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Teatro

- Publicada em 01 de Outubro de 2015 às 22:26

Reconhecendo a história de Eva Sopher

Na noite de 24 de setembro, um punhado de amigos e admiradores de Eva Sopher compareceu ao Instituto Goethe para assistir à cerimônia de entrega da Medalha Goethe à fundadora da Pro Arte, em Porto Alegre, e atual diretora do Theatro São Pedro. Na verdade, o evento formal ocorrera um mês antes, na cidade alemã de Weimar (símbolo da germanidade humanística, justamente graças a Goethe), onde Eva foi representada pela filha Renata, já que, em sua idade, a viagem aérea desde Porto Alegre seria bastante desgastante.
Na noite de 24 de setembro, um punhado de amigos e admiradores de Eva Sopher compareceu ao Instituto Goethe para assistir à cerimônia de entrega da Medalha Goethe à fundadora da Pro Arte, em Porto Alegre, e atual diretora do Theatro São Pedro. Na verdade, o evento formal ocorrera um mês antes, na cidade alemã de Weimar (símbolo da germanidade humanística, justamente graças a Goethe), onde Eva foi representada pela filha Renata, já que, em sua idade, a viagem aérea desde Porto Alegre seria bastante desgastante.
A cerimônia na Capital foi inteligentemente pensada: um filme documentário recuperou todos os eventos da Alemanha. Nele, talvez o momento mais tocante tenha sido a intervenção da atriz e cantora Hannah Schygulla, que, há alguns anos, esteve em Porto Alegre, apresentando-se justamente no Theatro São Pedro. Schygulla foi um nome representativo do chamado Novo Cinema Alemão. Enquanto atriz, fez parte de muitos filmes de Werner Herzog, Alexander Kluge, Wim Wenders Rainer Werner Fassbinder e outros que, depois, romperiam as fronteiras do país. Porto Alegre vivenciou esta fase intensamente, graças ao Instituto Goethe. Ao mesmo tempo, atualizou-se a homenagem, aqui, com uma manifestação da atual direção do Instituto Goethe, através de Marina Ludemann. Também foi apresentado um pequeno documentário sobre a própria Eva, o mesmo que havia sido mostrado em Weimar.
Na projeção destes filmes, fiquei a recordar minha própria convivência com Eva e seu marido, Wolf, desde nossa aproximação, por causa da Pro Arte e, mais tarde, quando ela assumiu a reconstrução do Theatro São Pedro. Mas o que vale, aqui, é que eu sou apenas um de um imenso grupo de jovens de então que, graças a Eva, podemos assistir a espetáculos internacionais. Porque Eva não apenas propiciou a vinda destes espetáculos, através da Pro Arte, quanto facilitava a entrada dos jovens, com descontos especiais, que cabiam na bolsa de simples estudantes. Quantos assim amadureceram seu gosto e descobriram seus caminhos?
Por outro lado, a perseverança de Eva na reconstrução do teatro é uma aventura épica que, embora parcialmente eu já a tenha contado, no livro Doce fera, certamente ainda tem muito a ser dito. Assim como ainda está por ser escrita a história de sua permanência à frente do mesmo teatro. Aqui, contudo, surgem preocupações: a própria Eva expressou que esta homenagem como que encerra seu ciclo vital. De fato, em sua idade, não deve ser fácil continuar à frente do projeto Multipalco. O problema, contudo, é: sem ela, como ficam as coisas? Porque os empresários que têm viabilizado sua construção confiam em Eva, não no governo, esteja ele personificado em quem seja. Portanto... torçamos para que Eva ainda queira e possa concluir este projeto.
Por fim, um registro: toda esta dedicação não fica isenta de fofocas e más-intenções. Em 2010, uma denúncia formal, ao Ministério Público, pretendia comprovar desvios de dinheiro na Fundação Theatro São Pedro. Instaurado o necessário inquérito, o mesmo se arrastou até 10 de junho do corrente ano quando, por correspondência oficial, o Ministério Público decidiu arquivar o processo, reconhecendo que "a parceria existente entre a Fundação Theatro São Pedro e a Associação de Amigos do Theatro São Pedro é benéfica para a sobrevivência de tão importante espaço cultural". Inclusive uma auditoria do TCU - Tribunal de Contas da União foi efetivada, sem que se encontrasse nenhum ilícito, nem mesmo quanto à locação de espaços do complexo cultural.
Por tudo isso, se, de um lado, é de se lamentar que tais mesquinhezas aconteçam; de outro, é de se festejar que o Ministério Público, que tem tantas coisas mais importantes com que se preocupar, ao menos tenha confirmado, oficialmente, o que todos nós, que conhecemos Eva, sabemos: sua dedicação, sua paixão e sua cuidadosa administração da coisa pública em favor do público. Mais que justa a homenagem, foi também um momento de rever amigos, por vezes distantes há anos, e, sobretudo, reavaliar o quão difícil é fazer vida cultural na cidade, mas o quanto, felizmente, encontramos de pessoas dispostas a fazê-lo.
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