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- Publicada em 22 de Fevereiro de 2016 às 14:20

Mulheres trabalham mais do que os homens

 Empresas &Negócios - mulheres 2 - visualhunt

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VISUALHUNT/DIVULGAÇÃO/JC
A mulher trabalha cada vez mais que o homem. Não se trata de opinião ou sentimento, é dado estatisticamente comprovado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em uma década, a diferença aumentou em mais uma hora. Em 2004, as mulheres trabalhavam quatro horas a mais que os homens por semana, quando se soma a ocupação remunerada e o que é feito dentro de casa. Em 2014, a dupla jornada feminina passou a ter cinco horas a mais, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), que reúne informações de mais de 150 mil lares.
A mulher trabalha cada vez mais que o homem. Não se trata de opinião ou sentimento, é dado estatisticamente comprovado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em uma década, a diferença aumentou em mais uma hora. Em 2004, as mulheres trabalhavam quatro horas a mais que os homens por semana, quando se soma a ocupação remunerada e o que é feito dentro de casa. Em 2014, a dupla jornada feminina passou a ter cinco horas a mais, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), que reúne informações de mais de 150 mil lares.
Nestes 10 anos, os homens viram sua jornada fora de casa cair de 44 horas semanais para 41 horas e 36 minutos, em um resultado influenciado tanto pela formalização do mercado de trabalho quanto pelo aumento do número de homens inativos nos últimos anos, explica André Simões, do IBGE. A estagnação econômica de 2014 também ajuda a explicar a situação, com o aumento do desemprego. O tempo extra não se converteu em maior dedicação a afazeres domésticos: a jornada deles dentro de casa permaneceu a mesma de uma década atrás: 10 horas semanais. "É um tempo imutável", classifica a economista da Universidade Federal Fluminense (UFF) Hildete Pereira de Melo, estudiosa das questões de gênero.
No mesmo período, as mulheres mantiveram seu ritmo de trabalho fora de casa em 35 horas e meia. Dentro de casa, porém, a jornada delas chega a 21 horas e 12 minutos por semana, mais que o dobro da dos homens. Regina Madalozzo, especialista em economia de gênero do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), diz que, mesmo quando a mulher trabalha fora, o ritmo é acelerado em casa. "A mulher ainda não se libertou do trabalho doméstico, que é uma responsabilidade de todos."
Apesar de a sociedade estar discutindo a questão, a mudança no comportamento masculino ainda não surgiu nos números. "A mulher trabalha mais que o dobro dos homens. Não houve resposta a essas discussões que estão sendo travadas na sociedade. É cultural",alega Simões, ao lembrar que o menino não é estimulado a ajudar nas tarefas de casa. "A menina ganha vassoura, fogão, boneca para cuidar e o menino, bola para jogar futebol."
Neuma Aguiar, socióloga da UFMG, e uma das poucas pesquisadoras no País a tratar do uso do tempo, diz que a ajuda masculina se limita às compras, ao cuidado dos filhos, principalmente no fim de semana e nos momentos de lazer, e às incumbências com os animais de estimação. O trabalho mais pesado de faxina, cozinha e cuidados recai sobre os ombros da mulher. "A saída que elas encontraram para dar conta de todo o trabalho é ter menos filhos."
E há outro agravante. A mulher trabalha mais se for casada, revela estudo da economista do IBGE Cristiane Soares. No caso dos homens, a situação é inversa, pois se livram das tarefas domésticas: um homem solteiro que tem filhos pequenos e um idoso doente em casa dedica quase 20 horas semanais para o trabalho caseiro. O casamento o livra de mais de nove horas de trabalho, e a jornada cai para 10 horas e 42 minutos. A mulher, na mesma composição familiar, dedica 25 horas e 36 minutos quando não tem companheiro, jornada que aumenta em meia hora ao dividir a vida com um homem. Cristiane diz que a sociedade precisa discutir a intensificação do trabalho da mulher, principalmente no momento em que se discute igualar a idade de aposentadoria.

Casamento aumenta jornada doméstica

Em qualquer tipo de família, seja com filhos, com idoso, com pessoa doente em casa, a mulher trabalha mais se for casada. A constatação é do estudo da economista do IBGE Cristiane Soares, apresentado em seminário da Associação Brasileira de Estudos Populacionais (Abep). O motivo, de acordo com a pesquisa, é que o marido dá trabalho ao invés de poupar a mulher. No caso dos homens, a situação é completamente inversa: o casamento livra o homem das tarefas domésticas. São mais indicadores que mostram a desigualdade de gênero no Brasil, onde a mulher ganhava em média 26% menos que os homens em 2014. Dez anos antes, ganhava 30% menos.
De acordo com os números apresentados pela pesquisadora, um homem solteiro que tem filhos pequenos e um idoso doente em casa dedica quase 20 horas semanais para o trabalho caseiro. O casamento o livra de mais de nove horas de trabalho: a jornada cai para 10 horas e 42 minutos. A mulher, na mesma composição familiar, dedica 25 horas e 36 minutos quando não tem companheiro. Ao se casar, o tempo dispendido sobe para 26 horas e 6 minutos, jornada meia hora maior ao dividir a vida com um homem. "Quando não é casado, o homem costuma terceirizar o serviço doméstico. Quando casa, transfere para a mulher", diz Cristiane.
Para Regina Madalozzo, especialista em economia de gênero do Insper, o serviço doméstico é considerado responsabilidade feminina. "Quando é casada, trabalha ainda mais em casa, pois quando o homem está morando com uma companheira, ele diminui o ritmo de afazeres domésticos. A cultura é que o trabalho doméstico é responsabilidade da mulher. É uma visão até das próprias mulheres. Prova disso é usarmos o termo 'ele ajuda em casa', como se não fosse uma obrigação", argumenta.
Essa cultura de serviço faz a mulher reproduzir essa situação fora de casa. Segundo o mesmo estudo, 86% dos trabalhadores domésticos são mulheres. Entre os cuidadores, essa parcela sobe para 88,5%. Essas duas funções empregam 20% das mulheres ocupadas no País. "A sociedade aceita essa situação de sobrecarga feminina. A população está envelhecendo, e o trabalho de cuidado de idosos e doentes está sobre os ombros das mulheres. Em 2060, um terço da população será de idosos ", afirma Cristiane.
A economista diz que a sociedade precisa discutir a intensificação do trabalho da mulher, principalmente no momento em que se discute igualar a idade de aposentadoria. "As mulheres vivem mais, porém têm um trabalho mais intenso." De acordo com a professora Maria José Tonelli, pesquisadora do Núcleo de Estudos em Organizações e Gestão de Pessoas da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, a desigualdade não se restringe ao uso do tempo. "Essa condição apenas confirma um traço cultural que é a profunda desigualdade do país: entre pobres e ricos e entre homens e mulheres", critica. Segundo ela, o Brasil, assim como outros países latinos, é bastante machista. "Romper essa barreira não é fácil, pois muitas vezes ela é quase invisível, de comportamento e valores", alerta.
Thiago de Almeida, psicólogo especialista em relacionamento e professor da Universidade de São Paulo (USP), aconselha os casais a dividirem as tarefas de acordo com preferências e limitações. "A delegação de tarefas deve ser feita de forma pacífica. Tem aquela frase: atrás do folgado tem sempre um enforcado. Então, para que nenhum dos dois seja o enforcado, são necessários acordos."

Igualdade é questão de justiça, diz a ONU

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VISUALHUNT/DIVULGAÇÃO/JC
A representante da ONU Mulheres no Brasil, Nadine Gasman, defende que a igualdade de gênero é questão de justiça. Para ela, quanto mais tarefas do lar as mulheres assumirem, menos chances têm de se dedicar a outros setores importantes, como a política.
Por que a desigualdade de jornada aumenta?
Nadine Gasman - Quanto mais as mulheres se sobrecarregam com cuidados familiares e administração dos lares, menos chances têm de se dedicar a setores da vida que lhes interessa, como a política. Estamos falando de ajustes que precisam ser feitos com base na justiça. O empoderamento das mulheres é viável com a consciência sobre os seus direitos, e com uma sociedade engajada em mudar estruturas que fortalecem o poder dos homens às custas dos sacrifícios e de violações de direitos de gerações de mulheres.
Por que as mulheres ainda ganham menos do que os homens?
Nadine - O mundo do trabalho é outra área em que as desigualdades de gênero e raça são visíveis devido à ocupação de postos de trabalho, oportunidades de ascensão profissional, condições de trabalho, remuneração e administração da vida pessoal. As mulheres ainda recebem cerca de 30% menos que os homens. O racismo e o sexismo geram situações extremamente cruéis para o desenvolvimento de carreiras. Quero chamar a atenção para a responsabilidade das empresas de se colocarem de forma ativa e colaborarem para o fim do racismo e do machismo.
Como mudar isso?
Nadine - Os estudos apontam que, mantidas as condições atuais, levará 80 anos para alcançar a igualdade de gênero. A ONU adotou 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para que o mundo faça mudanças rápidas e estruturais até 2030. É preciso identificar onde estão mulheres e homens, como vivem, onde elas estão excluídas, definir ações para corrigir essas distorções e assegurar o equilíbrio para que realmente possam desenvolver o seu potencial e lograr estas mudanças até 2030.
Como a mulher pode acelerar esse processo?
Nadine - A igualdade de gênero é uma questão de justiça. É importante que mulheres e homens façam acordos sobre como administrar as tarefas familiares e de administração da casa. Estamos falando de novos valores sobre a vida, respeito e novas formas de relacionamento. Sem violência, intimidações e funções determinadas. Se todos vivem sob o mesmo teto, por que cabe às mulheres todo o trabalho?
De que forma a ONU atua para reduzir as diferenças ?
Nadine - A ONU Mulheres trabalha pela igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres. As Nações Unidas acreditam que é possível promover mudanças estratégicas no mundo até 2030. E as mulheres são decisivas nesse processo. Estamos desenvolvendo a iniciativa "Planeta 50-50: um passo decisivo pela igualdade de gênero" e buscando parcerias para que a igualdade seja uma realidade em 14 anos. Temos de trabalhar para eliminar todas as formas de desigualdades e discriminações.