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Geral

- Publicada em 03 de Janeiro de 2016 às 22:05

'Estratégias para prevenir a Aids devem ser pontuais'

Cristina destaca importância da eliminação da transmissão vertical

Cristina destaca importância da eliminação da transmissão vertical


MARCELO G. RIBEIRO/JC
Há cerca de cinco anos, Porto Alegre tinha uma taxa de transmissão vertical de Aids (infecção de mãe para filho) de cerca de seis casos para cada mil nascidos vivos. Em 2014, o percentual caiu para 2,9 casos a cada mil. Até 2021, a meta é zerar os casos.
Há cerca de cinco anos, Porto Alegre tinha uma taxa de transmissão vertical de Aids (infecção de mãe para filho) de cerca de seis casos para cada mil nascidos vivos. Em 2014, o percentual caiu para 2,9 casos a cada mil. Até 2021, a meta é zerar os casos.
Em entrevista ao Jornal do Comércio, Cristina Albuquerque, coordenadora do Programa Sobrevivência e Desenvolvimento Infantil e HIV/Aids do Unicef no Brasil, aborda aspectos sobre a eliminação dessa forma de transmissão, além de tratar das questões que fazem a Capital liderar os índices de Aids no País. Ela também ressaltou que, nos últimos 15 anos, a morte de adolescentes por HIV triplicou no mundo e que a situação merece atenção.
Jornal do Comércio - Porto Alegre lidera o ranking da doença entre as capitais há anos. Quais gargalos a senhora observa no tratamento das pessoas infectadas que acabam refletindo também na transmissão vertical?
Cristina Albuquerque - Temos hoje um cenário da epidemia global e um cenário no Brasil. O caso de Porto Alegre, em especial, destoa do restante do País. O Ministério da Saúde já está fazendo um estudo sobre comportamento, práticas e atitudes na cidade. Vimos que as características da epidemia diferem do perfil epidemiológico do resto do Brasil e precisamos desse estudo específico para saber o que está ocorrendo. Apesar de ter diminuído o número de casos de transmissão vertical, Porto Alegre continua com um grande número em relação ao País. A pesquisa que será realizada pela prefeitura e o Unicef observará a linha de cuidado dessas gestantes. Nós sabemos o que está acontecendo, mas precisamos conhecer o motivo de estar acontecendo. Assim, saberemos a intervenção mais indicada. De modo geral, não é mais para os bebês nascerem com HIV. Nós temos medicamentos, temos estrutura e tecnologia.
JC - O foco de prevenção, no Brasil, tem sido as pessoas mais jovens, que apresentaram um crescimento da infecção. O mesmo precisa ser feito na Capital?
Cristina - Em Porto Alegre, nós dizemos que a epidemia é mista. Por isso, é importante que as estratégias sejam pontuais. Acredito que a Capital tem condições de mudar completamente esse cenário. Ressalto que, de forma geral, a preocupação também deve ser com os jovens, de 15 a 24 anos. Enquanto o mundo reduziu em 38%, em 2014, a infecção nessa faixa etária, o Brasil aumentou 11%. Isso indica que está havendo um crescimento. Por isso, a política do Ministério da Saúde tem se modificado, consistindo agora no testa e trata, em uma perspectiva de prevenção coletiva e comunitária, deixando a carga viral indetectável e sem transmissão.
JC - Além de ações mais pontuais para as pessoas com maior risco de infecção, quais formas de prevenção vêm sendo trabalhadas?
Cristina - A ideia é trabalhar com a prevenção combinada. O preservativo é superválido, mas sabemos que existem barreiras comportamentais para o seu uso. Isoladamente, ele não é eficiente. Temos que agir cada vez mais a partir dos dados, criando intervenções focalizadas. Não adianta planejar uma política pública para a população em geral. Se é para os jovens, a política terá que ser especial para eles e construída com eles. Da mesma forma, com a transmissão vertical. As moradoras em situação de rua e as usuárias de drogas precisam de ações específicas. Temos verificado ainda a feminização da epidemia de Aids no Brasil, que é uma questão de gênero, e que as causas comportamentais precisam ser trabalhadas. Nesse sentido, é preciso empoderar mulheres e meninas, levando informação, e entender como na prática isso acontece. As mulheres têm o direito de se protegerem de doenças sexualmente transmissíveis e de estender essa proteção aos seus parceiros e parceiras.
JC - Escutamos mais sobre prevenção à Aids do que à sífilis, que também tem grande incidência de transmissão vertical. Qual o panorama da doença nos últimos anos?
Cristina - Observamos o crescimento principalmente depois da escassez da matéria-prima essencial para fazer a penicilina benzatina, a partir de 2014. Hoje, não se consegue mais produzir esse medicamento no mundo e ele é o principal para a sífilis. Vários casos de gestantes que tiveram resultado positivo no teste da doença não fizeram tratamento, resultando em aborto ou bebês com má-formações graves e que levam a óbito. Essas são mortes totalmente evitáveis.
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