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Cinema

- Publicada em 12 de Novembro de 2015 às 23:06

O passado

Hélio Nascimento
Atualmente, filmar bem já não se constitui em operação difícil de ser concretizada. Os recursos com os quais o cinema conta atualmente permitem não apenas correção formal, pois também abrem espaço para ousadias e igualmente para a criatividade. Mas estes elementos só se configuram na tela quando os recursos estão sendo manipulados por quem, além da competência, tenha a imaginação e a inteligência entre suas virtudes. O diretor Sam Mendes, em seu segundo filme dedicado ao agente James Bond, 007 contra Spectre, repete a façanha de seu filme anterior, Operação Skyfall. O novo trabalho não apenas confirma os acertos anteriores ao prolongar méritos em todas as áreas de realização, pois Mendes termina por provar que o mais sedutor espetáculo cinematográfico também pode ser o portador de observações capazes de conferir a uma narrativa comprometida com as leis do mercado exibidor qualidades nem sempre alcançadas por obras mais pretensiosas. A sequência inicial, por exemplo, a mais notável abertura de todos os filmes do ciclo, deriva do plano-sequência realizado por Orson Welles em A marca da maldade. Além disso, já coloca em cena o tema que será o principal de todo o filme: a presença de fantasmas do passado, que, de uma ou outra forma, ressurgem em cena. São vários os roteiristas do filme e uma produção como esta sempre enfrenta, em sua realização, obstáculos os mais diversos. Mas o resultado final, a imagem vista na tela tem uma marca que a distingue de todos os filmes sobre o herói realizados por outros diretores. Mendes é o protagonista deste novo capítulo da eterna discussão sobre os compromissos de um criador diante das imposições da indústria. E ele resolve o dilema fazendo com que sua personalidade seja percebida em cada plano e em cada sequência de seu novo filme.
Atualmente, filmar bem já não se constitui em operação difícil de ser concretizada. Os recursos com os quais o cinema conta atualmente permitem não apenas correção formal, pois também abrem espaço para ousadias e igualmente para a criatividade. Mas estes elementos só se configuram na tela quando os recursos estão sendo manipulados por quem, além da competência, tenha a imaginação e a inteligência entre suas virtudes. O diretor Sam Mendes, em seu segundo filme dedicado ao agente James Bond, 007 contra Spectre, repete a façanha de seu filme anterior, Operação Skyfall. O novo trabalho não apenas confirma os acertos anteriores ao prolongar méritos em todas as áreas de realização, pois Mendes termina por provar que o mais sedutor espetáculo cinematográfico também pode ser o portador de observações capazes de conferir a uma narrativa comprometida com as leis do mercado exibidor qualidades nem sempre alcançadas por obras mais pretensiosas. A sequência inicial, por exemplo, a mais notável abertura de todos os filmes do ciclo, deriva do plano-sequência realizado por Orson Welles em A marca da maldade. Além disso, já coloca em cena o tema que será o principal de todo o filme: a presença de fantasmas do passado, que, de uma ou outra forma, ressurgem em cena. São vários os roteiristas do filme e uma produção como esta sempre enfrenta, em sua realização, obstáculos os mais diversos. Mas o resultado final, a imagem vista na tela tem uma marca que a distingue de todos os filmes sobre o herói realizados por outros diretores. Mendes é o protagonista deste novo capítulo da eterna discussão sobre os compromissos de um criador diante das imposições da indústria. E ele resolve o dilema fazendo com que sua personalidade seja percebida em cada plano e em cada sequência de seu novo filme.
Para aceitar sua participação pela segunda vez na série 007, o diretor, certamente, exigiu não ser apenas um encenador de um roteiro alheio. Assim, a festa na capital mexicana aparece como um prólogo, brilhantemente encenado, do tema que será depois desenvolvido. O protagonista lá está porque recebeu uma mensagem da mãe simbólica através de um vídeo. O que ele não sabe é que sua ação desencadeará um processo no qual desempenhará não apenas o papel de um policial, pois também será o protagonista de uma tragédia familiar, como se o agente até então vivesse num mundo desconhecido. A sequência reveladora é aquela na qual está reunida uma espécie de ONU do crime. Mendes, que além do cinema também se dedica ao teatro, realizou uma cena magistral, na qual a iluminação tem função das mais importantes e o personagem principal se transforma num espectador. O realizador esconde o rosto do substituto do pai - e não apenas pelo ato de violência cometido no passado, quando assumiu tal papel. A cena marca o início do conflito básico. Nas neves europeias, Bond encontra outro pai - um vilão de um filme anterior - com o qual se compromete salvar a vida da filha. Esta se chama Madeleine Swan e assim duplamente o filme se refere a Proust, forma encontrada para que se aproxime ainda mais do tema do passado, que, por gerar submissão ou revolta, é sempre uma presença poderosa.
O cinema é uma arte que vive de situações. Ela nunca poderá dispensar a influências das que o antecederam. Mas tem suas leis, que não são proibitivas e abrem espaços para todas as tendências. Uma delas é aquela que não dispensa grandes espetáculos populares. Spectre, que nos primeiros dias de exibição em Londres ultrapassou todos os recordes de bilheteria, é um desses filmes que procuram o maior número de espectadores, ao mesmo tempo em que tentam reflexionar sobre a conduta humana e o tempo no qual vivemos. É só olhar para a tecnologia focalizada na narrativa, toda ela voltada para o controle de todos durante todo o tempo. O tema orwelliano é outro que surge de forma bem clara, uma ameaça destinada a vigiar e controlar o comportamento humano. Estamos diante de uma fantasia, que, como se sabe, não é algo contrário à realidade: é seu complemento revelador.
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