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Cinema

- Publicada em 22 de Março de 2016 às 15:44

Abelhas e vespas

Hélio Nascimento
O diretor Bill Condon, cujos compromissos com um cinema voltado para a busca de grandes bilheterias ficaram evidenciados nos últimos anos, tenta agora uma espécie de recomeço com este Sr. Holmes, de certa maneira uma retomada do que ele havia proposto com Deuses e monstros, realizado em 1998. Naquele filme ele focalizava a velhice do diretor James Whale (1896-1957), que foi o realizador da mais célebre versão de Frankenstein, o romance de Mary Shelley tantas vezes filmado. Agora, inspirado por uma novela de Mitch Cullin, adaptada por Jeffrey Hatcher, o cineasta mostra a velhice não de um autor, mas de seu personagem. Só que este personagem não é uma figura qualquer. Trata-se do detetive Sherlock Holmes, criado pela imaginação do médico e escritor Arthur Conan Doyle. Tal personagem, um dos mais conhecidos da literatura universal, está no cerne da busca pela compreensão da realidade e a decifração de enigmas. Um dos romances no qual o detetive exerce suas habilidades é citado durante a ação de Sr. Holmes. O cão dos Baskervilles é um relato que pode ser citado como exemplo maior de como uma fantasia pode ser decifrada em processo que culmina tanto na solução de um crime como na imposição da realidade até então oculta. O monstro deixa de ser uma ameaça, um fantasma é substituído por um homem verdadeiro e toda uma trama é desfeita ao ser exposto o método de uma encenação. O poder de observação e a inteligência são maiores do que deformações e tentativas de dar à agressividade a aparência de um mistério.
O diretor Bill Condon, cujos compromissos com um cinema voltado para a busca de grandes bilheterias ficaram evidenciados nos últimos anos, tenta agora uma espécie de recomeço com este Sr. Holmes, de certa maneira uma retomada do que ele havia proposto com Deuses e monstros, realizado em 1998. Naquele filme ele focalizava a velhice do diretor James Whale (1896-1957), que foi o realizador da mais célebre versão de Frankenstein, o romance de Mary Shelley tantas vezes filmado. Agora, inspirado por uma novela de Mitch Cullin, adaptada por Jeffrey Hatcher, o cineasta mostra a velhice não de um autor, mas de seu personagem. Só que este personagem não é uma figura qualquer. Trata-se do detetive Sherlock Holmes, criado pela imaginação do médico e escritor Arthur Conan Doyle. Tal personagem, um dos mais conhecidos da literatura universal, está no cerne da busca pela compreensão da realidade e a decifração de enigmas. Um dos romances no qual o detetive exerce suas habilidades é citado durante a ação de Sr. Holmes. O cão dos Baskervilles é um relato que pode ser citado como exemplo maior de como uma fantasia pode ser decifrada em processo que culmina tanto na solução de um crime como na imposição da realidade até então oculta. O monstro deixa de ser uma ameaça, um fantasma é substituído por um homem verdadeiro e toda uma trama é desfeita ao ser exposto o método de uma encenação. O poder de observação e a inteligência são maiores do que deformações e tentativas de dar à agressividade a aparência de um mistério.
A lucidez, no entanto, não está imune à passagem do tempo. Porém, o diretor ao mostrar um Holmes envelhecido, não destaca a senilidade, mas a luta contra ela, o que é o tema principal do filme. Na sequência de abertura, durante uma viagem de trem, um menino tenta se aproximar de um inseto que ele julga ser uma abelha. Holmes então observa que não se trata de uma abelha, e sim de uma vespa. Este tema, no trecho final do filme, reaparece modificado, mas de uma maneira que une extremos e dá sentido a toda a narrativa. Outro aspecto dos mais interessantes é a colocação em cena do menino que, de certa maneira, é um substituto de Watson, o grande amigo de Sherlock, também o narrador de como o detetive decifrou, graças ao seu poder de observação, casos aparentemente impossíveis de serem resolvidos. O filme também propicia uma meditação sobre o tema da fantasia e da realidade. Não falta humor na desmitificação criada em torno do personagem. O boné e o cachimbo, segundo o filme, são invenções. O Holmes que aparece em cena pouco tem a ver com a figura tradicional, que povoa a imaginação de leitores dos relatos de Watson. E o filme não esquece, em outra volta a Deuses e monstros, os filmes que foram feitos a partir dos livros de Doyle. O próprio Holmes vai ao cinema para se ver na tela, interpretado por um ator.
Ian McKellen é outra referência, pois era ele que vivia a figura de Whale no filme sobre o diretor de Frankenstein. Obcecado por um caso no qual se envolveu emocionalmente, o protagonista do filme atual é igualmente torturado por um drama pessoal. Mas este drama é vencido por aquele que talvez seja a última manifestação de sua lucidez: a descoberta da causa verdadeira do acidente com o menino. A capacidade de dedução assume então toda a sua relevância. E a carta endereçada ao japonês, ao mesclar fantasia e realidade, não deixa de ser um gesto de humanismo. Bill Condon, por enquanto, não está entre os grandes. Seu filme, por vezes, é prejudicado por falta de ritmo e passa a ser dominado por redundâncias. Mas não deve passar despercebida esta tentativa de ver um personagem tão conhecido e admirado por um ângulo ainda não abordado. Condon, que andou frequentando nos últimos anos gêneros que fazem da concessão e das facilidades suas grandes armas, agora arrisca suas fichas no que se poderia chamar de cinema de câmara: poucos personagens, cenários reduzidos, ausência de efeitos especiais e, principalmente, o empenho em colocar na tela personagens reais, algo que a figura criada por Doyle acabou se transformando, o que o filme, por vezes com ironia e humor, não deixa de constatar.
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