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Cultura

- Publicada em 02 de Outubro de 2015 às 17:57

Eva Sopher: em casa no Theatro São Pedro

Eva Sopher celebra o Multipalco e lamenta crise econômica

Eva Sopher celebra o Multipalco e lamenta crise econômica


ANTONIO PAZ/JC
Cristiano Vieira
A tarde ligeiramente quente estava convidativa para umas fotos ao ar livre na área externa do Multipalco São Pedro. Dona Eva Sopher posava para a imagem ao lado, logo após as 14h, quando dois engravatados, que saíam de um restaurante, reconheceram a pequena alemã nascida em Frankfurt e, imediatamente, ergueram seus celulares enquanto comentavam: "acho que é a senhora que administra o São Pedro e ajudou a construir isto tudo".
A tarde ligeiramente quente estava convidativa para umas fotos ao ar livre na área externa do Multipalco São Pedro. Dona Eva Sopher posava para a imagem ao lado, logo após as 14h, quando dois engravatados, que saíam de um restaurante, reconheceram a pequena alemã nascida em Frankfurt e, imediatamente, ergueram seus celulares enquanto comentavam: "acho que é a senhora que administra o São Pedro e ajudou a construir isto tudo".
Sim, ela mesma. Aos 92 anos, dona Eva em nada lembra a figura frágil que aparenta - sua persona, popular e admirada no Rio Grande do Sul e no Brasil, mantém uma rotina fiel de trabalho e continua na luta pelo projeto Multipalco, um portento de 18 mil metros quadrados em pleno Centro de Porto Alegre, praticamente pronto.
Recentemente, o reconhecimento veio da terra natal. Eva Sopher recebeu a Medalha Goethe, dada pela Alemanha a personalidades que se destacaram de maneira especial na promoção do intercâmbio cultural internacional. Impossibilitada de viajar para receber a homenagem 24 horas de viagem, com diversas conexões, "algo impensável para alguém com mais de 90 anos", segundo ela mesma), dona Eva foi representada pela filha Renata Rubim na festa ocorrida na cidade alemã de Weimar. Em 24 de setembro, uma cerimônia ocorreu em Porto Alegre, aí sim, com a presença dela.
A homenagem é a mais recente de um ciclo iniciado na década de 1970 com o então governador Euclides Triches. Na ocasião, dona Eva recebeu a Medalha Negrinho do Pastoreio em um evento que se tornou - mesmo - inesquecível quando a distinção foi afixada no seu peito. "Meu vestido, vermelho, impediu que alguém visse a gotinha de sangue que saiu", relembra, rindo, durante a entrevista.
Já são 40 anos à frente da Fundação Theatro São Pedro. Quatro décadas? "Sim, estou no 11º governador. Comecei lá no Guazzelli", conta. Desde então, o teatro passou por uma ampla reforma, que durou nove anos e terminou em 1984, devolvendo ao prédio suas características originais. Uma de suas marcas registradas, receber o público e os artistas nas noites de estreia dos espetáculos, segue sendo feita. Ela não abre mão da postura: "faz eles se sentirem em casa", conta.
A majestosa edificação, com sua aura mítica, costuma receber os espetáculos mais importantes que chegam a Porto Alegre. Atraiu, para o Estado, o respeito de companhias de teatro e artistas nacionais e internacionais. Mantê-la não é fácil. "O que impede hoje o teatro de fechar as portas é a Associação de Amigos, cujos integrantes são fiéis e estão em dia; e a renda obtida com o estacionamento do Multipalco, além de eventuais doações", afirma dona Eva. Mas, e a bilheteria? "Nossa parte segue para o caixa único do Estado", explica.
O que hoje ajuda dona Eva a pagar as contas da fundação surgiu a partir de uma ideia bem menos ambiciosa. "Queríamos construir um anexo para abrigar o administrativo do teatro, deixando, assim, o São Pedro com apenas aquilo que ele é, um teatro", relata ela. Aos poucos, comprando um terreno aqui, um casarão ali (no total, 10 áreas foram anexadas), hoje o Multipalco São Pedro é uma realidade.
O complexo tem estacionamento, concha acústica, salas de ensaio, salas de reunião, restaurante, cafeteria, bar e um novo teatro italiano. O total investido até o momento é de R$ 35 milhões. Embora dona Eva assegure que o Multipalco esteja pronto - e está, pelo menos a maior parte, a infraestrutura -, ainda faltam acabamentos e detalhes de salas que, por suas especificidades, não são baratos - cerca de R$ 20 milhões.
Quarenta anos trabalhando nas fileiras do São Pedro permitiram a dona Eva conviver com muitos políticos e atravessar altos e baixos da economia. "Nenhum alto, sempre baixo", interrompe ela. "Nos consideramos uma família aqui, não apenas um departamento público. Somos mal pagos, sofremos cortes também. O mau momento que vivemos hoje na economia e na política é falta de vergonha na cara", dispara dona Eva. "A essa altura da minha vida eu posso falar, já vivi muita coisa", completa.
Questionada sobre críticas, ela dá de ombros e leva uma das mãos até o cotovelo, esfregando-o levemente. "Críticas não me incomodam porque gosto do que faço", avisa. E teve quem duvidasse que o Multipalco sairia do papel. "O Paulo Autran contou, uma vez, que diziam para ele: 'esquece o São Pedro, tem uma mulher maluca lá'", relembra, rindo. Mas a tenacidade está no sangue dela, que saiu da Alemanha, aos 13 anos, para escapar do terror nazista com a família. Chegou no Brasil, primeiro em São Paulo, por último, em Porto Alegre, onde permanece. Encontrou no Theatro São Pedro a razão de viver. "Aqui, me sinto em casa."
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