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Economia | Agronegócios

- Publicada em 17 de Dezembro de 2015 às 19:05

Exterior ajuda a equilibrar conta das carnes

Brasil teve poucas ocorrências até hoje da doença que afeta rebanhos bovinos

Brasil teve poucas ocorrências até hoje da doença que afeta rebanhos bovinos


FREDY VIEIRA/JC
Ao que tudo indica, 2016 será um ano parecido com 2015 para as cadeias produtivas de proteínas animais no Rio Grande do Sul. A continuidade da recessão no mercado interno, que neste ano deu as caras na carne bovina, pode se expandir também para as demais cadeias no ano que vem. A solução deve vir das vendas externas, que, amparadas na reabertura de mercados e no dólar alto, garantirão a estabilidade ou até o crescimento, ainda que tímido, dos setores de carnes.
Ao que tudo indica, 2016 será um ano parecido com 2015 para as cadeias produtivas de proteínas animais no Rio Grande do Sul. A continuidade da recessão no mercado interno, que neste ano deu as caras na carne bovina, pode se expandir também para as demais cadeias no ano que vem. A solução deve vir das vendas externas, que, amparadas na reabertura de mercados e no dólar alto, garantirão a estabilidade ou até o crescimento, ainda que tímido, dos setores de carnes.
Na cadeia das aves, por exemplo, o presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), Nestor Freiberger, prevê um crescimento que classifica como "vegetativo" para 2016, de no máximo 2% - mesmo índice com o qual a entidade projeta fechar 2015. "Diante de um cenário recessivo, qualquer crescimento já é uma vitória" defende Freiberger. O preço do milho, porém, que responde por 65% dos custos, continuará sendo um desafio para os produtores de frango, já que, por conta da exportação do grão, seus preços estão atrelados ao dólar.
Parte do crescimento ainda está ancorada na substituição da carne bovina por outras proteínas mais baratas na mesa do brasileiro, movimento que se acentuou neste ano. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o consumo per capita de frango cresceu 1%, para 43 quilos, enquanto o de carne suína bateu recorde histórico, atingindo pela primeira vez os 15 quilos por pessoa. "Ambas continuarão tendo demanda, porque são as proteínas mais baratas, mas a previsão de aumento do desemprego pode repercutir seriamente no setor", projeta o presidente da ABPA, Francisco Turra, que não prevê um novo aumento considerável no consumo interno das duas proteínas para 2016.
Dentro desse cenário, a expectativa do Sindicato das Indústrias de Produtos Suínos do Estado é de estabilidade na produção no Rio Grande do Sul para o ano que vem. O diretor executivo da entidade, Rogério Kerber, também demonstra preocupação com o preço recebido pela carne suína nas exportações. "Tivemos um ano bem superior em quantidade das vendas, na casa de 15%, mas os preços estão em grande regressão, principalmente porque a economia da Rússia enfrenta dificuldade", comenta Kerber.
A Rússia é responsável por 38% das vendas de suínos do Brasil, que tenta abrir novos mercados para diminuir a dependência. A reabertura do mercado da África do Sul depois de 10 anos, porém, não deve ter repercussão no Estado, segundo Kerber, que classifica a reaproximação com os africanos como um "processo lento e gradual".
A expectativa de todas as principais culturas, entretanto, reside no gigante chinês, que, por problemas ambientais, registrará grandes quebras na sua produção interna. Apenas a diminuição na criação chinesa de suínos, que deve baixar de 57 para 53 milhões de toneladas no ano que vem, já é maior do que toda a produção brasileira, na casa das 3,6 milhões de toneladas anuais. "Além disso, mesmo que outros países abasteçam a China, deixarão de atender a outros mercados que podemos suprir", projeta o presidente do Sips, José Roberto Fraga Goulart.
A China é a grande aposta, também, para as exportações de bovinos. Há, hoje, duas plantas habilitadas no Estado, ambas da Marfrig, em Bagé e Alegrete. "A China já está fazendo a diferença e, em 2016, esse processo deverá ser intensificado", argumenta o vice-presidente da Farsul, Gedeão Pereira.
Mesmo com a queda no consumo interno, estimada em 2,5% em 2015 e em 1,5% em 2016, as exportações ajudaram a "equilibrar o mercado", segundo Pereira. Ainda que perdendo 6,1% em volume, segundo estudo da Farsul, as vendas externas pressionaram os preços internamente, que cresceram 19% em 2015 e levaram o faturamento da pecuária gaúcha para R$ 3,6 bilhões, aumento de 14%, mesmo com a estabilidade em torno dos 1,8 milhões de abates - número que deve se repetir em 2016.
Entre os vários mercados reabertos para a carne bovina brasileira em 2015, como África do Sul, Estados Unidos, Iraque e Japão, o da Arábia Saudita, ocorrido em novembro, é o único que, além da China, empolga o setor gaúcho. "Antes do embargo, em 2012, os sauditas eram compradores do Rio Grande do Sul, então imaginamos que possa representar um diferencial", argumenta o presidente do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Estado (Sicadergs), Ronei Lauxen. A expectativa de Lauxen é que, nas seis plantas gaúchas habilitadas à exportação, as vendas externas continuem a compensar a queda no consumo interno.

Avanço no estado sanitário gaúcho ainda divide opiniões de dirigentes

Além da desvalorização do real, outro aspecto apontado como decisivo para o aumento das exportações gaúchas é o bom estado sanitário do Estado. Em 2015, por exemplo, os produtores comemoraram o reconhecimento do Rio Grande do Sul como área livre da peste suína clássica. Um possível avanço para uma área livre de febre aftosa sem vacinação, porém, não é consenso ente as entidades e não deve acontecer no futuro breve.
O diretor executivo do Sips, Rogério Kerber, que também dirige o Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal (Fundesa), é um dos que defendem o avanço. "Com isso, já estaríamos sentados na mesa de alguns mercados que já se abriram pra Santa Catarina (que já possui o reconhecimento), como Chile, Filipinas e Japão." Kerber defende, porém, que o processo seja feito com cautela, sem prazo definido. "É uma decisão que precisa ter como base critérios técnicos, não políticos", agrega o presidente do Sicadergs, Ronei Lauxen, que afirma que as discussões sobre o tema não estão "intensas" no momento.
O principal temor das entidades contrárias ao fim da vacinação é a perda dos mercados já conquistados pelas proteínas gaúchas caso resulte em algum foco de aftosa. "Se já temos mercados, vamos correr esse risco desnecessário por quê?", defende o presidente da Associação de Criadores de Suínos do Estado (Acsurs), Valdecir Folador.
"É um grande risco sem um grande bônus, pois são mercados cujo potencial não faz valer a pena", concorda o vice-presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira. Ambos questionam ainda a capacidade financeira do Estado em cumprir com as necessidades de fiscalização de fronteiras, que teriam de ser muito maiores com o avanço.