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Chuvas

- Publicada em 15 de Outubro de 2015 às 22:38

Tempestade agrava transtornos nas ilhas

Voluntários se uniram para ajudar a organizar e distribuir as doações em abrigo na Ilha da Pintada

Voluntários se uniram para ajudar a organizar e distribuir as doações em abrigo na Ilha da Pintada


JONATHAN HECKLER/JC
Os moradores da região do arquipélago de Porto Alegre não tiveram trégua. Depois de menos de dois dias de sol, a chuva voltou, em um temporal arrasador. O nível da água seguiu o mesmo que o registrado na quarta-feira no entorno da Ilha da Pintada, cerca de 2,10 metros, mas o forte vento, a presença de raios e a queda de granizo fizeram com que árvores e postes de luz caíssem, muitas vezes em casas e carros. A energia elétrica está desativada nas ilhas desde domingo, quando a chuva intensa causou grandes alagamentos e desabrigou mais de 500 pessoas.
Os moradores da região do arquipélago de Porto Alegre não tiveram trégua. Depois de menos de dois dias de sol, a chuva voltou, em um temporal arrasador. O nível da água seguiu o mesmo que o registrado na quarta-feira no entorno da Ilha da Pintada, cerca de 2,10 metros, mas o forte vento, a presença de raios e a queda de granizo fizeram com que árvores e postes de luz caíssem, muitas vezes em casas e carros. A energia elétrica está desativada nas ilhas desde domingo, quando a chuva intensa causou grandes alagamentos e desabrigou mais de 500 pessoas.
A ilha mais afetada foi a da Pintada. Lá, o pescador Alexsandro Roberto Vasconcelos, de 36 anos, se mantém em casa, para evitar saques. "Estão roubando muitos carros e casas por aqui. Se aproveitam da situação crítica e das ruas vazias, pegam barcos e levam tudo o que tem dentro das residências em cima dos barcos", conta. A rua Martinho Poeta, onde mora Vasconcelos, está com água na altura dos joelhos. "Não podemos nem pescar, pois temos medo de sair de perto de casa. Só uma pessoa na ilha, o meu irmão, está pescando. O restante prefere proteger sua casa", diz.
A faxineira Cláudia Maciel, de 37 anos, levou no domingo suas filhas, de 10 e 18 anos, para a casa de sua irmã, em Eldorado do Sul, para garantir que elas não contraíssem doenças através da água suja do alagamento. "Passei o Dia das Crianças sem elas, mas foi necessário. Minha casa estava com água pela canela. Os móveis e eletrodomésticos, a gente recupera, mas a saúde é essencial", ressalta. Cláudia não está conseguindo ir trabalhar, até o momento, devido à falta de ônibus e ao medo de postes caídos, que podem liberar descargas elétricas.
Helio Ronaldo Cosme Cruz, de 49 anos, está trabalhando como voluntário na distribuição de kits-rancho desde domingo. "Fazemos o que podemos. Levamos almoço, leite, roupa para as pessoas. A situação piorou depois desse temporal, pois caíram árvores e postes, mas a comunidade está ajudando muito", destaca. Cruz e a esposa, Sandra, estão recebendo doações no Campo de Futebol 7 Aliança, no Centro da Ilha da Pintada. Quem quiser contribuir, pode ligar para (51) 9996.7636 e falar com o casal. A região necessita principalmente de fraldas para crianças, água, leite e alimentos não perecíveis.
A gestora do Centro Administrativo Regional (CAR) Ilhas, Patrícia Salcedo, que também teve sua casa atingida, está dormindo no abrigo da Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem. Lá, há 65 alojados. "Muitos não vão para abrigos porque temem furtos em suas casas. Por isso, temos muitas mulheres e crianças aqui, enquanto os maridos permanecem nas residências", relata.
O local já distribuiu cerca de mil kits-rancho. Aproximadamente 50 voluntários estão fazendo um trabalho diário de separação e organização das doações. O local está abarrotado de roupas.
A empregada doméstica Karine Alessandra Paim, de 29 anos, está abrigada na igreja desde segunda-feira, junto com os filhos de dois e nove anos. O marido ficou em casa, para proteger o que não estragou. "Não tem muito o que roubar, de qualquer jeito. De eletrodomésticos, só sobrou a máquina de lavar e a geladeira. As roupas, o roupeiro, os colchões, o fogão, tudo ficou debaixo d'água", lamenta. Porém, no abrigo, a família está recebendo bom tratamento. "A nenê de dois anos ficou com infecção no ouvido devido à chuvarada e foi bem-atendida aqui, que tem médicos todos os dias. Eles ganharam brinquedos, roupas. Estamos melhor servidos do que em casa", observa.

Condição atmosférica é semelhante à registrada em 1941, diz meteorologista

Apesar de terem anunciado a probabilidade de temporal, os meteorologistas ficaram surpresos com a intensidade do fenômeno que atingiu Porto Alegre. De acordo com a meteorologista Estael Sias, da MetSul Meteorologia, só é possível identificar uma instabilidade tão forte como a de quarta-feira algumas horas antes.
"Foram supercélulas de tempestade que trouxeram grande quantidade de granizo, com nuvens gigantesca. Quando vimos aquela incidência de raios, formando uma tempestade elétrica, algo bastante raro, sabíamos que presenciaríamos algo grave", explica a meteorologista.
Nesta sexta-feira, o tempo melhora, apesar de cidades do Oeste e do Sul do Estado ainda apresentarem nuvens. Na terça-feira, no entanto, há chances de novos temporais e queda de granizo.
Estael comparou as condições atmosféricas com as registradas em 1941, ano da pior enchente de Porto Alegre. "Tivemos sucessivos temporais em pouco tempo, como agora, mas, naquela época, foi em abril e maio. Agora, em outubro, não temos tanta incidência de vento sul, que afeta o volume do Guaíba." Nesta quinta-feira, o nível da régua medidora do Guaíba oscilou próximo aos 2,60 metros.