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Conjuntura

- Publicada em 22 de Novembro de 2015 às 19:50

Alimentícias destacam atuação fora do País em meio à crise

Consumo interno de carne está lento

Consumo interno de carne está lento


MAURICIO LIMA/AFP/JC
As maiores empresas de alimentos do Brasil destacaram a redução de sua dependência do mercado interno na apresentação dos resultados do terceiro trimestre do ano. JBS, Marfrig e Minerva surfaram na alta do dólar ante o real na exportação, que impulsionou receitas, e aproveitaram o momento para destacar que estão menos expostas à crise econômica nacional, que tolhe o consumo de carne bovina. Os efeitos negativos da recessão e da inflação, porém, ainda são observáveis. E, embora tenha ajudado no lado operacional, o câmbio, mais uma vez, foi o vilão para o endividamento.
As maiores empresas de alimentos do Brasil destacaram a redução de sua dependência do mercado interno na apresentação dos resultados do terceiro trimestre do ano. JBS, Marfrig e Minerva surfaram na alta do dólar ante o real na exportação, que impulsionou receitas, e aproveitaram o momento para destacar que estão menos expostas à crise econômica nacional, que tolhe o consumo de carne bovina. Os efeitos negativos da recessão e da inflação, porém, ainda são observáveis. E, embora tenha ajudado no lado operacional, o câmbio, mais uma vez, foi o vilão para o endividamento.
As companhias mantêm parcela significativa de sua dívida na moeda norte-americana, e a queda do real fez os números dispararem mais uma vez. Atento ao avanço no passivo financeiro, o setor expõe estratégias para mitigar riscos cambiais ao crivo dos investidores.
A JBS somou recorde de R$ 150,1 bilhões em receitas nos 12 meses encerrados em setembro, graças ao avanço do dólar e à integração de unidades recém-adquiridas. Deste total, a companhia faz questão de ressaltar que apenas 12% são gerados no Brasil. O principal mercado para a empresa é, de longe, os Estados Unidos - com 47% das receitas. No terceiro trimestre, a Minerva reafirmou seu foco exportador e reportou que 75,6% de sua receita bruta, ou R$ 1,898 bilhão, vieram dos embarques. O restante se deve a vendas no Brasil, mas também no Paraguai, no Uruguai e na Colômbia.
A Marfrig é um caso atípico. A companhia está em pleno processo de reestruturação e tem colocado suas divisões fora do Brasil à venda para reduzir o endividamento. A Marfrig embolsou R$ 4,8 bilhões com a venda da Moy Park, subsidiária britânica, à JBS no terceiro trimestre.
Ainda assim, o presidente da empresa, Martin Secco, reiterou que os negócios da Marfrig continuam internacionalizados.
"Nossa estratégia é continuar crescendo globalmente com produtos de maior valor e foco na área de food service", afirmou em coletiva de imprensa no início do mês. Na prática, a Marfrig quer assegurar a investidores que continua a gerar parte relevante das receitas em moeda estrangeira, sobretudo na Ásia e nos Estados Unidos e por meio das exportações de carne bovina da América do Sul.
A estratégia de focar a atuação global em detrimento do mercado nacional faz sentido face à crise e ao cenário atual da pecuária. A Minerva reportou queda de 29,4% no volume de carne bovina in natura comercializada no mercado interno, a 33,6 mil toneladas. No mesmo segmento, a JBS Mercosul viu recuo de 13,1% em volume, para 264,9 mil toneladas. A empresa possui divisões na Argentina, Uruguai e Paraguai, mas tem no Brasil o seu principal mercado. As receitas da Marfrig no País caíram 12%, a R$ 965 milhões, uma queda que a companhia justifica exclusivamente pela redução nos abates.
A indústria frigorífica nacional fechou dezenas de unidades desde o início do ano, alegando escassez de animais prontos para o abate - o que reduz naturalmente o volume de vendas ao mesmo tempo em que amplia a eficiência das empresas. É pouco provável, porém, que isso explique por si só a redução dos volumes. O consumo interno está lento. A crise econômica e a inflação têm limitado a demanda por carne bovina, que enfrenta a competição das proteínas alternativas, notadamente de aves e suínos, cujos preços médios são inferiores.

Valorização do dólar aumentou o endividamento das companhias

Se o dólar ajudou as empresas a reportarem receitas maiores em reais, o efeito inverso foi observado no endividamento. A JBS reduziu os passivos em
US$ 726,3 milhões no terceiro trimestre, mesmo com a compra da Moy Park e da Cargill Pork, nos Estados Unidos. Ainda assim, a dívida bruta em reais subiu 34,9% do fim de junho a setembro, para R$ 65,7 bilhões. O endividamento bruto da Marfrig subiu 26%, a R$ 15 bilhões, e o da Minerva, 25,5%, a
R$ 7,88 bilhões.
O forte aumento da dívida mergulhou o setor em um debate sobre as estratégias em voga para mitigar a oscilação do câmbio. O maior destaque foi dado à política de hedge (proteção) da JBS, que registrou R$ 9,455 bilhões em ganhos líquidos com derivativos no período. Para fins comparativos, é possível considerar que o resultado do hedge excedeu em 51,4% o lucro bruto de R$ 6,245 bilhões no terceiro trimestre e representou 22% do total da receita líquida do período, que foi de R$ 43 bilhões.
Diante do resultado surpreendente, o presidente global da JBS, Wesley Batista, optou por abrir os números da companhia. Ao fim de setembro, a JBS mantinha R$ 41,1 bilhões em derivativos, ante exposição líquida de R$ 43,1 bilhões. Os números indicam que a alimentícia não estava inteiramente protegida do câmbio, mas cabe ressaltar que a empresa reduziu sua posição de hedge em 50 mil contratos (ou US$ 2,5 bilhões) no último dia útil do período. O executivo disse que a política da companhia não é a de manter toda a dívida em dólar coberta pelos instrumentos financeiros, mas que não acredita em "hedge natural".
E esta é justamente a estratégia adotada pela Marfrig, na qual as receitas geradas no exterior compensariam a variaçãocambial da dívida. A tática, no entanto, deixa a empresa exposta à frustração de receitas e nem sempre é possível equalizar o tamanho da dívida a vencer com o resultado das vendas. Já a Minerva adota posição intermediária, cobrindo com hedge os passivos de curto prazo para se defender da oscilação do câmbio. A maior parte das dívidas, porém, vence em 2023, e a Minerva também trabalha com mais de R$ 1 bilhão em bonds perpétuos. O frigorífico também mantém 30% do seu caixa em moeda estrangeira e recompra dívidas no exterior para reduzir o impacto cambial.