A Assembleia da República de Portugal derrubou ontem o governo do primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, do conservador PSD (Partido Social Democrata), menos de 20 dias depois de ele ter tomado posse para um novo mandato. Liderados pelo PS (Partido Socialista), principal força de oposição ao governo de Passos Coelho, os parlamentares aprovaram por 123 votos a 107 uma moção de rejeição ao seu programa de governo. O premiê assumiu em junho de 2011, substituindo o socialista José Sócrates.
A coligação do primeiro-ministro venceu as eleições legislativas do dia 4 de outubro, tornando Passos Coelho o primeiro líder europeu a se reeleger após impor um pacote de austeridade em razão da crise de 2009. A aliança, no entanto, não conseguiu formar maioria no Parlamento. Apesar disso, o presidente de Portugal, o também conservador Aníbal Cavaco Silva, convocou o premiê a formar um gabinete em 22 de outubro. A palavra final, porém, é da Assembleia, que rejeitou o novo governo.
A expectativa agora é que Cavaco Silva indique para o cargo de primeiro-ministro o líder do PS, António Costa, que diz ter costurado um acordo com outras siglas de esquerda para obter maioria no Parlamento, mas não há um prazo definido. A única imposição constitucional é que o chefe de Estado ouça os partidos antes de indicar um novo premiê.
Em discurso no plenário, Costa adotou um tom duro contra o governo. "O que Passos Coelho nos apresenta é um Executivo minoritário, que não criou condições de governabilidade e estabilidade. Portugal precisa de um novo governo. Acabou um tabu, derrubou-se um muro, venceu-se mais um preconceito", declarou, em referência à importância dos acordos entre a esquerda portuguesa.
"Querem converter uma soma de derrotas em uma maioria negativa para afastar o governo que ganhou as eleições", declarou Passos Coelho. "Sempre defendemos o serviço público, mesmo quando fizemos privatizações", afirmou.
Em 22 de outubro, Cavaco Silva indicou Passos Coelho para formar um novo governo, após sua legenda, Portugal à Frente, ficar à frente nas eleições com 36,8% dos votos. No entanto, a coligação não conseguiu a maioria dos assentos na Assembleia. O PS, que registrou 32,4% no pleito de 4 de outubro, articulou uma aliança com os partidos de esquerda, que soma mais da metade das cadeiras do Parlamento.