Há quem queira apostar em uma nova empreitada em vez de aposentar as chuteiras

Empreender não tem idade


Há quem queira apostar em uma nova empreitada em vez de aposentar as chuteiras

Não há idade certa para mudar os rumos da vida. Abrir um negócio na fase da maturidade, por exemplo, já virou opção para muitos brasileiros. O cálculo do Sebrae é que, devido ao aumento da qualidade e expectativa de vida, cerca de 3,1% dos empreendedores têm mais de 60 anos.
Não há idade certa para mudar os rumos da vida. Abrir um negócio na fase da maturidade, por exemplo, já virou opção para muitos brasileiros. O cálculo do Sebrae é que, devido ao aumento da qualidade e expectativa de vida, cerca de 3,1% dos empreendedores têm mais de 60 anos.
A porto-alegrense Iara Ducceschi, 65 anos, faz parte desta estatística. Quem a vê brincando com os cachorros no jardim de casa, na zona Sul de Porto Alegre, não imagina a grande correria que é seu dia a dia. Nos fundos da residência, bem escondidinha, funciona a fábrica de pães Dolce Vita, empresa que Iara idealizou em 2008, aos 58 anos de idade.
Nutricionista de formação, ela montou a panificadora quando decidiu interromper um negócio ao qual se dedicou por mais de duas décadas: a importação de livros italianos.
"Passei 21 anos trabalhando com livros; um dia este mercado decresceu, e precisei arrumar outra ocupação. Não queria ficar sem fazer nada", conta.
De descendência italiana, Iara não tem o hábito de ficar parada por muito tempo. Ela garante que trabalha de domingo a domingo e que seu único lazer é assistir ao noticiário político na TV. "Não tem sábado e nem domingo; quando tem trabalho, tem trabalho", diz.
Na Dolce Vita, ela faz de tudo. Desde os contatos com estabelecimentos comerciais, que revendem os pães, até a entrega nos pontos de venda. É ela, ainda, quem administra o pessoal da fábrica. O negócio de Iara é uma "empresa enxuta", como ela mesma define. Com quatro funcionárias, a Dolce Vita produz um total de 500 pães por mês.
Há quatro anos, a fábrica começou a desenvolver o chamado Panvita - receita que não leva glúten. O pão é comercializado a um preço médio de R$ 5,00 em mercados e lojas de produtos naturais.
A opção para intolerantes virou a queridinha da dona, que se descobriu também apaixonada por essa culinária e agora se dedica exclusivamente ao nicho.
O amor pelos negócios na terceira idade é de família. A empresária conta com o apoio da mãe, Francesca Ducceschi, 95, que é ativa na fabricação do legítimo panforte italiano. Francesca gosta, inclusive, de dar alguns pitacos no negócio da filha, quando necessário.
Para Iara, não houve grandes desafios em ter de criar uma empresa depois de uma carreira profissional longa. "Não acredito que exista desafios por causa da idade. Tem que ter tino comercial. Não adianta eu querer vender bijuteria em uma época de recessão", compara.

Aposentadoria como ponto de partida para loja própria

Como todo funcionário, Isidoro Manuel dos Santos, 66 anos, de Santo Antônio da Patrulha, com quase três décadas de atuação na mesma empresa, nunca soube o que era tirar férias por mais de um mês. Na hora da aposentadoria, há 18 anos, quando isso se tornaria realidade, tomou uma decisão: abrir a própria ferragem.
O tempo livre foi substituído por mais ocupação. "Agora, eu trabalho mais do que quando era funcionário", conta.
A motivação para empreender nem sempre foi presente na vida dele. O ócio foi o principal impulsionador para a iniciativa de abrir o negócio. "Antes de me aposentar, resolvi tirar férias de um mês. Achei que seria bom descansar um pouco, mas, depois de 25 dias em casa, eu não aguentava mais", assume.
A partir dessa constatação, Santos começou a desenhar o projeto de sua ferragem. A credibilidade e o conhecimento adquiridos no ramo das ferramentas através dos anos como empregado ajudaram na consolidação do empreendimento.
Antes mesmo de a Isidoro Ferragem estar oficialmente em funcionamento, já havia clientes na porta de Santos em busca de materiais. Orgulhoso de seu trabalho, ele afirma que sempre fez questão de acompanhar tudo de perto.
"Quem é empresário nunca sai no horário. A pessoa acha que, quando é empregado, trabalha muito; mas quando é dono, trabalha-se o dobro." A grande mudança na transição foi a necessidade de conhecer o todo.
"Eu, de funcionário que comprava e vendia, passei a me preocupar em comprar, vender, administrar e cuidar do financeiro. Não adianta, tem de estar bem preparado", sugere.
Apesar de gostar da rotina, o empresário já pretende ir se desligando aos poucos, passando a responsabilidade para uma das filhas. Mas isso não significa um adeus definitivo: "parar totalmente eu sei que não consigo".

'Depois dos 60, estarei pronto para desafios'

Julio Ribeiro, 52 anos, é jornalista e publisher da revista Press Advertising. A publicação foi criada a partir da união de duas outras revistas de Publicidade e Jornalismo, em 2004. Com o sonho de infância de ser jornalista, o pelotense se realizou em Porto Alegre ao passar por assessorias de imprensa focadas em política e consultorias. Depois de trabalhar tanto com comunicação, o caminho era mesmo empreender na área.
Recentemente, Ribeiro, que também é um dos idealizadores do Prêmio Press de Jornalismo, lançou uma nova publicação, a Press Agrobusiness.
Estão fora de seus planos para o futuro deixar de lado as atividades e a criação de novidades dentro de sua profissão. Segundo ele, estamos vivendo a melhor época para os jornalistas empreendedores. "A crise existe, mas o incerto faz parte da beleza do negócio. Eu quero continuar", afirma. Quando completar 60, daqui a oito anos, Ribeiro estima que estará pronto para desafios ainda maiores.

'Com 65, me vejo firme na minha área'

Para quem vira empreendedor depois da carreira de funcionário, há uma mudança brusca na trajetória. E com aqueles que começam empreendendo jovens ocorre alguma transição ao cruzar determinada idade?
A empresária e professora de artes Silvia Tejada, 55 anos, moradora da cidade de São Lourenço do Sul, diz que o desejo é de continuação. Nada de parar depois dos 60.
Ela começou seu negócio de fabricação de chocolates aos 28 anos de idade, mas espera seguir trabalhando ainda por muito tempo. Daqui a 10 anos, quando completará 65, Silvia se vê firme em sua área de atuação.
"Adoro a minha empresa e não saberia viver sem ela", conta. Ela diz que, independentemente da idade, o grande conselho é manter sempre a persistência.
"O segundo passo, depois da persistência, é dedicação total, sem horário e local. Ter um planejamento estratégico bem-traçado e foco no negócio que vai abrir", sugere ela aos empreendedores que queiram seguir o mesmo caminho.

Você sabia?

Projeções do IBGE indicam que até 2020 o Brasil terá aproximadamente 30 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Muitas delas não estarão em casa fazendo os típicos programas de vovôs e vovós. O número de empreendedores que invadirá esta faixa etária trabalhando também crescerá proporcionalmente.