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Conjuntura

- Publicada em 22 de Novembro de 2015 às 19:34

Grandes construtoras passam o ano sem fechar novos contratos

Para a Odebrecht, líder do ranking nacional de construtores, cenário afetou investimentos em infraestrutura

Para a Odebrecht, líder do ranking nacional de construtores, cenário afetou investimentos em infraestrutura


AE/JC
Depois de crescer a uma taxa média anual de quase 4% na última década, as empreiteiras entraram em um rápido processo de declínio. A situação tem sido tão complicada que algumas construtoras não conseguiram fechar um único contrato no decorrer deste ano, seja porque estão envolvidas na Operação Lava Jato, que investiga corrupção em contratos com a Petrobras, ou porque a recessão econômica afundou os investimentos públicos e privados no Brasil.
Depois de crescer a uma taxa média anual de quase 4% na última década, as empreiteiras entraram em um rápido processo de declínio. A situação tem sido tão complicada que algumas construtoras não conseguiram fechar um único contrato no decorrer deste ano, seja porque estão envolvidas na Operação Lava Jato, que investiga corrupção em contratos com a Petrobras, ou porque a recessão econômica afundou os investimentos públicos e privados no Brasil.
O resultado tem sido uma enxurrada de demissões (mais de 500 mil empregos foram cortados no setor neste ano), vários ativos à venda para fazer caixa e centenas de empresas em recuperação judicial (253 construtoras em processo de recuperação entre janeiro e setembro). A expectativa é que o Produto Interno Bruto (PIB) do setor feche o ano com queda de 11%, segundo cálculos da consultoria GO Associados.
Na lista de construtoras que não conseguiram conquistar novos serviços entre janeiro e novembro, estão Odebrecht, Camargo Corrêa e Mendes Júnior. Segundo a Odebrecht, líder do ranking nacional de construtores, o cenário econômico afetou os investimentos em infraestrutura, "o que é a causa principalde a empresa não ter conquistado novos contratos no Brasil".
Outras gigantes do setor, como Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e Galvão Engenharia, estão em situação semelhante, afirmam fontes. Mas, procuradas, as três empresas não quiseram falar sobre o assunto.
Já a Carioca Christiani-Nielsen Engenharia foi sutil na resposta se fechou ou não novos contratos neste ano. Em nota, a empreiteira afirmou que "está focada em seguir seu planejamento estratégico e em cumprir os contratos atuais nos prazos acordados, tanto com seus clientes públicos quanto privados".
Além da escassez de novos serviços, todas essas companhias têm em comum o fato de estarem envolvidas na Operação Lava Jato. Embora não estejam proibidas de participar de licitações públicas com o governo federal, já que não foram consideradas inidôneas pela Controladoria-Geral da União (CGU), a reputação manchada pelo esquema de corrupção cria uma série de empecilhos na disputa por novos negócios no setor privado.
O diretor de Investimentos e Operações da LogZ, Roberto Lopes, afirmou que estava com dificuldades para contratar empreiteiras para tocar alguns projetos portuários da empresa. Formada por fundos de investimentos que têm como cotistas grandes fundos de pensão (Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, e Funcef, da Caixa), a empresa afirmou que tem receio de contratar alguma construtora que não consiga terminar o serviço encomendado.

Falta de projetos e de dinheiro da União reduz caixas

Na avaliação do presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), José Carlos Martins, as construtoras envolvidas na Lava Jato sofrem mais, porque sempre estiveram à frente dos megaempreendimentos, como as hidrelétricas, que têm melhor rentabilidade e exige maior especialização. "Esses projetos sumiram. Não temos novos projetos de grande porte em licitação no País."
Sem contratos novos, essas empresas também estão recebendo menos da União pelos serviços já prestados. Levantamento do Contas Abertas mostra que, de janeiro a agosto, os desembolsos foram 58% menores do que em igual período de 2014, R$ 1 bilhão ante R$ 2,4 bilhões. Para algumas companhias, como a Mendes Júnior, essa redução tem um efeito devastador no caixa, já que 76% da carteira vem do setor público.
Empresas que não estão relacionadas com a Lava Jato também enfrentam dificuldade para conseguir novos negócios, a exemplo de Contern e da espanhola Isolux. As duas empresas passaram 2015 à míngua.
"Está tudo parado. Para o governo, essa situação virou cômoda, porque ele não tem dinheiro", afirma o presidente da Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas (Apeop), Luciano Amadio. Segundo ele, as empresas estão ávidas por negócios, especialmente as de pequeno e médio porte.

Participação do Brasil na receita global da Odebrecht deve cair para apenas 15% em 2016

Citada na Lava Jato, a construtora do Grupo Odebrecht deve ver o volume de suas receitas geradas no Brasil cair em 2016 pela primeira vez em quatro anos, provocando redução para 15% da participação do País em seu faturamento anual. Em 2015, a previsão é de que a fatia brasileira nas receitas recue para 18%, de 27% no ano passado. "Temos dificuldade em medir o impacto da Lava Jato, porque não tem havido novas oportunidades no Brasil", justificou Marco Rabello, diretor financeiro da construtora.
Ele atribui a contração estimada no ano que vem à paralisação nas novas obras de infraestrutura e concessões em 2015, a qual pesou no backlog (carteira de projetos) da companhia. "Estamos consumindo backlog neste ano por falta de novas oportunidades no País", comentou. O backlog global da Odebrecht Engenharia e Construção (OEC) cedeu de US$ 33,9 bilhões, em 2014, para US$ 32 bilhões em junho deste ano, podendo recuar até US$ 30 bilhões.
Para recompor o backlog, o executivo remete aos leilões de energia, especialmente eólica, do ano que vem, e iniciativas como a expansão para um novo país na América Latina e outro na África, além de novas obras em países onde já atua. "No ano que vem, pela primeira vez, deve haver mudança na participação do Brasil também por patamar de volume de receitas, em razão da falta de oportunidades." Segundo ele, as receitas vêm um ou dois anos depois da assinatura dos contratos, e, como este ano não houve geração, 2016 deve ser um ano de "barriga" na curva das receitas. "Anualmente, o volume financeiro gerado pelo Brasil tem sido de R$ 7 bilhões a R$ 8 bilhões, apesar da queda na participação do País no faturamento total, mas, em 2016, isso vai ser menor", acrescentou.
A OEC estima fechar 2015 com faturamento de R$ 40 bilhões, superando os R$ 33 bilhões em 2014 também por efeito do câmbio. As premissas embutem um câmbio médio de R$ 3,35 por dólar.