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Trabalho

- Publicada em 27 de Outubro de 2015 às 22:11

Ipea culpa Lava Jato por crise de emprego no Brasil

Estudo mostra que maior impacto ocorreu na cadeia de petróleo e gás

Estudo mostra que maior impacto ocorreu na cadeia de petróleo e gás


marcelo g. ribeiro/jc
O diretor de Estudos e Políticas Sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), André Calixtre, disse ontem que a Operação Lava Jato, da Polícia Federal, foi a origem da crise de emprego no País.
O diretor de Estudos e Políticas Sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), André Calixtre, disse ontem que a Operação Lava Jato, da Polícia Federal, foi a origem da crise de emprego no País.
"A crise do emprego começa com a desorganização da cadeia de petróleo e gás, que tem impacto muito importante sobre a construção civil. O emprego na construção civil cai 6%. É ali que começou o processo", afirmou Calixtre.
Segundo ele, a Operação Lava Jato teve assim um custo social para os brasileiros, ainda que essa não tenha sido a intenção da operação, que investiga um grande esquema de corrupção envolvendo a Petrobras, empreiteiras e políticos. "Não podemos ignorar o fato de as empresas investigadas não poderem mais operar negócios, terem acesso ao crédito e às licitações. A verdade é que a cadeia de petróleo e gás sofreu um imenso impacto", disse o diretor do Ipea.
Ele não soube precisar o impacto da operação no mercado de trabalho no País. A taxa de desemprego cresceu de 7% no primeiro semestre do ano passado para 8,1% no mesmo período deste ano, segundo dados da Pnad Contínua, do IBGE. Recentemente, a Secretaria de Política Econômica, do Ministério da Fazenda, divulgou um estudo mostrando que a redução dos investimentos da Petrobras seria responsável por 2 pontos percentuais da queda do PIB neste ano.
Oficialmente, a Secretaria de Política Econômica prevê uma queda de 2,44% do PIB em 2015. Os economistas do mercado consultados pelo boletim Focus, do Banco Central, preveem uma retração mais intensa da economia, de 3,02% do PIB neste ano. "O resto (da crise de emprego) veio depois, com a queda da atividade econômica. Houve essa confluência da consequência da Lava Jato na cadeia do setor de óleo e gás e a reversão das expectativas econômicas e do cenário externo", disse.
Calixtre participou do evento para apresentar um boletim do Ipea sobre mercado de trabalho, no Rio de janeiro. O documento divulgado pelo Ipea, órgão vinculado ao Ministério do Planejamento, conclui que os indicadores do mercado de trabalho tiveram resultado "preocupante no passado recente", como a "elevação expressiva" da taxa de desemprego medida pelo IBGE.
Segundo o estudo do Ipea, o mercado de trabalho foi afetado por um "momento delicado", com a queda no nível de atividade e inflação elevada, o aumento dos juros e o "contexto político marcado por incertezas".
Um trabalho mostra que o custo do Programa de Proteção ao Emprego do governo, que beneficiava 11.464 pessoas por volta de junho deste ano, quando a pesquisa foi feita, seria muito mais barato do que pagar seguro-desemprego aos trabalhadores. Por esse programa, uma empresa pode reduzir salários e jornada dos trabalhadores em troca de garantia no emprego. Metade da redução salarial do trabalhador é bancada pelo governo. A ideia é evitar mais demissões no País.

Trabalhadores escolarizados são os mais prejudicados

Os trabalhadores com maior escolaridade têm sido os mais atingidos pela piora no mercado de trabalho brasileiro, revelou o Ipea no Boletim Mercado de Trabalho: Conjuntura Econômica e Análise. Para quem tem Ensino Médio completo, a queda na taxa de ocupação foi de 2% medida pela Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios (Pnad), do IBGE. Menos expressivo, o recuo para o Fundamental completo foi de 1,4%; e para o Fundamental incompleto, de 1,2%. Os homens também foram mais afetados do que as mulheres, com um recuo de 1,6% contra 0,5%.
No recorte por faixa etária, os mais jovens foram os que apresentaram a maior piora nos indicadores. Em um dado por faixa etária, a taxa de ocupação caiu 3,5% para a população de 14 a 24 anos, e 0,4% para a de 25 a 59 anos. Para os idosos, houve um aumento na taxa de ocupação, de 1,4%.
Ao contrário dos últimos três anos, o segundo trimestre de 2015 não conseguiu superar a população ocupada que o País tinha no último trimestre do ano anterior. Em geral, a população ocupada cai do quarto para o primeiro trimestre, mas sobe para a um patamar maior no segundo. No segundo trimestre de 2015, a população ocupada era de 92,211 milhões, contra 92,875 milhões no quarto trimestre de 2014, o maior número registrado na série histórica da Pnad.
A pesquisa aponta que a piora dos números vem principalmente da redução das admissões e não das demissões. Outro número que teve a inversão de sua tendência de queda foi a taxa de informalidade, que subiu de 44,3% para 44,7% do primeiro para o segundo trimestre de 2015. O titular da Diretoria de Estudos e Políticas Sociais do Ipea, André Calixte, avaliou a situação como preocupante, porque o mercado de trabalho "tem sido um dos pilares da inclusão social no Brasil". "Metade da redução da desigualdade veio do mercado de trabalho", disse.