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Opinião

- Publicada em 11 de Novembro de 2015 às 15:52

Loucura, mais além da Medicina

Montserrat Martins
Nota de entidades médicas sobre a parada "Orgulho Louco", realizada em Alegrete com cerca de 4 mil participantes, em outubro, disse que a participação de pacientes psiquiátricos os "expõe" publicamente, o que seria "degradante". Ocorre que a manifestação é contra o modelo manicomial, conhecido por deixar os pacientes estigmatizados e às vezes abandonados pelas famílias nestes locais. O que poderia ser mais degradante que o manicômio, ao qual a Parada Orgulho Louco se contrapõe?
Nota de entidades médicas sobre a parada "Orgulho Louco", realizada em Alegrete com cerca de 4 mil participantes, em outubro, disse que a participação de pacientes psiquiátricos os "expõe" publicamente, o que seria "degradante". Ocorre que a manifestação é contra o modelo manicomial, conhecido por deixar os pacientes estigmatizados e às vezes abandonados pelas famílias nestes locais. O que poderia ser mais degradante que o manicômio, ao qual a Parada Orgulho Louco se contrapõe?
As entidades médicas são fundamentais para a qualidade da saúde no País e tem prestado um grande serviço à população denunciando a falta de leitos hospitalares, a falta de equipamentos, a falta de estrutura para o atendimento médico, que o programa Mais Médicos não tem suprido. Nesse ponto, a classe médica tem orgulho do papel desempenhado por suas entidades, prestando serviços à população.
A questão da "loucura", porém, não se restringe à Medicina. A Organização Mundial da Saúde, na 10ª edição da Classificação Internacional de Doenças, estabelece no capítulo de Psiquiatria o conceito de "transtorno" ao invés de "doença", porque "transtorno" não pressupõe causa orgânica para a disfunção, tida como "multifatorial", com fatores biológicos, psicológicos e sociais.
Além de não ser simplesmente uma doença do ponto de vista orgânico, tendo importantes fatores psicológicos e sociais, o que chamamos de "loucura" é também uma condição do próprio ser humano, que vai muito além das questões médicas. Psicologia, Antropologia, Sociologia, História, Literatura, muitos campos das ciências e das artes têm contribuído para a ampliação dos nossos conceitos. De "Otelo" de Shakespeare ao "O Elogio da Loucura", de Erasmo, do "Alienista" de Machado de Assis à "História da Loucura" de Michel Foucault, são muitos pensadores a jogarem luzes sobre a condição humana e a irracionalidade. Que as entidades médicas repensem e fiquem ao lado da cultura, contra o preconceito.
Médico psiquiatra
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