As rachaduras nas paredes na estrutura do Colégio Estadual Protásio Alves, localizado na avenida Ipiranga, em Porto Alegre, evidenciam o sucessivo descaso do Estado com prédios públicos, em especial, de escolas. No final da manhã de ontem, a direção do colégio obrigou-se a interromper as aulas devido a um estouro seguido de tremores que balançaram as paredes de três salas do andar térreo, aumentando ainda mais as fissuras já existentes.
Os estudantes foram retirados da escola, e as aulas, suspensas ontem e hoje. Os cerca de 2 mil adolescentes só retornarão ao local quando for confirmado que não há perigo de queda ou desabamento. Com o corte de gastos instituído pelo governo estadual no início do ano, as reformas emergenciais previstas em prédios de escolas foram prejudicadas.
Após os tremores, a diretoria chamou a Secretaria Estadual de Obras, Saneamento e Habitação, que enviou técnicos para realizar uma vistoria. As aulas só serão retomadas após avaliação do resultado do laudo dos peritos. Apesar de afirmar que a interdição do prédio se trata de uma medida preventiva, o secretário estadual de Educação, Vieira da Cunha, reconheceu que as medidas tomadas para sanar defeitos estruturais em prédios escolares não têm sido suficientes. "Não temos estrutura para dar resposta imediata e eficaz às demandas recorrentes. Faltam engenheiros e arquitetos que possam realizar essas vistorias", alegou.
De acordo com o secretário, existem 2,5 mil edifícios escolares em todo o Estado. Neles, estudam cerca de 1 milhão de crianças e adolescentes. Desde o começo do governo de José Ivo Sartori, aproximadamente R$ 90 milhões foram liberados para atender a obras emergenciais. "A demanda é tão grande e as necessidades tão recorrentes que mesmo esse valor significativo é insuficiente", declarou Vieira. "Não posso mandar realizar uma obra sem um projeto de avaliação técnica. Vamos propor outras medidas, além das já tomadas, para que não sigamos testemunhando situações como essa."
A retirada dos alunos ocorreu de forma tranquila e organizada. "Nem falamos a eles o que ocorreu, só informamos que as aulas terminariam mais cedo. Eles saíram aos poucos, devagarinho. Já os alunos da tarde, não deixamos entrar", relatou a diretora do colégio, Ana Maria de Souza.
Precarização de estrutura já é antiga na instituição
Os problemas estruturais na instituição não são novidade. O próprio secretário de Educação relatou que, em fevereiro, compareceu à aula inaugural, lecionada pelo governador, e viu que a sala da diretora estava inundada devido à chuva. Na época, Vieira da Cunha solicitou que fosse realizada uma intervenção. Oito meses depois, a obra, considerada emergencial, ainda não começou. "O contrato dessa obra segue em fase de elaboração. Temos de revisar os procedimentos para que sejam mais rápidos e atendam à urgência necessária. Essas obras dizem respeito à segurança de alunos e docentes", argumentou o secretário. Segundo professores, as rachaduras existem há pelo menos sete anos.