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Teatro

- Publicada em 14 de Janeiro de 2016 às 22:30

Dona Flor ganhou cor e vitalidade gaúcha

Antonio Hohlfeldt
Apesar da crise, e de ter sido boicotada pelo Conselho Estadual de Cultura (?), a 17ª edição do Porto Verão Alegre começou no fim de semana passado, com dezenas de atrações, sobretudo reprises de espetáculos de grande apelo público, algumas estreias e, sobretudo, um espetáculo que concretiza, pela segunda vez, no âmbito desta mostra, a decisão de seus realizadores patrocinarem, ao menos parcialmente, uma nova produção cênica na cidade. Se, no ano passado, Nestor Monastério apresentou Romeu e Julieta, de Shakespeare, desta vez coube ao diretor Zé Adão Barbosa escolher outro clássico, não da dramaturgia, mas da literatura brasileira: Dona Flor e seus dois maridos, de Jorge Amado. Monastério havia obtido um bom resultado com seu trabalho, mas não chegou a entusiasmar. Zé Adão, pelo contrário, repartindo a direção com a coreógrafa Carlota Albuquerque e a diretora Larissa Sanguiné, acertou a mão, sobretudo a partir da escolha dos intérpretes dos três personagens central, Dona Flor (Kaya Rodrigues), Vadinho (Cassiano Ranzolin) e Tom Peres, como Teodoro, sendo um a antítese do outro.
Apesar da crise, e de ter sido boicotada pelo Conselho Estadual de Cultura (?), a 17ª edição do Porto Verão Alegre começou no fim de semana passado, com dezenas de atrações, sobretudo reprises de espetáculos de grande apelo público, algumas estreias e, sobretudo, um espetáculo que concretiza, pela segunda vez, no âmbito desta mostra, a decisão de seus realizadores patrocinarem, ao menos parcialmente, uma nova produção cênica na cidade. Se, no ano passado, Nestor Monastério apresentou Romeu e Julieta, de Shakespeare, desta vez coube ao diretor Zé Adão Barbosa escolher outro clássico, não da dramaturgia, mas da literatura brasileira: Dona Flor e seus dois maridos, de Jorge Amado. Monastério havia obtido um bom resultado com seu trabalho, mas não chegou a entusiasmar. Zé Adão, pelo contrário, repartindo a direção com a coreógrafa Carlota Albuquerque e a diretora Larissa Sanguiné, acertou a mão, sobretudo a partir da escolha dos intérpretes dos três personagens central, Dona Flor (Kaya Rodrigues), Vadinho (Cassiano Ranzolin) e Tom Peres, como Teodoro, sendo um a antítese do outro.
No caso de Kaya Rodrigues, sua trigueirice e sua estampa, de modo geral, aproximaram-na da figura de Sonia Braga, que vivera a mesma personagem no cinema e na televisão e cuja imagem ficara gravada na memória do público. No caso de Ranzolin, ele replica José Wilker, inclusive na cor do cabelo, bastante loiro, aproximando-se do sarará; Tom Peres não era tão exigido, mas o ator soube incorporar com personalidade a figura do segundo e apaixonado marido, de sorte que a vivacidade da atriz, o cinismo e a erótica alegria de viver de Vadinho e a paixão de Teodoro animam efetivamente a encenação de hora e meia de duração, agradando em cheio à platéia, que lotava o Theatro São Pedro e aplaudiu de pé, ovacionando, o final da performance.
Outras decisões corretas foram incluir Álvaro RosaCosta e Simone Rasslan, não apenas enquanto responsáveis pela escolha da trilha sonora e eventuais compositores de novas canções, mas também enquanto intérpretes. Isso ajudou, certamente, a dar segurança e equilíbrio ao desempenho de todo o conjunto do elenco, sobretudo porque a opção de Zé Adão Barbosa foi a de uma versão musicada. Assim, temos a correta utilização de composições folclóricas e de tradição popular, mais algumas composições clássicas da música brasileira de décadas anteriores, aliadas a algumas obras compostas especialmente para o espetáculo, que tem, assim, vivacidade e criatividade, prendendo a atenção do espectador desde o primeiro momento, quando da cena das baianas.
A cenografia de Paulo Pereira deu leveza à montagem, porque utiliza apenas alguns acessórios que são inventivamente utilizados, como uma grande mesa que se transforma em cama, ou duas basculantes de janelas e portas que permitem uma espécie de movimento cinematográfico de zoom para algumas cenas da montagem, o que ajuda na dinâmica de todo o espetáculo.
O colorido característico das terras tropicais; a alegria espontânea da cultura baiana; uma espécie de celebração vital livre e sem censura, mas não abusada, permite algum palavrão em cena, sem qualquer constrangimento para ninguém, assim como as passagens em que Vadinho aparece inteiramente nu são hilárias e a platéia aceitou de bom grado a brincadeira, justamente porque todas as seqüências são espontâneas.
Pode-se dizer que esta montagem porto-alegrense de Dona Flor e seus dois maridos homenageia com respeito e fidelidade ao criador do romance. Trata-se de uma produção sensível, alegre, inteligente nas soluções buscadas: não foi pretenciosa, porque soube reconhecer suas medidas e, com isso, alcançar soluções que agradaram e que deram vida à narrativa. Que o espetáculo, depois das duas performances no Porto Verão Alegre, possa cumprir uma exitosa temporada, porque merece.
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