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Teatro

- Publicada em 05 de Novembro de 2015 às 22:15

O eterno palhaço de Suzana Saldanha

O retorno da atriz Suzana Saldanha, depois de alguns anos de Rio de Janeiro, foi uma novidade alvissareira. Suzana não é daquelas pessoas que se meta quieta num canto. E não deu outra. Em menos tempo do que se poderia esperar, ei-la aprontando, trazendo à cena, num espaço alternativo mas ideal para o espetáculo que apresentou, seu monólogo Eu. É um monólogo só na forma, eis que se constitui, de fato, num imenso e gostoso diálogo dela enquanto pessoa, da personagem que ela encarna e, em última análise, de toda uma época que ela revive ao longo de pouco menos de uma hora de duração do espetáculo, com sua platéia.
O retorno da atriz Suzana Saldanha, depois de alguns anos de Rio de Janeiro, foi uma novidade alvissareira. Suzana não é daquelas pessoas que se meta quieta num canto. E não deu outra. Em menos tempo do que se poderia esperar, ei-la aprontando, trazendo à cena, num espaço alternativo mas ideal para o espetáculo que apresentou, seu monólogo Eu. É um monólogo só na forma, eis que se constitui, de fato, num imenso e gostoso diálogo dela enquanto pessoa, da personagem que ela encarna e, em última análise, de toda uma época que ela revive ao longo de pouco menos de uma hora de duração do espetáculo, com sua platéia.
Suzana recebe amigos e espectadores no meio do espaço simpático da sala de música do Multiplaco do Theatro São Pedro, que eu não conhecia (está aí primeira novidade: Suzana certamente está revelando a muita gente da cidade, este novo espaço que nosso centenário teatro nos oferece). A sala é ideal para música de câmara, tudo o que a tradição europeia tem de melhor em arte. Mas é igualmente excelente para este tipo de espetáculo mais informal que a atriz nos propôs. Ela escreveu, Luiz Arthur Nunes dirigiu. Suzana reuniu seus velhos amigos e comparsas, como a produtora Marilurdes Franarin, e o resultado não poderia ser melhor. Um espaço aparentemente simples, mas ao mesmo tempo provocador: um tablado, com uma lâmpada de mesa. Alguns livros, cartas, um chapéu que logo sabemos, é do Carlitos.
Um espetáculo que, como o título indica, é autobiográfico. Mas o quanto a biografia de um não é a biografia de outros mais? Este é o aprendizado uma vez mais redivivo pela atriz. Quem conviveu com ela, quem experimentou estes tempos que ela recria, vai acompanhando a memória, que se torna presente, tanto isso é verdade que até o hino do Instituto de Educação Flores da Cunha, entonado em cena, é acompanhado por parte da plateia (se minha mãe lá estivesse, faria exatamente o mesmo).
A atriz mostra desenvoltura e naturalidade ao escrever, a mesma que tem ao falar e ao representar. Ela sabe cortar, sabe dosar e sabe escolher: a morte, por exemplo, é mencionada, de raspão, com a devida tonalidade, mas sem exasperação. Depois, são os bons momentos. O texto busca, sobretudo, as descobertas, o que é muito bom, porque descobertas a gente vai fazendo ao longo de toda a vida. Assim, vamos aprendendo-redescobrindo-relembrando um sem número de coisas, graças à memória de Suzana Saldanha, que é também a nossa memória, com especial ênfase para aquele grupo teatral que foi, em algum momento, o desbunde da cidade, o Província. Num tempo em que quase todo o mundo era careta, o Província quebrou paradigmas de representação e de sobrevivência, agrupando gente fantástica como o próprio Luiz Arthur e Caio Fernando Abreu, além de tanta gente boa (saudades de Nara Keiserman), que criaram espetáculos maravilhosos, sonhadores, alegres, utópicos, num tempo cinza e pesado, em que a gente vivia triste e tinha medo até de falar com o vizinho.
O tom de proximidade, de intimidade, de conivência que Suzana estabelece com a platéia é de tal maneira efetivo que, quando chegou ao Carlitos, que eu esperava obviamente desde o início do espetáculo, me pegou de surpresa ao levar-me diretamente ao encerramento da performance. Me senti frustrado, queria mais, mas a sábia Suzana parou corretamente ali. Seu recado está dado. Ela escreveu, representou, relembrou e dialogou. Encantou a todos, através desta magia que é o teatro, e que ela reiterou com seu trabalho. Ficamos querendo mais. Isso garante, certamente, a volta da atriz. Em tempo: muito bonita a homenagem que ela faz a Abrão Slavutzky, guru de muita gente boa nesta cidade, e que merece, sim, ser sempre lembrado. Suzana, como Carlito, felizmente, é nosso eterno palhaço.
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