Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Política

- Publicada em 24 de Setembro de 2015 às 21:10

Deixar PT agora 'não passa pela cabeça', diz Jairo

'A vontade de ser candidato em 2018 pouco importa', afirma Jairo Jorge

'A vontade de ser candidato em 2018 pouco importa', afirma Jairo Jorge


ANTONIO PAZ/JC
O prefeito de Canoas, Jairo Jorge (PT), está "aborrecido" e se sentindo excluído pela direção do PT. A situação piorou desde que foi publicamente criticado, em 4 de setembro, em uma nota do PT - assinada pelo presidente estadual do PT, Ary Vanazzi, e o líder da bancada da sigla na Assembleia, Luiz Fernando Mainardi. "Houve uma posição muito dura da executiva e da bancada, o que é quase uma exclusão", interpreta. A nota rebate uma opinião favorável do prefeito aos projetos de aumento do ICMS do governo José Ivo Sartori (PMDB), classificando a manifestação de Jairo como "na contramão da posição partidária, do nosso projeto de desenvolvimento e do legado de nossos dois governos no Estado".
O prefeito de Canoas, Jairo Jorge (PT), está "aborrecido" e se sentindo excluído pela direção do PT. A situação piorou desde que foi publicamente criticado, em 4 de setembro, em uma nota do PT - assinada pelo presidente estadual do PT, Ary Vanazzi, e o líder da bancada da sigla na Assembleia, Luiz Fernando Mainardi. "Houve uma posição muito dura da executiva e da bancada, o que é quase uma exclusão", interpreta. A nota rebate uma opinião favorável do prefeito aos projetos de aumento do ICMS do governo José Ivo Sartori (PMDB), classificando a manifestação de Jairo como "na contramão da posição partidária, do nosso projeto de desenvolvimento e do legado de nossos dois governos no Estado".
Um eventual desligamento do partido ainda não é confirmado pelo prefeito. "Neste momento, isso não passa pela minha cabeça", disse, em entrevista exclusiva ao Jornal do Comércio. Jairo também afirmou que, apesar de sua amizade com integrantes de outros partidos, "nenhum convite formal foi feito" por outras siglas. No entanto, o petista avalia criticamente o PT no contexto gaúcho, por não ser "propositivo" nem em relação às políticas de Sartori, nem "dar conforto à presidenta" quanto às medidas de ajuste. Sobre uma possível candidatura sua ao governo do Estado, Jairo fala que "vai haver uma troca geracional em 2018, em todos os partidos". "A vontade individual de ser candidato pouco importa", desconversa o petista.
Jornal do Comércio - como vê o momento do PT e o que isso repercute no partido no Rio Grande do Sul?
Jairo Jorge - Vejo com muita tristeza. E eu acho que o PT atravessa uma crise profunda que, se não tivermos atitudes efetivas, ela pode ser uma crise terminal. Não que seja extinto o PT, mas ele pode ser um partido de 10% da sociedade, deixar de ser majoritário. O PT tem que se ressignificar. Eu saí muito aborrecido do congresso do PT (realizado no mês de junho em Salvador) porque mudaram para não mudar nada. Eu fui derrotado no congresso: defendi um código de transparência que sequer foi votado. E o diretório nacional não se reuniu até agora. Isso mostra uma falência de um partido e suas estruturas de direção, num momento em que ele teria de ser propositivo e reagir a esses fatos. O partido está ensimesmado, olhando apenas para a sua própria realidade. Algumas lideranças criaram um mundo virtual que não se conecta com o mundo real, que é de críticas. As pessoas estão desapontadas e desencantadas. Elas nos cobram o que foi dito na eleição e o que está sendo feito hoje.
JC - O PT gaúcho poderá influenciar o nacional?
Jairo - Esperava que o PT do Rio Grande do Sul tivesse uma atitude mais forte, mas não vejo os resultados. E eu me assusto quando, nesse debate do ICMS, recebo uma crítica do PT que diz que eu estou na contramão das orientações partidárias, do projeto de desenvolvimento do PT e na contramão do legado dos governos Olívio Dutra e Tarso Genro. Acho que essa não é a atitude de quem quer ressignificar o PT. Em vez de olharmos para o futuro, nós ficamos muito preocupados com o passado, com disputas. Esse internismo do PT do Rio Grande do Sul pode tirar esse protagonismo que ele deveria ter. Ele poderia contribuir com o PT nacional nesse momento. Mas há muitas vezes uma disputa desnecessária. Acho que nós, que governamos o Rio Grande do Sul por oito anos nos últimos 16, deveríamos ser propositivos.
JC - Na carta de Porto Alegre, o PT gaúcho fez críticas à política econômica de Dilma com mais contundência...
Jairo - Sim, mas o que coloca no lugar? Eu também gostaria que houvesse outras medidas, mas temos de dar conforto à presidenta, temos de apoiá-la para sair da crise. É muito fácil fazer um ataque à política econômica à esquerda e à direita, como a presidenta e (o ministro da Fazenda, Joaquim) Levy, estão sofrendo. O difícil é governar e buscar soluções. Agora, quem já governou e quem governa precisa ter coerência. Do Mampituba para cima pode aumentar impostos, e do Mampituba para baixo, não? Não dá para ser assim um partido que tem vocação de poder, que já governou com Olívio e Tarso. Nós temos que ter capacidade de respostas. O PT tem que ser um partido propositivo na oposição. Acho que poderia ter apresentado ao governador Sartori ideias e propostas para aperfeiçoar o projeto. Até porque no governo Olívio, nós apresentamos a ideia da matriz tributária, que tem semelhanças e diferenças com o que está sendo feito agora. Como já governamos o Rio Grande, poderíamos apresentar uma solução pactuada, porque é o que a sociedade espera de um partido que, até poucos meses atrás, governou o Estado. Infelizmente não foi essa a decisão tomada, que respeito, mas não concordo.
JC - Sente-se isolado dentro do PT?
Jairo - Eu acho que hoje há, na base do PT, muitas pessoas que pensam como eu. Mas às vezes, na direção, as pessoas não têm a ousadia de expressar publicamente o que eu expresso. Não sou uma opinião isolada. Tanto é que eu perdi por 600 votos, tive 49% dos votos na eleição dentro do partido. Eu não tive apoio de caciques, que na época apoiaram o outro candidato que hoje é presidente. E lamento... eu mesmo não tive nenhuma solidariedade contra a nota que foi emitida contra mim pela executiva, e pela bancada. Não recebi solidariedade pública, com honrosas exceções que questionaram o fato de a nota não ter sido feita por essa instância, e sim por uma pessoa só...
JC - Com isso, pretende sair do PT?
Jairo - Neste momento, isso não passa pela minha cabeça. Estou aborrecido, houve uma posição muito dura da executiva e da bancada, dizendo que estou na contramão do projeto do PT, o que é quase uma exclusão. Lamento isso e fico muito desapontado... um militante como eu que está no PT há mais de três décadas. Isso é excludente, mas não está em minha avaliação nesse momento sair do partido.
JC - Mas chegou a receber convites formais ou informais de algum partido?
Jairo - Tenho vários amigos em vários partidos, mas são só amizades. Tenho diálogo, há 17 partidos em minha coligação, isso faz parte do jogo. Mas nenhum convite formal foi feito.
JC - O senhor acha que pode conseguir vencer essa resistência, essa oposição interna?
Jairo - Acho que na base do PT sim, as pessoas que votam no PT veem as ideias, a forma de gestão, que entendem como um caminho novo para o PT. O PT não pode ter o mesmo discurso. Ele deve ter os mesmos princípios que nortearam a sua fundação, como honestidade, ética, idealismo. Mas a conjuntura é totalmente diferente, não podemos achar que o que nós fazíamos então é igual ao que estamos fazendo agora. O mundo mudou, portanto nós temos que mudar também. Mas eu acho que os eleitores têm afinidade com o que eu penso.
JC - O senhor pretende se candidatar ao governo do Estado em 2018?
Jairo - A vontade individual de ser candidato pouco importa. O que vale é o momento político, a geração... vai haver uma troca geracional em 2018 em todos os partidos. Acho que essa geração, do Sartori, Tarso, Olívio, Pedro Simon (PMDB), Alceu Collares (PDT), Yeda Crusius (PSDB), Ana Amélia (PP), essa geração está encerrando sua trajetória. Eles deram grandes contribuições à política gaúcha, mas acho que há uma nova geração que emerge, tem vários líderes novos que tem pensamentos como eu, independente de nossos partidos. Mas a gente nunca deve antecipar uma eleição antes da outra. Temos de ter foco em 2016, e trabalhar para que as administrações que têm bons resultados tenham continuidade.
JC - Mesmo com o Estado em dificuldades, o senhor gostaria de ser governador?
Jairo - Todos os gaúchos têm o sonho de liderar o seu Estado. Eu obviamente tenho o sonho de ver um Rio Grande do Sul melhor. E gostaria de contribuir para isso, ter ideias, modernizar o Estado. Existem muitos políticos hoje que teriam condições de fazer isso. Acho que temos de ter coragem, porque se as pessoas bem intencionadas, que estão dispostas a fazer as mudanças que precisam ser feitas, se essas pessoas saírem da política, cada vez mais a política será um território dos negócios ou da mediocridade.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO