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Teatro

- Publicada em 18 de Fevereiro de 2016 às 22:20

Maldita e incômoda luz

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EMOJI PRINTS /DIVULGAÇÃO/JC
Aquela incômoda luz, que emana do lado ou à nossa frente, é capaz de tirar do sério o mais comportado dos espectadores. É preciso ter paciência com a avalanche de flashes, gravações e mensagens do Whatsapp que pipocam do celular dos vizinhos, seja no cinema, no teatro ou em espetáculos musicais.
Aquela incômoda luz, que emana do lado ou à nossa frente, é capaz de tirar do sério o mais comportado dos espectadores. É preciso ter paciência com a avalanche de flashes, gravações e mensagens do Whatsapp que pipocam do celular dos vizinhos, seja no cinema, no teatro ou em espetáculos musicais.
Por que esta necessidade de registrar tudo o que se passa sem prestar atenção em nada do que ocorre? O ator ou cantor, lá do palco, vira uma mosquinha com braços e pernas, sem nitidez nenhuma, de tão longe que o vivente está. Sua avó não vai conseguir enxergar o rosto do Roberto Carlos tamanha é a luz utilizada no espetáculo, meu amigo.
Os modernos celulares têm capacidade limitada para captar imagens de certas distâncias, mesmo com flash e zoom. No escuro, com luz reduzida, a situação piora ainda mais. De onde se está sentado, como no meio da plateia do auditório Araújo Vianna ou nas fileiras do Theatro São Pedro, apenas uma pesada lente teleobjetiva consegue imagens nítidas. Estamos falando de um equipamento que, somado ao custo da câmera, vale R$ 6 mil. Certamente bem mais do que o ingresso do espetáculo.
Maldita luz, que pisca cada vez que chega mensagem e ilumina uma multidão de mudos, incautos e concentrados espectadores. Todos pagaram ingresso e estão lá para apreciar o show, sarau, peça teatral ou filme. Pelo menos, é o que deseja a maioria - que pensa um pouco além do próprio umbigo e deixa o telefone, em modo silencioso, esquecido no fundo da bolsa até o fim da apresentação. O artista e a plateia agradecem.
Entretanto, a minoria, percebe-se, não é tão pouca assim. O péssimo hábito tem se espalhado com a velocidade do vírus chikungunya entre as atividades culturais de Porto Alegre. Isso quando não começa um animado tro-lo-ló entre namorados para comentar a peça, ou naquele grupo faceiro de amigas que chegou para ver o ator global no palco. Vale é o ti-ti-ti, não o espetáculo.
Se o leitor incomodado for como eu, pode tentar, educadamente, pedir silêncio. Tentar. A resposta, na melhor das hipóteses, vem com um olhar desafiador e um grunhido emanado através dos dentes. Na pior delas, a grosseria toma conta e não é raro ouvir palavrões de quem se sentiu ofendido por simplesmente pedir que fizesse silêncio. Esta é uma crônica urbana e triste sobre a falta de respeito que tem como desculpa o direito ao eu, ao umbigo, a mim. Não é uma crítica teatral, como lê-se lá em cima, mas, sim, uma crítica a quem faz da má educação presença constante na coletividade.
Eu sou pessimista quanto a tudo que relatei até agora. Acredito que ainda irá piorar por motivos já conhecidos: o massivo uso de telefones, a cultura imagética excessiva, o vício em redes sociais, aquele blá blá blá todo da sociedade de hoje, em que pessoas não sabem a capital do Canadá sem recorrer ao Google. Sim, cenas assim ocorrem, já presenciei. Antes do Google, como era? A gente lia. E estudava muito.
Que tal deixarmos a luz, o som e a conversa para nossas casas, uma ida ao restaurante ou a uma partida de futebol? Teatro, shows, cinema, todos exigem um mínimo de concentração, silêncio e respeito, muito respeito. "Os homens de poucas palavras são os melhores", disse William Shakespeare. Fora o lugar comum da citação, que tal tornar-se um deles?
Esse meu desabafo termina aqui e serviu para ocupar a coluna do titular, Antonio Hohlfeldt, que cedeu o espaço - ainda que devido a uma viagem imprevista - e retorna semana que vem para escrever brilhantemente (como sempre) sobre artes cênicas e cultura. Mas tenho certeza que ele concorda com o relatado, leitores.
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