A Organização das Nações Unidas (ONU) alerta que a violência no Iraque continua "assombrosa", sendo que mais de 18 mil civis morreram e outros 36 mil ficaram feridos entre janeiro de 2014 e outubro de 2015. Em relatório publicado ontem, a ONU também disse que o conflito provocou o deslocamento de cerca de 3,2 milhões de pessoas no período, dentre as quais 1 milhão de crianças em idade escolar.
A região mais afetada pela violência foi a província de Bagdá, que registrou quase 1.800 mortos e 4.300 feridos entre maio e outubro de 2015, período em que agentes da ONU fizeram o relatório. Os números correspondem a cerca de metade do total de mortos e feridos registrados em todo o país no período. A entidade aponta que os índices podem ser ainda maiores, porque não se sabe o número de pessoas atingidas por efeitos secundários do conflito, como escassez de comida, água e atendimento médico.
Nos últimos anos, voltou a crescer a violência sectária no Iraque, estimulada pela ascensão da milícia radical Estado Islâmico (EI), que declarou em junho de 2014 um califado em partes do país e da vizinha Síria. O relatório aponta que o EI cometeu diversos crimes contra a população civil, incluindo execuções públicas, recrutamento de menores e a escravização e a exploração sexual de crianças e mulheres. A ONU estima que cerca de 3.500 pessoas permaneçam escravizadas pelos terroristas, sendo a maioria delas crianças e mulheres da minoria religiosa yazidi.
"O EI continua a mirar deliberadamente comunidades étnicas e religiosas por meio de uma série de abusos e crimes como parte de sua política de supressão, expulsão e eliminação dessas comunidades, empregando a violência sexual como tática de guerra", diz o relatório da ONU. O documento também indica violações de direitos humanos cometidas pelas Forças Armadas iraquianas, por milícias aliadas e pelas tropas peshmerga, da minoria curda. Entre as violações citadas há bombardeios contra civis e restrições de movimento pelo país.
"Este relatório joga luz sobre o persistente sofrimento dos civis no Iraque e ilustra duramente aquilo de que tentam escapar refugiados iraquianos quando fogem para a Europa e outras regiões. Este é o horror que eles enfrentam em sua terra", declarou o alto comissário da ONU para os direitos humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein.
Embora os índices de violência contra civis apontados pela ONU sejam alarmantes, continuam abaixo dos registrados durante o pico dos conflitos sectários no Iraque, entre 2006 e 2007. O documento de 35 páginas foi produzido pelo Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos (Acnudh) e pela Missão de Assistência da ONU para o Iraque (Unami).