Profissionais encontram, em projetos próprios, saída para instabilidade no mercado e realização pessoal

Comunicação: cresce o número de jornalistas empreendedores


Profissionais encontram, em projetos próprios, saída para instabilidade no mercado e realização pessoal

Em tempos de internet, um dos setores mais afetados pelas mudanças do mundo é a Comunicação. Não foi só a maneira de conversar que se transformou absurdamente, mas o mercado em si: as mídias impressas entraram em desequilíbrio, o vídeo ganhou muita potência, redes sociais e blogs tornaram-se protagonistas e, no meio disso tudo, profissionais e veículos tiveram de rever e renovar sua atuação.
Em tempos de internet, um dos setores mais afetados pelas mudanças do mundo é a Comunicação. Não foi só a maneira de conversar que se transformou absurdamente, mas o mercado em si: as mídias impressas entraram em desequilíbrio, o vídeo ganhou muita potência, redes sociais e blogs tornaram-se protagonistas e, no meio disso tudo, profissionais e veículos tiveram de rever e renovar sua atuação.
Junto a estas novas perspectivas - que permanecem em fase transitória -, eles encontraram suas próprias formas e brechas de se adequar e continuar operando.
Mariana Bertolucci, que trabalhou por 15 anos no jornal Zero Hora, agora está à frente da revista Bá, publicação impressa e bimestral que circula no Rio Grande do Sul. Repórter nata, é apaixonada pela rotina de redação. A linha editorial da Bá, que se baseia em contar histórias de personagens, tem muito a ver com a trajetória profissional da jornalista.
Ela cobriu comportamento, cultura e variedades, além de assinar uma coluna social diária durante cinco anos. Devido a mudanças estruturais na empresa, em 2011, ela foi deslocada para a área de eventos, na qual ficou por oito meses como executiva. Mariana, porém, gosta mesmo é de produzir conteúdo.
Após se desligar do grupo, ficou meio ano sem trabalhar e sem procurar emprego. Depois, passou por assessoria de imprensa. A ideia de editar uma revista surgiu após fazer o Empretec, curso de desenvolvimento de empreendedores do Sebrae.
"Eu pensei: o que vou fazer? Eu só sei escrever. Curto mesmo é ser repórter", considera. A Bá nasceu em março de 2013 e está na 12ª edição. Tocar um projeto autoral demandou também se envolver com coisas que não eram a sua praia: hoje, ela leva a rotina de empresária junto à de repórter e editora.
Mariana cuida da curadoria e produção do conteúdo ao planejamento estratégico da revista e conta com a parceria de outros três profissionais: um para a parte comercial, um para a diagramação e outro para as fotografias.
O projeto editorial da Bá foi pensado de forma que o texto resista à periodicidade. Dessa forma, fica garantido o potencial competitivo.
"A internet ainda não é um mercadão, não se sustenta sozinha. E temos aí inúmeros portais e blogs que estão batalhando pela mesma fatia do bolo", considera. Para ela, é importante o esforço de não ficar preso a lógicas antigas para o mercado deslanchar.
O que não faltam por aí, aliás, são informação para ser distribuída e formas de transmiti-la. "Está faltando uma girada na cabeça do jornalista em não ficar romantizando a nostalgia, em tentar acompanhar o tempo e fazer o jornalismo evoluir junto", pressupõe.

Foco no cliente

Depois de trabalhar em redações de jornais e televisões e de ter atuado em assessoria de imprensa e comunicação corporativa, Lina Colnaghi decidiu empreender. Hoje, ela dirige a CS Press, agência focada na produção de conteúdos e de projetos editoriais para empresas e para a imprensa. Entre os projetos já desenvolvidos pela CS está a revista Velô, especializada em bicicletas.
 

App: Breadsy

Os jornalistas Lizi Cordeiro e Rafael Leite criaram um aplicativo que avisa quando o pão está pronto na padaria. É o Breadsy. A novidade tem potencial para ser usada em outros países.
 

Quem Diria

Criadora do Porto Alegre Quem Diria, a jornalista Claudia Aragón destaca os empreendimentos diferentes na Capital. Ela também faz conteúdos sob encomenda.
 

Pensar o conteúdo das marcas para dialogar melhor

Juliano Rigatti é jornalista com experiência em imprensa corporativa. Durante 10 anos, foi assessor da companhia Walmart, em Porto Alegre. Convivia com temas que perpassam a realidade do varejo: desde a divulgação de projetos até o comportamento da marca em crises e media training.
Está, há sete meses, junto da Amaze Marketing de Valor. A empresa, formada por mais dois amigos jornalistas, já tinha uma trajetória sólida em Farroupilha. Sua entrada trouxe um reposicionamento à agência, que trabalha o marketing conforme as tendências de comunicação - ligadas ao propósito pessoal de cada um.
Rigatti se preparou muito para captar o que hoje o consumidor requisita: marcas que não só tenham produtos bons, mas que tenham uma postura compatível com as ideias do cliente. "As pessoas valorizam menos a posse dos produtos e mais as experiências", explica.
Na medida em que o consumidor espera de uma marca muito menos o seu produto, e sim a experiência contida nele, a integridade de posicionamento merece atenção. "A empresa precisa ter um valor que seja o valor das pessoas." Toda essa visão veio através de muito estudo e atenção aos seus próprios comportamentos cotidianos, pois Rigatti estava nos dois lados da moeda: como porta-voz de uma marca e como consumidor. "Nesta era do compartilhamento e das mudanças, a crise não é só financeira, é de valores. Uma transformação social é uma transformação de mercado", pontua.
O serviço da Amaze consiste em, primeiro, ajudar as marcas a olharem para si próprias, como um diagnóstico de comunicação para poder reconhecer as necessidades reais e condições de relacionamento que elas têm com o público. "Não é mais suficiente só falar bem de si mesmo", avalia. Para que este relacionamento funcione com efetividade, a agência também trabalha com as marcas enquanto produtoras de conteúdo. De forma complementar, coexiste entre a publicidade e a assessoria de imprensa.
Para Rigatti, a experiência de empreender também é totalmente nova em termos de rotina, pois agora é preciso desinverter a lógica do escritório corporativo - inclusive organizar o tempo para não trabalhar demais. "Quando eu comecei a trabalhar em casa, tive contato com o tempo real das coisas. Numa empresa, tudo acontece de 8h em 8h", conta.

Deu fome de empreender

Cansadas da rotina de redação, Juliana Machado Bastian, 29 anos, e Andressa Foresti, 28, colegas na Faculdade de Comunicação da Pucrs (Famecos) e no trabalho, queriam fazer algo diferente - e relacionado à comida. Pensaram até em abrir um drive-thru mexicano ou uma cafeteria. Acabaram criando uma assessoria de imprensa especializada em, obviamente, gastronomia. De um ano para cá, a Famintas cresceu 200%.
A gestação do negócio foi um período desafiador. "Todo empreendedor tem de contar com um pouquinho de sorte. Tivemos a sorte de identificar o que a gente gostava: comer", diverte-se Juliana. No início, há quatro anos, a dupla se associou a um professor da faculdade. Dois anos depois, resolveram seguir sozinhas.
"Acreditamos muito no foco digital. A gente queria fazer uma empresa mais leve, easy going", conta Juliana. A Famintas, segundo ela, foi uma das primeiras assessorias a incentivar o uso do Instagram no setor de gastronomia. A empresa, atualmente, conta com dois funcionários além das sócias. Para reduzir custos, todo mundo trabalha de casa. "Escritório era perda de dinheiro e tempo. A gente tem de visitar os clientes, não eles nos visitarem", considera Juliana.
Ela revela, ainda, que os clientes confiam tanto no trabalho da Famintas que as acionam para qualquer decisão, até as que não são da área de Comunicação. Para não ficarem reféns dos espaços na imprensa, Juliana e Andressa criaram seus próprios meios de comunicação pela internet, pela rádio (elas têm participação na programação da Itapema, através de uma parceria) e, em breve, um canal será lançado no YouTube. "Está tão difícil emplacar uma notícia na imprensa que sempre fortalecemos nossos próprios veículos", ressalta Juliana.
A jornalista acha crucial, para empreender na área, ter humildade, caráter, bom humor, boa vontade, buscar conhecimento sempre e muita paciência.
 

Conteúdo para a economia criativa

Luana Fuentefria e o sócio Thiago Couto abandonaram o jornalismo tradicional para se dedicarem ao Marketing de Conteúdo. Há um ano, criaram a Sopro Conteúdo Digital. Hoje, incubada no projeto Garagem Criativa do Tecnopuc, a empresa se reposiciona para focar no atendimento da indústria criativa.
 

As Pretas

Renata Lopes e Thais Silveira tocam As Pretas. A empresa faz produção de conteúdo voltado para negros e promove eventos. Em abril, elas trouxeram ao RS o Encrespa Geral, e, em novembro, será promovido o Afronetworking, encontro de afroempreendedores.
 

Mídia arrevistada

A República - Agência de Conteúdo é dirigida pelos jornalistas Robson Pandolfi, Ricardo Lacerda e Andreas Müller (em ordem, na foto) e tem presença frequente em revistas como Superinteressante, Voto, Amanhã e HSM Management, além de produzir conteúdos editoriais para empresas e instituições como Tramontina e MBC.
 

Escola de vendedores

Jonatas Abott, executivo da Dinamize, marca líder em e-mail marketing e social media no Brasil, encontrou nas vendas a janela para progredir, o que o fez "largar" a Comunicação. Mas existem vendas sem comunicação? Não. "A comunicação é uma escola de vendedores, na verdade." Há 10 anos, quando ele entrou na Dinamize como sócio, a empresa tinha um funcionário e 23 clientes. Hoje, ela atende 18 mil clientes, tem 54 funcionários e fatura R$ 1,5 milhão. "Os caras bons de conteúdo estão achando o seu espaço. Esse é um momento muito legal", opina.