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Cinema

- Publicada em 26 de Novembro de 2015 às 23:04

O preço de uma vida

Hélio Nascimento
Desde que Orson Welles realizou Cidadão Kane e Akira Kurosawa dirigiu Rashomon que as possibilidades abertas por tempos diversos e acontecimentos reconstituídos através de ângulos diferentes têm sido exploradas com maior ou menor inspiração. O italiano Paolo Virzì é mais um a manipular tal técnica narrativa, partindo de um determinado ponto para então recuar no tempo e acompanhar três linhas narrativas até chegar ao acontecimento que é o primeiro a ser focalizado: o atropelamento de um garçom, que não é socorrido pelo causador do acidente. O período que antecipa tal fato é acompanhado através da trajetória de três personagens, por meio dos quais o realizador, também um dos autores do roteiro, coloca na tela rituais através dos quais tais figuras procuram, de uma ou outra forma, um lugar num mundo no qual aparências e hipocrisias são os elementos dominantes. Seja a busca de ascensão social, seja a procura de um meio para dar sentido a uma vida, seja a tentativa de afirmação pessoal, tudo se resume a maneiras de enfrentar pressões e compensar frustrações. A visão de Virsì é pessimista, seu filme é muito bem realizado, e o amargor por vezes se mescla a uma ironia e a uma irreverência que denotam outras influências, além dos modelos antes citados. Mesmo estando longe de nomes como Jean Renoir, Woody Allen e Robert Altman, o realizador não deixa de compor um painel sugestivo de um cenário erguido sobre antivalores.
Desde que Orson Welles realizou Cidadão Kane e Akira Kurosawa dirigiu Rashomon que as possibilidades abertas por tempos diversos e acontecimentos reconstituídos através de ângulos diferentes têm sido exploradas com maior ou menor inspiração. O italiano Paolo Virzì é mais um a manipular tal técnica narrativa, partindo de um determinado ponto para então recuar no tempo e acompanhar três linhas narrativas até chegar ao acontecimento que é o primeiro a ser focalizado: o atropelamento de um garçom, que não é socorrido pelo causador do acidente. O período que antecipa tal fato é acompanhado através da trajetória de três personagens, por meio dos quais o realizador, também um dos autores do roteiro, coloca na tela rituais através dos quais tais figuras procuram, de uma ou outra forma, um lugar num mundo no qual aparências e hipocrisias são os elementos dominantes. Seja a busca de ascensão social, seja a procura de um meio para dar sentido a uma vida, seja a tentativa de afirmação pessoal, tudo se resume a maneiras de enfrentar pressões e compensar frustrações. A visão de Virsì é pessimista, seu filme é muito bem realizado, e o amargor por vezes se mescla a uma ironia e a uma irreverência que denotam outras influências, além dos modelos antes citados. Mesmo estando longe de nomes como Jean Renoir, Woody Allen e Robert Altman, o realizador não deixa de compor um painel sugestivo de um cenário erguido sobre antivalores.
A tradição crítica do cinema italiano, inaugurada após a queda do fascismo através do neorrealismo, sofreu muitas modificações daquela época até hoje. O que vemos em Capital humano é uma tentativa de dar continuidade à tal tendência, depois que ela foi bastante modificada pela obra de Michelangelo Antonioni, talvez até pelo fato de Valeria Bruni Tedeschi, a protagonista do segundo episódio, lembrar Monica Vitti. E será que Virsì, no nome daquele prêmio do primeiro episódio, estaria pensando em Vittorio Cottafavi, que usou a linguagem do espetáculo popular para falar de um universo em crise? Neste episódio de abertura, o personagem principal é movido pela ambição de viver numa classe à qual não pertence e que parece lhe oferecer uma grande oportunidade. A rejeição que esse personagem sofre é mostrada em diversas cenas, mas nos episódios seguintes ela se materializa de forma mais clara, até dar origem à vingança, quando ele é apenas um coadjuvante. Em tal condição ele exercerá papel definitivo no último ato, forma encontrada pelo realizador para estabelecer ligações entre tramas e indivíduos.
No episódio intermediário, aquele no qual é feita uma tentativa de restauração de um teatro abandonado. Virsì deixa bem claro sobre o que está falando. A reunião da mulher do grande investidor com intérpretes, críticos e autores é um verdadeiro espetáculo vazio de ideias e repleto de vaidades e agressões. Até quem parece ser um ponto de apoio não passa de uma figura emocionalmente ambiciosa e desequilibrada. Mas é o cenário de um teatro abandonado e seu contraste com a realidade material que servirá ao cineasta como elemento essencial. De um lado a ostentação e o luxo. De outro a arte abandonada, vítima do desinteresse de uns e a imaturidade de outros. Virsi fez um filme sem dúvida merecedor de atenção. Mas não deveria ser tão ingênuo em seu epílogo. Depois de uma cena de inegável efeito dramático, o filme recorre a uma solução visivelmente artificial, que até parece uma tentativa de amenizar tudo o que antes havia sido encenado. Tal epílogo é agravado por dispensáveis letreiros informativos, que nada acrescentam ao que antes havia sido mostrado. É como se o cineasta tivesse receio de que a plateia não tivesse entendido o que ele havia proposto através de situações e imagens sobre o tema do preço de uma vida. Tal recurso pode até ser importante em filmes baseados em fatos reais. Quando se trata de ficção ele sempre será algo dispensável. No caso de Capital humano, sua utilização apenas acentua o fato de o diretor estar utilizando tal meio para fazer maior uma inconformidade que já tinha aparecidode forma bem clara durante todo o filme.
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