Ele joga com a oposição e é a favor do golpe", declarou o parlamentar. "Baixo conteúdo jurídico e alto conteúdo político", completou. Fontana diz confiar no Judiciário brasileiro e no STF, mas critica alguns "juízes que se partidarizaram, como Sérgio Moro e Gilmar Mendes".
Cadê o Rio Grande do Sul?
O Rio Grande do Sul, outrora protagonista da política nacional, não assumiu nenhum dos cinco principais cargos da comissão que analisará o processo de impeachment. Presidência, relatoria e três vice-presidências da Comissão ficaram com parlamentares de outros estados. Entre os deputados gaúchos, integram a comissão como titulares: Osmar Terra (PMDB), Pepe Vargas (PT), Henrique Fontana (PT), Jerônimo Goergen (PP) e Luiz Carlos Busato (PTB). Já os suplentes serão Bohn Gass (PT), Paulo Pimenta (PT), Luiz Carlos Heinze (PP) e José Stédile (PSB).
Cidadãos de segunda classe
Peemedebistas gaúchos estão acusando Lula e o deputado José Guimarães (PT-CE) de discriminar o Rio Grande do Sul nas negociações sobre as dívidas estaduais. Segundo os deputados Osmar Terra e Alceu Moreira, uma ligação entre Lula e Guimarães mostra que os dois planejavam dar tratamento preferencial ao Nordeste e a estados governados por petistas. "Estão conspirando para proteger os governos comandados pelo PT", disse Terra. "Onze milhões de gaúchos foram tratados como cidadãos de segunda classe", afirmou Alceu.