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- Publicada em 09 de Dezembro de 2015 às 11:50

Outras faces de Gumercindo Saraiva


DIVULGAÇÃO/JC
Gumercindo (BesouroBox, 128 páginas), novela do escritor, roteirista, ensaísta e cineasta gaúcho Tabajara Ruas, acima de tudo, utilizando adequadamente recursos ficcionais, revisita o mito Gumercindo Saraiva. Com períodos e frases curtas e ágeis, a narrativa eletrizante foi elaborada a partir do ensaio/reportagem A cabeça de Gumercindo Saraiva, obra que Tabajara escreveu com Elmar Bones e que foi a mais vendida na Feira do Livro de Porto Alegre de 1997.
Gumercindo (BesouroBox, 128 páginas), novela do escritor, roteirista, ensaísta e cineasta gaúcho Tabajara Ruas, acima de tudo, utilizando adequadamente recursos ficcionais, revisita o mito Gumercindo Saraiva. Com períodos e frases curtas e ágeis, a narrativa eletrizante foi elaborada a partir do ensaio/reportagem A cabeça de Gumercindo Saraiva, obra que Tabajara escreveu com Elmar Bones e que foi a mais vendida na Feira do Livro de Porto Alegre de 1997.
Tabajara tem oito romances publicados no Brasil, que foram traduzidos em 10 países. Ele já dirigiu quatro longas-metragens, assinou 12 roteiros de longas e adaptou O tempo e o vento para filme e minissérie de TV. Tabajara recebeu diversas condecorações literárias, inclusive o Prêmio Erico Verissimo e recebeu a Medalha do Mérito Farroupilha e o título de Cidadão de Porto Alegre.
A história de Gumercindo acontece no fim da Revolução Federalista de 1893, no Rio Grande do Sul, quando o general rebelde Gumercindo Saraiva é morto numa tocaia e sepultado num cemitério de beira de estrada. Os legalistas descobrem o túmulo, desenterram o cadáver e cortam sua cabeça para que seja levada pelo major Ramiro de Oliveira ao governador Júlio de Castilhos, em Porto Alegre, como troféu de guerra.
De modo ficcional, a novela Gumercindo narra a saga do capitão Francisco Saraiva, filho de Gumercindo, e um piquete de cinco cavaleiros na tentativa de resgatar a cabeça do caudilho, antes que o major Ramiro chegue ao seu destino. Os tensos momentos de aproximação e afastamento entre perseguidor e perseguido, os confrontos e dificuldades, os duelos de vontades de ambos lados até o desfecho dessa exasperante caçada são minuciosamente narrados. Esta novela é a base do roteiro para o filme a ser produzido por Ligia Walper e dirigido por Tabajara Ruas em 2016.
A narrativa está carregada de ação brutal, tensão ininterrupta e surpreendente disputa moral e ética entre os adversários. As lições aprendidas na jornada épica afloram, e perseguidos e perseguidores se enfrentam de modo memorável, no qual os dois lados, afinal, desejam a mesma coisa: uma saída honrosa e digna.
Antes da novela há um belo texto de apresentação, de autoria do romancista Luiz Antonio de Assis Brasil, que enfoca aspectos de forma e conteúdo da importante obra ficcional de Tabajara Ruas, que, como escreveu, "notabiliza-se por, entre outras questões, vasculhar nosso passado sulino, transformando-o em matéria de ficção".
Nossa história é curta, mas deve ser contada e ficcionalizada, como a de qualquer povo, para que os leitores se encontrem e reconheçam sua identidade rio-grandense.

Lançamentos


DIVULGAÇÃO/JC
  • O jornalismo sensacionalista na imprensa gaúcha (Educs, 197 páginas), do jornalista e mestre em Comunicação Social Fábio Rausch, analisa 50 anos de jornalismo gaúcho, através das coberturas de vários periódicos, questionando sobre raízes do jornalismo, sensacionalismo e outros aspectos. A obra resulta de dissertação de mestrado.
  • O livro dos libretos - Antônio Chimango, Frankenstein e As mil e uma noites (Editora Palmarinca, 232 páginas), do escritor e cineasta Alpheu Godinho, apresenta três libretos elaborados com temas consagrados da memória cultural universal.
  • Proscritos (Siglaviva, fone (51) 9941-0141, 240 páginas), romance inédito do escritor Dyonélio Machado, escrito em 1964, é o segundo da trilogia Os flagelantes. Guardado por Dyonélio por razões políticas e recuperado pelo professor e estudioso Camilo Mattar Raabe, o livro mostra atualidade, num mundo corrupto e de valores questionáveis.

Minha avó

Melhor dar um refresco para mim e para os leitores neste finalzinho de ano. Aliás, que 2015 acabe de uma vez. Ele parece aqueles jogos de futebol terríveis que a gente quer que o juiz apite o fim até antes da hora e termine logo com a agonia. Dá vontade de fazer até como o outro, apagar os refletores e acabar o jogo. Crise política, crise econômica, crise moral, sumiços no WhatsApp, estresse natalino e pós-natalino... Que venha logo 2016, pelo amor de Deus!
Melhor falar da nonna Ida, minha avó materna, que morreu, na Itália, há uns 40 anos. Ela já era viúva há uns 20, usava muitas roupas pretas. Manteve cabelos brancos e longos, ajeitados num coque e lenço na cabeça até morrer, quase sem se preocupar com cortes, cabeleireiros e maquiagem. Nunca se casou de novo. Perdeu o marido, que tinha 61 anos, num acidente de trânsito misterioso. Ela nunca descobriu o que realmente aconteceu. Perdeu um filho ainda jovem, batido por um câncer. Não era de reclamar a dona Ida. Quando moça, órfã de mãe cedo, ajudou a criar seus cinco irmãos. Cuidou da sogra doente, depois. Viveu os horrores de duas guerras mundiais. Viu uma filha casar mal, três filhos emigrarem para a América e engravidou aos 47 anos de seu último filho - no total, teve sete. Morava, modestamente, numa propriedade na pequena Maserada Sul Piave, perto de Treviso, no Vêneto, Norte da Itália.
Nona Ida criava galinhas, patos, tinha umas vacas leiteiras, uma horta, um pequeno parreiral e já era ecológica e orgânica lá por 1930. Nada de agrotóxicos, nada de enlatados, comida industrializada, embutidos duvidosos e outros produtos que não fazem bem para a saúde. Ida era religiosa, não costumava falar dos outros, tinha olhos claros e trabalhou muito, sem se queixar da vida, até pouco tempo antes de morrer, aos 74 anos.
Nona Ida fez pequenas viagens a locais próximos, nunca se afastou muito de sua casa, mas nunca se sentiu prejudicada por isso. A avó me ensinou que a gente economiza quando tem para economizar, que não se faz aos outros o que não se quer que façam para a gente, que o Diabo pode fazer a panela mas não a tampa e que é melhor dar que receber. Minha avó vivia de acordo com os ritmos e ciclos do sol, da chuva, da lua e das outras forças da natureza.
Viu a sua Itália passar por tempos bons e ruins, passou pelas fases da vida com serenidade, aceitação, tristeza e alegria. Perdeu e ganhou como todos nós, mas tinha alguma coisa ou muita coisa de santa. Uma força grande a movia, uma energia a levava para a frente, mesmo diante das adversidades. Poucos médicos e remédios precisou, num tempo em que não havia muitos. Não tinha tempo para adoecer, talvez.
Como se fosse uma cotovia, dormia e acordava cedo. Cedo colocava seu avental, seu chapéu de palha e iniciava a lida dentro e fora de casa. Era boa de fogão a nonna, e dizia que numa cozinha o número de mulheres deveria ser sempre ímpar e menor que três...

a propósito...

Minha vó deixou poucos bens. Nenhuma dívida, processo judicial. Deixou lembranças lindas e uma grande luz, que me iluminam quando a coisa fica feia. Quando comprava, ela pedia para pagar à vista, com desconto. Evitava pedir dinheiro emprestado. Gastava menos do que ganhava. Pensava no futuro. Não desperdiçava. Procurava não depender do governo ou dos outros. Rezava, acreditava em Deus, frequentava a Igreja e ajudava os outros. Fazia o bem. Não lembro de ela ter feito mal a quem quer que seja. Infelizmente convivi pouco com ela, que morava na Itália e eu aqui. Mas o pouco foi muito. A nonna era uma pessoa honesta, íntegra, verdadeira. Não precisa ser canonizada. Foi santa na vida.