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economia

- Publicada em 17 de Dezembro de 2015 às 19:04

Novos modelos de negócios desafiam cidades

Tecnologia para contratação de transporte chegou a Porto Alegre em novembro causando polêmicas

Tecnologia para contratação de transporte chegou a Porto Alegre em novembro causando polêmicas


MARCOS CUNHA/AGÊNCIA FREE LANCER/AE/JC
Uber, Airbnb, WhatsApp e tantas outras empresas com modelos de negócios inovadores estão surgindo todos os dias em algum canto do mundo. São players que fazem parte de um mercado gigante e transformador, a chamada sharing economy, ou economia compartilhada, que em 2015 movimentou R$ 50 bilhões no mundo. A perspectiva é que, nos próximos 10 anos, alcance R$ 230 bilhões.
Uber, Airbnb, WhatsApp e tantas outras empresas com modelos de negócios inovadores estão surgindo todos os dias em algum canto do mundo. São players que fazem parte de um mercado gigante e transformador, a chamada sharing economy, ou economia compartilhada, que em 2015 movimentou R$ 50 bilhões no mundo. A perspectiva é que, nos próximos 10 anos, alcance R$ 230 bilhões.
No centro desse modelo de negócios está a lógica de que a posse de um bem, como um carro ou um apartamento, por exemplo, é menos importante do que o uso inteligente que você pode fazer dele. E por uso inteligente entende-se o compartilhamento de bens e serviços para reduzir a ociosidade e os custos, bem como gerar menos impacto para o planeta. "Estamos preocupados com a sustentabilidade, o que envolve a necessidade de termos cidades menos congestionadas, uma redução nos acidentes e nas emissões nas áreas urbanas", observa o professor Luis Antonio Lindau, Ph.D em transportes urbanos e diretor do WRI Brasil Cidades Sustentáveis.
De fato, é na área de transporte que esses novos serviços que começam a surgir podem dar a sua maior contribuição. Mas é aí também que estão concentradas as maiores polêmicas. No Brasil, isso começou em 2015, com a chegada do Uber, e tem tudo para se intensificar no próximo ano.
Taxistas e gestores públicos alegam que o serviço prestado a partir dessa plataforma tecnológica é uma concorrência desleal, por não estar sujeito às mesmas regras do mercado tradicional. Já o Uber defende que a Política Nacional de Mobilidade Urbana prevê a modalidade de serviços de transporte individual privado e que, portanto, é legal.
Em Porto Alegre, ainda há um bom caminho a ser percorrido até que os interesses de todos se acomodem. A startup americana aterrissou na capital gaúcha em novembro de 2015 e, desde lá, as discussões só se acaloraram. O prefeito José Fortunati não gostou de a empresa ter entrado em operação dias antes de uma reunião que estava agendada para, justamente, discutir a sua chegada à cidade. A EPTC anunciou que os carros seriam apreendidos. Taxistas chegaram a espancar um motorista do Uber e ameaçar outros.
Do outro lado, boa parte da população, insatisfeita com o serviço prestado pelos táxis, saiu em defesa do aplicativo. Representantes da prefeitura admitiram, em reuniões fechadas, que não imaginavam que o tema causaria tanto burburinho. Um avanço na discussão desse tema foi a criação de um grupo de trabalho, liderado pela EPTC, para tentar chegar a um modelo de regulamentação que beneficie a todos.
"Qualquer lei que diga que uma empresa de base tecnológica não pode atuar será um marco obsoleto e reacionário. Temos que criar uma proposta duradora e boa para a cidade", sugere o criador do Cite - Comunidade, Tecnologia, Inovação e Empreendedorismo -, Jose Cesar Martins. Segundo ele, mais do que pensar em regular o Uber, é fundamental criar uma legislação que proteja as dezenas de novos negócios que devem surgir nos próximos anos e que têm como foco soluções que possam ajudar as cidades a serem mais inteligentes.
Ele sugere uma regulamentação experimental e com compromisso com as externalidades, ou seja, que avalie como a atuação destes novos players impacta o número de carros nas vias públicas e, consequentemente, questões como acidentes fatais, fluxo de trânsito e emissão de gases no ambiente. "Se depois dessas avaliações se perceber que foi positivo, é só dar continuidade", sugere.
Para Lindau, a grande questão que está em jogo é como cada município vai se posicionar em relação a essas inovações disruptivas. "Uma cidade que deseja despontar na sua região precisa tomar posição. Vamos buscar a liderança na implementação e regulamentação destes novos modelos ou apenas esperar?", questiona.
Ao que tudo indica, o caminho não é proibir esses serviços, e sim abrir espaço para o diálogo. "Essa é a melhor forma de resolver esses conflitos. Não adianta as empresas e os governos quererem impor os seus posicionamentos e convicções", alerta o especialista em direito digital e sócio da Patricia Peck Pinheiro Advogados, Márcio Chaves.

Usuários procuram por serviços que ofereçam uma maior qualidade

Telles defende que regulamentação seria uma alternativa viável

Telles defende que regulamentação seria uma alternativa viável


MARCO QUINTANA/JC
A polêmica tem acompanhado a chegada ao mercado de players como Airbnb, Uber e WhatasApp. Em muitos casos, essas startups disputam mercados em áreas cuja qualidade ou preço dos serviços já vinham sendo criticados pela população, como hospedagem, transporte e telefonia. Consequentemente, conquistam a simpatia dos consumidores. "A resposta imediata de quem sentiu seu negócio ser afetado é questionar a necessidade destes players cumprirem determinadas questões legais", observa o especialista em Direito Digital e sócio da Patricia Peck Pinheiro Advogados, Márcio Chaves.
Para ele, em alguns casos, uma saída pode ser criar uma regulamentação que garanta uma competição leal e faça com que os novos players cumpram requisitos de segurança, como os que estabelecem condições para identificação de responsabilidade pelo prestador do serviço. Isso não significa, porém, o estabelecimento de leis que se tornem um entrave para a evolução tecnológica. "Esses modelos vieram para ficar, e a lei tem que seguir a evolução. Não adianta impor uma forma restritiva, pois isso não vai funcionar", defende Chaves.
O diretor-geral do Uber no Brasil, Guilherme Telles, acredita que a regulamentação possa ser uma alternativa e cita exemplos bem-sucedidos em que isso aconteceu. "Quando o Facebook chegou, poder público, usuários e empresas trabalharam juntas na criação do Marco Civil da Internet, que hoje é um exemplo mundial de regulamentação. Precisamos fazer isso também na mobilidade", sugere.