O GeraçãoE foi atrás de pessoas que deixam a paixão pelo que fazem transbordar por seus trabalhos. Uma característica que pode definir o sucesso e derrubar a concorrência

Identificação e amor ao produto fazem toda a diferença na hora de empreender

O GeraçãoE foi atrás de pessoas que deixam a paixão pelo que fazem transbordar por seus trabalhos. Uma característica que pode definir o sucesso e derrubar a concorrência

Lucilene Athaide
Lucilene Athaide
Cada um pode vender o produto ou serviço que quiser. Um detalhe, no entanto, faz toda a diferença ? como se fosse a cereja do bolo ? para o sucesso do negócio: a identificação e a paixão pelo segmento de atuação.
Um exemplo dessa premissa mora em Porto Alegre. Claudia Renata Pereira de Campos, 35 anos, é microempresária, gestora da Clau Acessórios e Vestuário. Ela confecciona e vende turbantes e acessórios ligados à moda étnica. Antes de se tornar empresária, já era consumidora desses itens. Antes de ser consumidora, era fã do assunto.
Os turbantes, que tanto encantam Claudia por sua história e relação cultural, hoje podem ser encontrados em grandes redes do varejo. Como concorrer? A relação com a causa tem sido a chave.
"O negro quer se ver, e o turbante é um passo para isso. O que não pode acontecer é tirar o negro do protagonismo desta história. O turbante é símbolo de luta da mulher negra, mas isso não impede que mulheres de outas etnias utilizem o mesmo acessório", diz.
Além de desenhar, Claudia, que é mestre em História e graduada em Moda, busca referências em livros e pesquisa os temas para serem usados em seus trabalhos. A primeira coleção de turbantes foi inspirada em elementos do grafite e da cultura de rua, e já vendeu 35 dos 40 confeccionados. A unidade custa, em média, R$ 40,00.
A ideia de investir na Clau Acessórios e Vestuário surgiu no ano passado, e o atelier funciona em um cômodo de sua casa. A empreendedora pretende ter a própria loja e expandir seus negócios pela internet.
Claudia é quem cria os desenhos que posteriormente vão colorir e fazer a cabeça das mulheres pelas ruas. A técnica usada é chamada de Design de Superfície.
Se hoje Claudia já está conhecida no mercado gaúcho, o início não foi fácil. Desempregada, precisou comprometer o orçamento familiar para fazer a primeira leva de turbantes. A mudança de carreira foi um período desafiador, mas, mais uma vez, o coração falou mais alto. "Precisei de muita coragem para abandonar um caminho que estava praticamente trilhado e investir na área da moda."

Apaixonada pelos doces franceses

Assim como Claudia e Vitória, foi justamente a identificação que impulsionou Luísa de Oliveira Jungblut, 25 anos, a abrir a Ló Patisserie e Chocolaterie - ou simplesmente Ló - neste ano, na rua Vasco da Gama, na Capital. O empreendimento tem inspiração francesa.
Apaixonada pela culinária parisiense, a jovem aposta em um estilo próprio de cozinhar e planeja se tornar referência no segmento em breve. Luísa sempre gostou de gastronomia, e foi por isso que, após cursar dois anos de Geologia, resolveu investir no curso de Cozinheiro Básico, do Senac.
Ainda insatisfeita com a sua formação e cada dia com mais vontade de pôr a mão na massa, Luísa embarcou, em 2012, para a França a fim de aprender a arte da gastronomia em uma das mais renomadas escolas de culinária do mundo: a Le Cordon Bleu Paris. Quando retornou ao Brasil, tomou a decisão de abrir o seu negócio no ramo.
"Eu queria ter a minha patisserie para colocar em prática o que aprendi na França como empresária. Sempre sonhei que meu empreendimento fosse algo especial", conta.
Luísa lembra que não foi fácil abrir a Ló. Em 2013, quando iniciou o plano de negócio, percebeu que seu empenho seria grande, principalmente no que se referia a investimento financeiro.
A proposta era ter um empreendimento de alta qualidade e diferenciado no mercado da capital gaúcha. Para colocar a ideia em prática, contou com a ajuda financeira da família.
"Eu tinha um sonho e precisei muito de ajuda. Vi que só amar a gastronomia não bastava e precisei me tornar empreendedora", recorda. "Minha família teve um certo receio no início, pois o orçamento foi grande. Mas hoje todo mundo me apoia e acredita em meu sucesso." Luísa sabe, no entanto, que o retorno financeiro não será imediato.
Contando com quatro funcionários, um de seus maiores desafios é treinar pessoas para compor a equipe.
"A minha proposta é realmente trabalhar com quem, assim como eu, se identifica com o estabelecimento. É importante que as pessoas entendam em que mercado estão atuando para prestar um excelente serviço."
A estudante de Administração de Empresas planeja, ainda, expandir a Ló por outros bairros da cidade. "Não basta ter um sonho, é preciso sempre aprimorar e ir em busca de meios para realizá-lo. Sei que ainda estou só no início", expõe ela.

Não é apenas um brechó, masum estilo de vida

Acreditar que um mundo melhor é possível e fazer disso profissão. Esta foi a ideia de Vitória Ruschel da Silva, 23 anos, quando criou o brechó Vuelta al Mundo, há cerca de dois anos, cuja sede fica no Centro Cultural Vila Flores, na Capital. A jovem, formada em Moda, busca construir meios de aliar inovação e criatividade sem agredir o ambiente.
Sobre apostar no que se ama, ela tem uma opinião bem formada. "Eu acho que a questão é não abrir mão das convicções. Se tu tens uma ideia, amor por alguma coisa, ela pode dar certo. Tudo é uma questão de realmente se doar para aquilo, depositar energia no que se acredita."
O brechó de Vitória começou em casa. Sempre atenta a itens de moda retrô e inspirada pela mãe, consumidora ativa de brechós, Vitória queria mais do que comercializar roupas. O interesse pelo lado social surgiu quando ela ainda cursava Ciências Sociais. "Vi que as roupas eram apenas a ponta de uma cadeia de sustentabilidade que poderia ser criada através do consumo consciente", considera. Após migrar totalmente para a área de Moda, a jovem passou a transformar roupas usadas e revendê-las.
Seu objetivo tornou-se estimular a reutilização dos tecidos levando em conta a economia de bens naturais utilizados na fabricação. "Quando compramos roupas em uma grande loja de departamento, estamos estimulando a produção de mais artigos semelhantes. Muitas vezes, as peças não são fabricadas de um modo socialmente correto."
O Projeto Vuelta al Mundo faz jus ao nome. A idealizadora já viajou por diversos países "garimpando" e expondo peças usadas. Muitas roupas que ela comercializa vieram da Argentina e Uruguai.
Vitória se diz realizada com o trabalho. Para ela, o melhor de sua empresa é poder espalhar a consciência de que pequenas atitudes podem colaborar com melhorias na sociedade. "Não estamos falando apenas de um brechó, mas de um estilo de vida e de busca por sustentabilidade em tudo o que for possível", salienta.