O mundo gira

Com a greve dos bancários, torna-se mais visível uma faceta cruel deste mundo com defeito de fabricação. O cidadão que não opera com a internet tem que fazer uma ginástica para pagar seus compromissos, na maioria das vezes com multa e juros.

Para os crédulos que achavam que desta vez o Brasil ia, um trecho dos versos de Orestes Barbosa para a música Chão de Estrelas vem a calhar para definir o momento econômico e político do País: "Minha vida era um palco iluminado/Eu vivia vestido de doirado/Palhaço das perdidas ilusões/Cheio dos guizos falsos da alegria..."

A sério: uma volta ao passado não é má ideia, especialmente para utensílios que hoje precisam de energia elétrica. Seria o caso do retorno da fabricação de geladeiras a querosene, usadas no Interior até os anos 1950, as lâmpadas Aladim, galenas para ouvir rádio sem pilhas, entre outros. Ah, e um caíque ancorado na garagem.

O Brasil vive situações tão estapafúrdias que um ex-presidente diz que o ministro Joaquim Levy, da Fazenda, tem prazo de validade e a presidente leva um tempão para dizer que o técnico está prestigiado. O que eventualmente dá no mesmo. Conseguimos criar um presidente do B.

Ele estranha, nunca viu disso. Que aumento? Do INSS, diz ela. Mas nunca vi assinar para receber aumento, estranha ele. É, mas tem que passar aqui e assinar. Imaginação livre para adivinhar qual é a sacanagem.

Aposentado recebe um telefonema de alguém que se identifica como Karen ou Carla. O chama pelo nome e diz que ele deve comparecer ao escritório na rua tal, número tal para assinar o aumento da sua aposentadoria.

Ao constatar que a água subia e ela não tinha como sair da ilha para trabalhar, uma faxineira usou o celular para avisar o patrão. Bateria sem carga. Água pela cintura, procurou uma casa que tinha gerador. O caseiro cobrou R$ 5,00 para carregá-la. Havia fila de desafortunados.

Ilha Grande dos Marinheiros, Porto Alegre. Auxiliar de portaria decidiu não ir para um abrigo para evitar saques nos poucos móveis e utensílios que restaram em sua casa. Encosta uma canoa. Entra um cara que o agride com violência. Carrega o que dá no barco e se manda. Era da ilha.

Podemos esperar uma alta considerável no preço de hortigranjeiros e de alimentos de primeira necessidade. Até o arroz promete sustos as sementes plantadas apodrecem com a chuva e quem não plantou pode perder a janela. Para ficar só nesta cultura.