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Cinema

- Publicada em 04 de Fevereiro de 2016 às 22:52

Intolerância

O melhor momento de Trumbo: lista negra pertence a outro filme. Trata-se da antológica cena da Boca da verdade, diante da qual Gregory Peck e Audrey Hepburn encenam um momento revelador em A princesa e o plebeu (Roman Holiday). Naquele trecho de um dos maiores títulos da comédia cinematográfica, um instante perfeito em todos os sentidos, pois os dois personagens estão ocultando suas verdadeiras personalidades, o diretor William Wyler, contando com intérpretes perfeitamente integrados aos papéis, assim como em todo o desenrolar daquela obra-prima, encenou com a mais absoluta perfeição o que o roteiro sugeria. É sempre assim. Por mais notável que seja o roteiro, se não está presente um realizador que saiba transformá-lo em imagem, o resultado pode ser pífio, como aliás provaram algumas refilmagens de clássicos do cinema realizadas por diretores sem talento e inspiração. Wyler, que foi um dos mestres do cinema, não tem seu nome citado no filme de Jay Roach, realizador que habita aquele espaço onde não há sinais de que algo de relevante possa surgir. Dalton Trumbo foi um dos grandes roteiristas de Hollywood e, a se julgar pelo único filme que dirigiu, Johnny vai à guerra, em 1971, tinha domínio também da expressão cinematográfica. Mas sua carreira também foi marcante por outro motivo: a perseguição da qual foi vítima, durante um dos períodos mais sombrios vividos pelo cinema americano: a época na qual, durante o macarthismo, cineastas e atores foram impedidos de trabalhar e alguns até foram presos, acusados de desacatarem o Congresso. Todos foram acusados de atividades antiamericanas, eufemismo utilizado para tirar de circulação e lançar ao ostracismo qualquer pessoa ligada ao cinema que tivesse mostrado simpatia por alguma atividade derivada de interesse pelo marxismo.
O melhor momento de Trumbo: lista negra pertence a outro filme. Trata-se da antológica cena da Boca da verdade, diante da qual Gregory Peck e Audrey Hepburn encenam um momento revelador em A princesa e o plebeu (Roman Holiday). Naquele trecho de um dos maiores títulos da comédia cinematográfica, um instante perfeito em todos os sentidos, pois os dois personagens estão ocultando suas verdadeiras personalidades, o diretor William Wyler, contando com intérpretes perfeitamente integrados aos papéis, assim como em todo o desenrolar daquela obra-prima, encenou com a mais absoluta perfeição o que o roteiro sugeria. É sempre assim. Por mais notável que seja o roteiro, se não está presente um realizador que saiba transformá-lo em imagem, o resultado pode ser pífio, como aliás provaram algumas refilmagens de clássicos do cinema realizadas por diretores sem talento e inspiração. Wyler, que foi um dos mestres do cinema, não tem seu nome citado no filme de Jay Roach, realizador que habita aquele espaço onde não há sinais de que algo de relevante possa surgir. Dalton Trumbo foi um dos grandes roteiristas de Hollywood e, a se julgar pelo único filme que dirigiu, Johnny vai à guerra, em 1971, tinha domínio também da expressão cinematográfica. Mas sua carreira também foi marcante por outro motivo: a perseguição da qual foi vítima, durante um dos períodos mais sombrios vividos pelo cinema americano: a época na qual, durante o macarthismo, cineastas e atores foram impedidos de trabalhar e alguns até foram presos, acusados de desacatarem o Congresso. Todos foram acusados de atividades antiamericanas, eufemismo utilizado para tirar de circulação e lançar ao ostracismo qualquer pessoa ligada ao cinema que tivesse mostrado simpatia por alguma atividade derivada de interesse pelo marxismo.
Durante a Segunda Guerra Mundial, quando os Estados Unidos e o Reino Unido formaram com a União Soviética uma frente única contra o nazismo, o cinema americano não teve dúvida e não encontrou obstáculo algum em elogiar e até mesmo exaltar o stalinismo. Certamente causará surpresa a visão de um filme como Missão em Moscou, realizado por Michael Curtiz para a Warner logo depois de Casablanca. No filme, há um diálogo entre o embaixador americano, vivido por Walter Huston, e Stalin, no qual o primeiro demonstra claramente sua admiração pelo ditador e sua política. Há também cenas de visitas do protagonista a fábricas russas, durante as quais há uma exaltação à política industrial soviética. Mas o mais revelador é a defesa que o filme faz dos infames processos de Moscou, quando, na década de 1930, toda a liderança da revolução foi dizimada. O filme de Curtiz não foi o único. Terminada a guerra e com outro inimigo no horizonte, setores da direita americana fizeram valer sua força e um período de perseguições, deplorável em todos os sentidos, mesmo que não tenha chegado perto das execuções perpetradas pela versão soviética do machartismo, começou e transformou o cinema americano em instrumento de uma intolerância que via comunistas em todo o lugar e graves ameaças em qualquer crítica.
Para qualquer sociedade, é altamente prejudicial a perseguição a pessoas que apenas estão expressando suas ideias. O mérito do filme de Roach reside nesse ponto, mesmo que o faça com superficialidade, até por omitir nomes importantes que tiveram sua carreira prejudicada. O melhor se encontra nas gravações e imagens do noticiário cinematográfico do período: a manifestação digna e corajosa do ator Peck, a constrangedora fala de Robert Taylor e as presenças de Humphrey Bogart e Laureen Bacall, dois defensores dos acusados. E o filme também não esquece o senador Parnell Thomas, falso paladino da moral e da democracia e que também conheceu o cárcere quando suas falcatruas foram descobertas. Talvez uma dose de tolerância absolva o filme das caricaturas que faz de Otto Preminger e Kirk Douglas, mesmo porque é justo lembrar o papel daqueles dois no processo que liquidou com aquela onda de intolerância. Mas o autor do roteiro de A princesa e o plebeu merecia um filme de outro nível.
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