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Geral

- Publicada em 31 de Janeiro de 2016 às 22:28

Sobreviventes do Holocausto lutam contra discriminação entre povos

Stanton reencontrou familiares na Inglaterra após a guerra

Stanton reencontrou familiares na Inglaterra após a guerra


fotos GILMAR LUÍS/JC
Suzy Scarton
Já faz 71 anos, mas a voz embargada do holandês Bernard Kats, de 79 anos, mostra que ele ainda não esqueceu. Quando a Holanda foi invadida pelas tropas alemãs durante a Segunda Guerra Mundial, em 1940, Kats tinha apenas três anos. O pai foi o primeiro a ser morto em um dos vários campos de concentração espalhados pela Europa. Sua mãe se escondeu, entregando Kats e a irmã aos cuidados de uma família, que os disfarçou como católicos. Kats teve de decorar um disfarce e, a ele, foi dito que a mãe falecera em um bombardeio, na cidade de Rotterdam. A família que os acolheu teve de abdicar da vida que levava para salvar a deles.
Já faz 71 anos, mas a voz embargada do holandês Bernard Kats, de 79 anos, mostra que ele ainda não esqueceu. Quando a Holanda foi invadida pelas tropas alemãs durante a Segunda Guerra Mundial, em 1940, Kats tinha apenas três anos. O pai foi o primeiro a ser morto em um dos vários campos de concentração espalhados pela Europa. Sua mãe se escondeu, entregando Kats e a irmã aos cuidados de uma família, que os disfarçou como católicos. Kats teve de decorar um disfarce e, a ele, foi dito que a mãe falecera em um bombardeio, na cidade de Rotterdam. A família que os acolheu teve de abdicar da vida que levava para salvar a deles.
Kats foi um dos milhões de judeus, ciganos, poloneses, comunistas, homossexuais, prisioneiros e deficientes físicos e mentais que foram perseguidos durante os seis anos de guerra. Cerca de 6 milhões de judeus não tiveram a mesma sorte que ele - não sobreviveram à perseguição nazista. No dia 27 de janeiro, a voz de Kats se uniu à do também holandês Johannes Melis, à do polonês Max Wachsmann Schanzer e à do alemão Curtis Henry Stanton em evento alusivo ao Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, realizado no Museu da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Atualmente, os quatro sobreviventes, já adaptados à língua portuguesa, residem na Capital.
A celebração em homenagem aos que morreram nas mãos das forças de Adolf Hitler faz alusão ao dia em que os prisioneiros do maior campo de concentração nazista, Auschwitz Birkenau, localizado na Polônia, foram libertados pelas tropas russas - 27 de janeiro de 1945. Os relatos são semelhantes, embora individuais na dor que cada lembrança traz. Polonês de 87 anos, Max Wachsmann perdeu os pais e a irmã em Auschwitz. "Quando minha família foi capturada, eles foram levados direto para a câmara de gás. Meus três irmãos e eu fomos separado e levados para campos de trabalho forçado. Virei um número, o 25.861", descreve, em um português ainda pouco claro. Para Wachsmann, a guerra acabou no dia 8 de maio de 1945, quando foi libertado pelos russos.
O alemão Curtis Stanton, de 86 anos, também perdeu os pais nos campos de concentração. Para ele, a guerra deu os primeiros sinais em 1933, quando o pai perdeu o emprego sem maiores explicações. Em 1936, Stanton foi "convidado a se retirar" do colégio em que estudava, uma vez que era constantemente alvo de provocações antissemitistas. Antes de o pesadelo começar, um irmão e uma irmã de Stanton foram estudar na Inglaterra. O pai, a mãe e ele não tiveram a mesma sorte e, quando capturados, foram levados ao gueto de Lodz, na Polônia. Lá, a família sofreu a primeira baixa, quando o pai de Stanton faleceu. Depois, ele e a mãe foram levados para Auschwitz. "Quando descemos do trem, havia dois caminhos. Minha mãe foi pelo esquerdo. Nunca mais a vi", lembra. Meses depois, Stanton foi para Mauthausen, outro campo de concentração, na Áustria, e, depois de um tempo, foi levado para outro campo, em Berlim, na Alemanha. Quando seriam transferidos para a Suécia, em 1944, foram encontrados por patrulheiros ingleses. Finalmente, Stanton se reencontrou com os irmãos, na Inglaterra. "Levei muito tempo para me readaptar à vida civilizada."
A única história que se difere das outras é a do holandês Johannes Melis, de 77 anos. Melis é católico e poderia ter escapado ileso dos horrores da guerra. No entanto, o pai dele era membro da resistência holandesa e decidiu que não ficaria de braços cruzados como testemunha dos horrores nazistas. "Escondemos famílias judaicas na minha casa. Meu pai criou esconderijos no sótão, embaixo do vão da pia da cozinha e atrás da despensa. Depois de um tempo, também nos tornamos alvo dos alemães e fugimos para um bunker próximo a um rio. Meu pai foi preso duas vezes tentando buscar alimentos e água para nós", relata o holandês. Por fim, a família de Melis foi resgatada por soldados norte-americanos. "Perguntavam ao meu pai se ele não tinha medo. Ele dizia que tinha, tinha muito medo, mas mais medo ainda de morrer sem ter ajudado aquele povo."
Os relatos são semelhantes. Completamente igual, no entanto, é o pedido dos quatro sobreviventes. Não se pode esquecer, não se pode repetir. Hoje, eles lutam contra a discriminação que o povo judeu ainda sofre, 71 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial. Também mantêm a dor que viveram, deixando abertas as feridas latejantes, para evitar que novas sejam provocadas em outros inocentes.
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