Com técnicas artesanais e espírito jovem, Radical Skateboards volta a operar após hiato de 30 anos

Radical como deve ser: jovens de Porto Alegre revivem marca de skates dos anos 1970


Com técnicas artesanais e espírito jovem, Radical Skateboards volta a operar após hiato de 30 anos

A Radical Skateboards foi uma reconhecida marca de shapes de skate no Rio Grande do Sul na década de 1970. Devido à leveza e durabilidade acabou ganhando alcance nacional, justo na época em que o esporte crescia no País. Carlos Antônio Alves - o "Radical" em pessoa - começou a produzir shapes em 1978, desenvolvendo e aprimorando métodos próprios aos 16 anos de idade (!). Após 30 anos sem atividades, a marca volta a rodar, mas de uma forma diferente e cheia de significado. Hoje, a Radical ganha novo respiro através das mãos de quatro amigos de infância, Tales Vieira Sant'anna, João Corrêa, Pedro Borghetti e Mateus Franco Felippe, todos na faixa dos 20 anos de idade.
A Radical Skateboards foi uma reconhecida marca de shapes de skate no Rio Grande do Sul na década de 1970. Devido à leveza e durabilidade acabou ganhando alcance nacional, justo na época em que o esporte crescia no País. Carlos Antônio Alves - o "Radical" em pessoa - começou a produzir shapes em 1978, desenvolvendo e aprimorando métodos próprios aos 16 anos de idade (!). Após 30 anos sem atividades, a marca volta a rodar, mas de uma forma diferente e cheia de significado. Hoje, a Radical ganha novo respiro através das mãos de quatro amigos de infância, Tales Vieira Sant'anna, João Corrêa, Pedro Borghetti e Mateus Franco Felippe, todos na faixa dos 20 anos de idade.
"Eu pensava em produzir uma coisa para o cara usar pro resto da vida. Os paulistas chegavam aqui no Sul impressionados com a tábua forte que a gente fazia. Mas não tinha a intenção de comércio, não tinha nem cabeça para isso na época", relembra Carlos Antônio. Ele afirma que, justamente, essa visão não essencialmente mercadológica é o mais satisfatório de ter repassado o negócio para os guris. "Cara, eles estão atrás de uma ideia. E isso foi exatamente o que eu fiz, fui atrás de uma ideia. Me sinto muito gratificado por isso."
Aconteceu assim: os amigos, que além de estudantes universitários são skatistas, estavam juntando dinheiro para comprar um Fusca e tentar fazer uma viagem para o Conesul desde o fim do ano passado. A Radical encerrou as atividades em 1980 e, dois anos depois, Carlos Antônio largou também o skate. Após três décadas sem andar nem produzir, em 2012 Radical reativou as prensas por um curto período. No início deste ano, ele decidiu se desfazer de tudo e postou um anúncio no Facebook, que chegou até Pedro - ambos já se conheciam do rolê do skate. Foi quando Tales, João, Pedro e Mateus piraram na ideia de fazerem seus próprios shapes. E o dinheiro do Fusca ganhou outro destino.
"Vocês querem mesmo fazer shape? Vão fazer direitinho?", perguntou Radical. Com a resposta afirmativa,ele então propôs repassar não só as prensas, como toda a marca. "Passar o conhecimento e a história para mim é tudo, isso é que é valorizar", expõe. Ele ainda passou uma semana ensinando sua técnica para os novos empreendedores. "Quando a coisa começou, eu só sabia dizer que loucura!", expõe Pedro.
A etapa de tentativa, experimento e erro vivida por Radical no passado foi essencial para abrir os caminhos para os guris. Toda vez que eles têm alguma incerteza no processo, recorrem ao veterano. "Qualquer dúvida, a gente liga e ele nos dá uma aula", aponta Tales. "Ele tem essa coisa de mestre e de artesão, de passar o conhecimento adiante", complementa João. Hoje, o Radical mantém uma oficina de motos em Lagoa Vermelha, onde mora. "O legal é que eles se interessaram em produzir pela escola antiga", acrescenta.

Oficina improvisada funciona em companhia de dança

Com a negociação concluída, em fevereiro, uma pequena oficina improvisada foi montada numa sala cedida pela mãe de Pedro, na Cadica Cia de Dança, para os meninos produzirem os shapes. Depois de um mês, eles já estavam testando os modelos próprios. A nova Radical Skateboards tem sete meses de atividade.
Os quatro rapazes realizam todo o processo de forma artesanal, desde selecionar as melhores partes da madeira, lixar, colar, fazer a serigrafia e a prensa. A maioria dos equipamentos é de marcenaria caseira, e eles mesmos fizeram a ferramenta para furação dos shapes. Tudo tem uma história: as telas de serigrafia que estampam a tábua foram encontradas no sótão da casa de tios de João, oriundas também dos anos 1970. Os desenhos têm toda a cara das estampas atuais revisitadas, mas são legítimas.
Com o tempo, os guris otimizaram o processo ensinado por Carlos, desenvolveram sete modelos e criaram padrões - hoje conseguem fazer três shapes iguais e ainda assim artesanais. Eles produzem 18 shapes por vez, processo que leva duas semanas. O valor das pranchas para o consumidor vai de R$ 90,00 a R$ 175,00 (veja no quadro as opções). O preço varia para montar um skate completo, já que os meninos ainda não arranjam as demais peças a um preço tão viável. Antes de abrir uma empresa conjunta, o plano é adquirir um registro de Micro Empreendedor Individual (MEI), para facilitar na compra de materiais com CNPJ e emissão de nota fiscal.
O fato de trabalhar na base do Do It Yourself também possibilita que eles controlem melhor os gastos - e com mais liberdade. Mas não é só isso."Aqui a gente tem a opção de fazer o skate mais estreito se o cliente precisa, tem coisas que conseguimos adaptar conforme a necessidade", aponta Mateus. A Radical Skateboards se propôs a fazer uma linha mais oldschool. O modelo é raro no mercado e costuma ser bastante caro importar.
O reinício da Radical trouxe também uma noção ampliada de responsabilidade. A largada tem sido bastante equilibrada, de modo que a produção permaneça se custeando. Há pouquíssimo estoque e não há divulgação desenfreada - para que consigam produzir e vender de forma mais instantânea, garantida e personalizada. A qualidade, segundo Carlos Antônio, se mantém.

Complicadores (nem tanto)

Um dos limitadores tem sido o espaço. Hoje, o grupo precisa desmontar uma parte da sala e montar outra para poder realizar as etapas de produção.
A madeira foi adquirida de uma laminadora desativada do município de Casca, que iria se desfazer de duas toneladas de Sumauma. O dinheiro do frete foi patrocinado pelo pai de Pedro?, o músico Renato Borghetti, que cobrou como contrapartida ganhar o primeiro skate feito por eles.
Quando a carga chegou em frente à Cadica, o motorista do caminhão perguntou a João? e Pedro? "onde estava a empilhadeira" para retirar todo o volume. A dupla não imaginou que fosse tanto.
Resultado: passaram a madrugada inteira descarregando o caminhão. Segundo um cálculo deles, ainda há madeira disponível para cinco anos de produção. Radical opina que isso pode ser um fator complicador no futuro, quando o estoque acabar, por questões de preço e qualidade.

Modelos produzidos pelo quarteto

Para ver a galera "oldschool" - ou seja, os skatistas das antigas - na pista, há sessões toda quinta-feira à noite no Banx (alameda Major Francisco Barcelos, 127, bairro Boa Vista), chamadas de Quinta Clássica, e aos sábados de manhã, no parque Marinha do Brasil

Longs: Castor (surfdance, base larga) e Columbian (surfstyle, rabeta robusta e entre eixos grande)
Oldschool: Toni, modelo mais oldschool de bar larga e sem nose; Bariri, o modelo cruiser inspirado nas pranchas de surf, ambos na prensa de concave mais sutil ou oldschool
E na prensa performance de concave mais acentuado os modelos Diet, o street de formato convencional, o Lucy, com as extremidades facetadas quase lembrando um caixão e o Falante, um modelo oldschool mas com todos os artifícios de um skate moderno
 

Para ver a galera oldschool na pista

Para ver a galera oldschool na pista, há sessões toda quinta-feira à noite no Banx (quinta clássica) e aos sábado de manhã no Parque Marinha do Brasil.