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Conjuntura

- Publicada em 18 de Outubro de 2015 às 16:52

Crise política derruba previsão do PIB

Dados brasileiros estão surpreendendo para baixo, diz Bank of America

Dados brasileiros estão surpreendendo para baixo, diz Bank of America


SAUL LOEB/AFP/JC
A crise política está acelerando a deterioração das expectativas de mercado para a atividade econômica. Se alguém tinha alguma esperança de que o terceiro trimestre pudesse mostrar números um pouco menos sombrios para a economia, indicadores já divulgados reforçam a percepção de que a recessão pode se alongar por um período maior que o previsto.
A crise política está acelerando a deterioração das expectativas de mercado para a atividade econômica. Se alguém tinha alguma esperança de que o terceiro trimestre pudesse mostrar números um pouco menos sombrios para a economia, indicadores já divulgados reforçam a percepção de que a recessão pode se alongar por um período maior que o previsto.
As dúvidas em relação à aprovação das medidas de ajuste fiscal permanecem deixando empresários e consumidores ainda mais cautelosos em relação ao País, o que já contamina as expectativas para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2016, conforme os economistas. Mas os efeitos negativos sobre a economia não se restringem apenas à seara política. Somam-se a eles os prejuízos decorrentes da perda do selo de bom pagador do Brasil pela agência de classificação de risco Standard & Poor's (S&P).
Essa conjugação é que corrobora a expectativa de que a atual recessão seja a terceira maior dos últimos 50 anos, segundo análise da GO Associados feita pelo economista Alexandre Andrade. Ele lembra o tombo de 4,25% da economia brasileira em 1962 e de 4,35% em 1990. Em virtude do desempenho da economia no terceiro trimestre deste ano, bem como das incertezas nos ambientes político e econômico, a consultoria alterou as projeções para o PIB à frente. A previsão da GO Associados para o PIB do terceiro trimestre deste ano mudou de um recuo de 1% para retração de 1,2%, na comparação com o trimestre anterior. Para o último trimestre do ano, a expectativa da consultoria foi alterada de retração de 0,7% para declínio de 1,1%. Para 2015 e 2016, as projeções - todas de queda - saíram de 2,7% para 3% e de 0,8% para 1,3%, respectivamente.
Segundo Andrade, as informações mais recentes do mercado de trabalho, do varejo e da produção industrial indicam resultados ainda mais desfavoráveis em julho e agosto do que no início do ano. Para ele, enquanto o cenário político não melhorar, a economia vai ficar "a reboque" da crise.
Após a divulgação dos dados do Banco Central (BC), o economista-chefe da Kinea Investimentos, Luis Fernando Horta, diz que elevou sua projeção de baixa do PIB do terceiro trimestre de 0,8% para 1,2% e ainda a previsão para o PIB de 2015, de declínio de 3% para 3,1%: "Mais importante, o PIB de 2016 foi revisado de queda de 0,9% para recuo de 1,1%".
Apesar de os indicadores de atividade já estarem em níveis recordes de baixa, o Bank of America (BofA) Merrill Lynch avalia que os dados estão surpreendendo para baixo, inibindo a retomada da confiança e acrescentando risco significativo para a previsão de queda de 1,4% do PIB em 2016.
Segundo o banco, a persistente baixa nos níveis de confiança, o aumento do endividamento das famílias e o aperto nas condições de crédito em meio à alta dos juros, além da deterioração mais rápida do que a esperada no mercado de trabalho, indicam que a contração deve continuar no curto prazo.
O BofA Merrill Lynch tem em seu cenário um início de retomada gradual da economia no segundo trimestre do ano que vem. "Essa recuperação pode ser mais longe", pondera, em relatório, a equipe econômica do banco. Conforme o BofA, uma retomada da atividade econômica é estritamente dependente de uma inflexão nos níveis de confiança, o que, segundo o banco, não deve ocorrer no curto prazo, dadas as incertezas políticas. "O ponto de virada continua dependente de uma solução política, que tem sido um desafio para o governo", avalia. A expectativa do BofA é de declínio de 3,3% do PIB em 2015.
Chefe do Departamento Econômico da XP Investimentos, a economista Zeina Latif avalia que o fator político é bastante deletério, mas a perda do grau de investimento aprofundou a crise: "Jamais deveriam ter deixado o Brasil perder o grau de investimento".
Zeina diz estar preocupada com a possibilidade de o Brasil enfrentar um problema de solvência, porque a falta do grau de investimento bate no setor financeiro, represa o crédito e eleva a inflação, dificultando ao BC reduzir juros. "E com juro alto não há investimento. E sem investimento não há crescimento e criação de emprego."

Perspectivas para o Brasil pioram enquanto Rússia e China estão mais estáveis, afirma BofA

As perspectivas para o Brasil ficaram mais sombrias e o País aparece como tendo uma das situações mais problemáticas entre os principais mercados emergentes, em meio a um ambiente político conturbado e obstáculos importantes para tocar o ajuste fiscal. Já o cenário para a Rússia e China está um pouco mais "construtivo". As conclusões vieram de um evento que o Bank of America Merrill Lynch (BofA) fez em Lima, às margens da reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, que terminou ontem.
China, Brasil e Rússia tiveram destaque nas discussões do evento do BoFA em Lima, que reuniu nomes como o diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central, Tony Volpon, e representantes de BCs do Chile, México, Turquia e Tailândia, além de gestores e analistas da Pimco, do UBS e do próprio BofA.
Entre os brasileiros que fizeram apresentações, estavam o economista Afonso Celso Pastore e Beny Parnes, da gestora SPX Capital. Os cenários para estes três países, porém, divergem, com o Brasil em pior posição, de acordo com relatório do banco comentando as conclusões do evento.
A economia russa está em recessão, mas em melhor situação que há alguns meses e a perspectiva ficou mais positiva, segundo os participantes do evento em Lima. Os bancos se recapitalizaram e as empresas reduziram a alavancagem. Na China, os economistas e gestores mostraram preocupação com a desaceleração do crescimento do país, que deve provocar "solavancos", mas a visão se mostrou de alguma forma "construtiva", com a percepção de que uma crise mais aguda no país asiático é "muito baixa". Além disso, a China tem elevado volume de reservas internacionais e as saídas de capital até agora foram baixas.
Para a economia brasileira, a avaliação foi diferente. "O clima sobre o Brasil foi mais sombrio na medida em que o ajuste fiscal tem obstáculos significativos à frente", afirma o relatório do BofA. "O Brasil se destaca como particularmente problemático entre as economias da América Latina, na opinião de alguns participantes do painel."
Os participantes do evento destacaram que o Brasil precisa cortar gastos públicos e que a forte recessão deste ano deve levar à queda da inflação em 2016. O investimento privado deve apresentar novas quedas e a taxa de desemprego pode subir mais. Pelo lado positivo, as contas externas têm tido melhora importante e podem ajudar na recuperação da economia mais à frente.
Um dos consensos em relação ao Brasil é que a solução para os problemas fiscais requer, primeiro, uma melhora da situação política em Brasília, que permanece complicada. Um dos palestrantes, destaca o BofA, notou que a presidente Dilma Rousseff tentou diferentes estratégias para melhorar a governabilidade, mas nenhuma até agora funcionou.
Dilma vai continuar sofrendo pressão do Congresso Nacional, incluindo a possibilidade de abertura de um processo de impeachment, destacaram os participantes. "Um palestrante observou que um processo de impeachment é mais político do que jurídico, o que torna mais difícil avaliar suas chances e resultados", destaca o BofA. O aumento da taxa de desemprego e novos escândalos de corrupção podem contribuir para aumentar as tensões sociais.
O diretor do Banco Central Tony Volpon participou de um painel para discutir as estratégias dos BCs em meio às mudanças na economia da China e a expectativa de alta dos juros nos Estados Unidos, que teve também outros representantes de BCs, incluindo o da Tailândia, da Turquia e do Chile.
Os participantes do evento em Lima concordaram que a taxa de câmbio flexível permanece como o principal instrumento de ajuste a um cenário de condições financeiras mais duras e menor fluxo de comércio. As reservas internacionais podem ser usadas para reduzir a volatilidade no câmbio, mas não para impedir o ajuste das moedas.