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Chuvas

- Publicada em 28 de Outubro de 2015 às 22:06

Abrigados no Tesourinha voltam para as ilhas

Na Ilha Grande dos Marinheiros, Defesa Civil e Exército ajudaram moradores a levar pertences para residências

Na Ilha Grande dos Marinheiros, Defesa Civil e Exército ajudaram moradores a levar pertences para residências


Fredy Vieira/JC
Grande parte dos moradores das ilhas de Porto Alegre voltou ontem para casa. Dos 230 alojados no Ginásio Tesourinha, alguns já tinham retornado na semana passada e 130 voltaram nesta terça-feira, em ônibus cedidos pela Carris. A operação foi coordenada pela Defesa Civil da Capital. Os ilhéus, pertencentes ao bairro com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais baixo da cidade, têm, agora, o desafio de reconstruir suas casas e adquirir, através de compra ou doação, móveis, eletrodomésticos e outros utensílios danificados pela água.
Grande parte dos moradores das ilhas de Porto Alegre voltou ontem para casa. Dos 230 alojados no Ginásio Tesourinha, alguns já tinham retornado na semana passada e 130 voltaram nesta terça-feira, em ônibus cedidos pela Carris. A operação foi coordenada pela Defesa Civil da Capital. Os ilhéus, pertencentes ao bairro com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais baixo da cidade, têm, agora, o desafio de reconstruir suas casas e adquirir, através de compra ou doação, móveis, eletrodomésticos e outros utensílios danificados pela água.
Ontem, pela primeira vez desde 9 de outubro, não foi registrada cheia no Guaíba na região do Cais Mauá. O nível estava em 2,01 metros, enquanto o nível de alerta é 2,10 metros. Na régua localizada na Ilha da Pintada, a altura ainda está elevada 2,42 metros, e o nível de alerta é de 1,80 metro.
O carroceiro Marco Aurélio da Cruz, de 56 anos, perdeu tudo. Morador da Ilha Grande dos Marinheiros, teve o telhado de sua casa arrancado pela força da chuva e a estrutura da moradia, toda de madeira, se contorceu com a água. "Os móveis, as roupas, nada existe mais ou estragou, ou foi levado pela correnteza. Agora, vou tentar reconstruir. Vou montar uma barraca e morar nela, enquanto reconstruo", relata.
O cavalo, ganha-pão de Cruz, morreu, junto com seus quatro cachorros. Para comprar um novo equino, será necessário juntar pelo menos R$ 2 mil. Entretanto, sem o animal, ficará mais difícil para o carroceiro, que também não terá Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para receber, como muitos moradores do bairro Arquipélago. Os recursos serão liberados pelo governo federal aos beneficiários que tiveram suas casas atingidas pela enchente.
Nativo da ilha, Cruz não quer sair de lá, apesar dos transtornos. Para tanto, construiu sua casa elevada, o que costuma impedir que a água entre. Não desta vez. "A situação está horrível. Tem muita gente voltando para as ilhas mesmo sem condições de voltar, porque, apesar de o nível do Guaíba ter baixado, ainda tem muito barro. Só de olhar para todo o estrago, a gente se desespera", lamenta.
A dona de casa Jaqueline da Silveira, de 23 anos, se abrigou com seus três filhos, de três meses, dois e cinco anos, no Ginásio Tesourinha desde o início da chuvarada. Seu marido permaneceu em casa, na Ilha Grande dos Marinheiros, para tentar preservar os objetos. "A situação está crítica. Ele tentou limpar, veio a água de novo e sujou tudo. Agora, vamos tentar de novo. No pátio, só tem lama", conta. O assoalho precisará ser arrumado, o telhado também. A família precisa de roupas, guarda-roupa, fogão, panelas e louça, pois a área da cozinha ficou totalmente destelhada.
Jaqueline e seus filhos voltaram porque, segundo a dona de casa, a prefeitura disse que os abrigados só poderiam ficar até o final da semana no Tesourinha. Depois, iriam para albergues. "Eu não quero ficar em albergue. Fico preocupada com as crianças, que podem pegar doenças nas ilhas, mas o que eu posso fazer?", questiona.
Junto com os dois filhos menores, de seis e 10 anos, a faxineira Josiane da Rosa, de 26 anos, teve a sua residência, construída na Ilha Grande dos Marinheiros com palafitas a 1,80 metro de altura, afetada pela primeira vez por enchentes. A família acompanhava, na manhã de ontem, as equipes da Defesa Civil e do Exército, que entregavam os pertences dos moradores em cada moradia. "Queremos ver o resultado do alagamento e o que poderá ser feito para arrumarmos nossa casa. Ainda não fomos lá. Saímos quando começou a chover, levando somente uma bolsa com os nossos documentos", recorda. Apenas carregando a roupa do corpo, o trio contou com doações para se manter no Tesourinha.

Porto Alegre analisa remanejar verbas para aplicar na recuperação da cidade após temporais

Devido às chuvas, a Capital calcula prejuízos de pelo menos
R$ 60 milhões no setor público. "É obviamente um ano muito difícil. Já estávamos com dificuldades para enfrentar a crise de 2015 e 2016 e, além disso, ainda teremos que reconstruir a cidade. O Comitê Gestor em Segunda Instância da cidade está analisando o remanejo de nossas verbas e a decisão de como isso ocorrerá será divulgada nos próximos dias. O cobertor é curto? Indiscutivelmente. Então, teremos que abrir mão de algumas obras para privilegiar a recuperação do município", explicou o prefeito José Fortunati, que acompanhou a preparação dos ilhéus na volta para casa, no Tesourinha.
A prefeitura pede doação de alimentos perecíveis e não perecíveis, materiais de construção e eletrodomésticos. Os donativos podem ser entregues no Departamento Municipal de Habitação (Demhab), na avenida Princesa Isabel, 1.115. "É importante mantermos as doações para podermos dar conforto para essas famílias em seu retorno. Como o poder público não pode comprar tudo isso de forma direta, dependemos muito da solidariedade da população", afirma.
Nos últimos dias, as equipes municipais fizeram uma avaliação das residências, a fim de averiguar quais podem receber as famílias de volta. Cerca de 30 pessoas ainda não puderam retornar. "Há casas que precisarão de reformas, e isso o Demhab está tratando, e outras foram completamente destruídas. Nesses casos, vamos construir no próprio local as chamadas 'casas de emergência', feitas de fibra e utilizadas pelo Demhab para abrigar temporariamente as pessoas, enquanto as casas são reconstruídas", explica Fortunati. A colocação desses alojamentos se dará de forma gradativa, sem data certa.
Conforme o prefeito, a liberação do FGTS aos afetados pela enchente está garantida pelo governo federal. "Temos o compromisso firmado e assinado pela presidente Dilma Rousseff e já pactuamos com a Caixa Econômica Federal um procedimento para a próxima semana", assegura.
Todos os moradores das ilhas serão beneficiados. Os habitantes de outras áreas que tiveram suas casas atingidas deverão se dirigir ao Centro Administrativo de sua região e solicitar a visita de uma equipe. Constatado o dano, a equipe confirma e encaminha os nomes para o banco, que faz a liberação. Só receberão os recursos aqueles que tiverem conta vinculada à Caixa e FGTS para receber. O montante máximo a ser retirado é de R$ 6.220,00.